IX Intereclesial
CEBs: Vida e Esperança nas Massas
São Luís, MA - 1997


Cartilha


O MOVIMENTO POPULAR,
CEBs E MASSA

Pe. José Vale dos Santos
Secretário Executivo do Nono Intereclesial
Pároco de Urbano Santos


Lá vem o Trem das CEBs!
Com quem e para onde ele vai?
Sozinho, não sei. Vamos descobrir juntos.


"Minha vida é andar por este País, pra ver se um dia me sinto feliz". Assim é a vida das CEBs. Tem muita gente, de todo Brasil, da América Latina e do mundo inteiro, que está se preparando para viajar ao Maranhão. Nós de casa não podemos ficar de fora deste processo de preparação. Precisamos conhecer o conteúdo do tema do 9° Intereclesial. Nesse sentido o trem das CEBs está fazendo a sua viagem. Hoje vamos parar na estação do movimento popular e no seu relacionamento com as CEBs e as Massas. Temos em comum o ponto de partida e de chegada, que são as massas de indivíduos empobrecidos, oprimidos e excluídos da sociedade capitalista. Nosso objetivo é somar forças junto com o movimento popular e sindical, junto com partidos e com outras organizações da sociedade civil que pretendem mudar esta situação.


1. A massa de indivíduos: um produto do sistema capitalista.

A história mostra que nas antigas civilizações houve momentos de mobilização de muitas pessoas. Com a implantação do sistema capitalista, no entanto, aparecem as grandes massas de indivíduos. Nesse sistema, a população anda muito preocupada com a sua saúde, com a educação, o transporte, a moradia, o lazer, etc. O capital entrega esta população ao seu próprio destino, a deixa de lado. Acima de tudo ele coloca o dinheiro. Diz que o dinheiro é a mola mestre do mundo. Sem ele ninguém pode fazer nada. Tudo que é produzido tem um só objetivo: o lucro. O modo como ele é conseguido, não importa. Mesmo que seja a custa da exploração dos trabalhadores, da venda barata da sua mão-de-obra e do seu sofrimento, nada poderá impedir que o capital cresça e se multiplique.

Tudo é permitido para fazer essa concentração da riqueza acontecer. Os meios de produzir, terra, fábrica, maquinarias, ficam nas mãos dos que têm dinheiro. Hoje, quem mais está enriquecendo, são os banqueiros e aqueles que detêm o "capital financeiro". O trabalho, a principal fonte de riqueza da humanidade, fica em segundo plano. O capital instituiu uma relação desigual com o trabalho e cria uma situação de exclusão social, política, econômica e cultural.

Os camponeses são expulsos da terra. Os operários ficam fora do mercado de trabalho. A técnica e as máquinas ocupam o lugar do homem nos modernos processos de produção. Por isso, muitas pessoas ficam sem emprego. Não ganham salários e não detêm capacitação técnica profissional para competir no mercado. E assim a maioria das pessoas fica também excluída do mercado de consumo. Não tem produtos para vender e não dispõe de dinheiro para comprar. Cresce, assustadoramente, a pobreza da população. Já é conhecido por uma boa parte de pessoas, que o sistema capitalista tem eliminado muitas vidas humanas, pela miséria, pela defesa da propriedade privada e pelas guerras. Não dá para continuar com este sistema de morte. Para lutar contra este dragão o movimento popular, as Igrejas e todas as organizações do povo têm um grande papel a desempenhar.


2. O Movimento Popular e o seu papel junto às massas.

"Sozinho não sou ninguém"! O projeto popular não pode ser concretizado enquanto as organizações do povo estão dispersas, isoladas e sem unidade de orientação. Também não se deve deixar de lado a maioria da população no estado de massificação. Isto facilita a manipulação e o seu uso como objeto de manobra. Os meios de comunicação social, rádio, televisão, revistas, jornais, têm recursos e sabem usá-los para fazer a cabeça das pessoas. Deixam o povo alienado, sem informações ou com informações falsas.

Quando a população está organizada, consciente, portadora de um projeto de sociedade, é mais difícil ser enganada. Então é esse o trabalho que precisa ser feito. A sociedade nova não cai prontinha do céu. O movimento popular e as CEBs, bem como tantas outras organizações, devem andar juntos no desempenho desta missão. É importante que reine o espírito de solidariedade, de inter-ajuda, de comunhão e de parceria. Assim vai acontecendo o processo de implantação do projeto democrático e popular da sociedade, onde todas as pessoas são acolhidas. Essa tarefa é feita pelo povo organizado e pelos muitos "sujeitos sociais". Os principais atores são sem dúvida o movimento popular, o movimento sindical, os partidos políticos, as igrejas, entidades e muitas organizações não governamentais. Às vezes recebem um apoio importante de pensadores e intelectuais. Cada um desses sujeitos tem um espaço próprio a ocupar e tarefas específicas a desempenhar, dentro de "uma unidade de orientação de fins e de ação conjunta".


3. O relacionamento do Movimento Popular com as CEBs.

"As CEBs não existem em função de si mesmas, mas a serviço do Reino da vida". Elas e o movimento popular em comparação às imensas massas populares são minorias. Nem as CEBs, nem o movimento popular existem em função de si mesmo. São organizações da base, que com o fermento da organização e da conscientização pretendem atingir o coração das massas e o seu potencial de vida. Pretendem dinamizar as expressões criativas do povo. Levam a ações, lutas, sentimentos, solidariedade, que garantam a realização de um sonho de felicidade através da vida cotidiana. Curtem o prazer dos batuques, das danças e das festas. Encontram força nas rezas, cultos e celebrações. Não dá para trabalhar o processo de organização e conscientização da população massificada, sem levar em conta esses pontos e tantos outros.

As CEBs são uma nova forma de ser Igreja. Elas são constituídas como pequenas comunidades espalhadas nos povoados, nas periferias e nos bairros das cidades. Não podem ter a pretensão de trazer para dentro de si o movimento popular, nem o movimento sindical, nem os partidos políticos, nem as outras Igrejas. Elas devem ser parceiras junto a todos os movimentos e organizações. Não podem deixar de lado seu papel próprio de formar e animar os seus membros. Estes precisam ser constantemente confirmados na fé, na esperança, na luta pela vida. As CEBs têm por tarefa motivar os seus membros e os pobres em geral para o engajamento. Pode-se avaliar uma comunidade a partir do desempenho de seus membros nas situações difíceis que o povo enfrenta. Uma boa comunidade procura ser eficiente e agir por dentro do movimento popular. Ela apresenta a sua contribuição no processo de transformação da realidade da sociedade e do mundo de hoje.


Questões para aprofundamento:

  1. Na sua região como você avalia a atuação do movimento popular, do movimento sindical, dos partidos políticos e das CEBs?

  2. Quais ações já foram realizadas em conjunto?

  3. Quais os seus vínculos de ligação com as massas?

  4. Que ações precisam ser desenvolvidas para o fortalecimento do movimento popular e das CEBs em vista da mudança do sistema capitalista?

  5. O que fazer para mudar o processo de massificação da população nestes tempos modernos?


Sumário



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Colaboração: Missionários Combonianos, Salvador, BA