Conselho Mundial
de Igrejas
Conferência Mundial sobre
Missão e Evangelização


PRESS RELEASE No. 7
27 de novembro de 1996

POVOS INDIGENAS LANCAM MANIFESTO E PEDEM
RESPEITO A SUA IDENTIDADE



Um apelo dirigido a sociedade internacional e as igrejas, em favor do
reconhecimento de sua identidade e de seus direitos,foi feito hoje,
em Salvador(BA), pelos representantes das comunidades negras e
indigenas que participam da Conferencia Mundial sobre Missao e
Evangelizacao que o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) esta promovendo
no Hotel Othon Palace, com a participacao de 638 representantes de 71
paises, onde atuam as 330 igrejas filiadas ao Conselho. 

"Fazemos um apelo ao mundo - diz o manifesto - para que reconheca
nossa existencia como povos indigenas, afrolatino e afrocaribenho,
que estamos ameacados pela violacao continua de nossos direitos
hereditarios, de nossas culturas e terras ancestrais."

Acrescenta que "apesar de seculos de genocidio e etnocidio",
sobrevivem e reclamam "o direito de caminhar em harmonia com nossa
Mae Terra, cuidando do equilibrio de toda a criacao". Afirma, a
seguir, sua solidariedade pela recuperacao da dignidade e livre
determinacao, assim como pela terra.

As Igrejas, o manifesto dos 27 povos indigenas presentes em Salvador
pede que escutem "as historias dos povos indigenas do mundo, dos
afrolatinos e dos caribenhos". Denuncia o "papel negativo" da
cristianizacao durante o periodo colonial, excluindo as
espiritualidades indigenas e nao reconhecendo, nesses povos, "a
presenca do Criador/Criadora". 

O manifesto faz, de certa forma, uma distincao entre o Evangelho,
definido como "uma fonte de inspiracao no processo de reclamar nossa
dignidade e a existencia de nossas proprias culturas" e a igreja,
vista como "uma forca destrutiva, que continua ate agora". 


Oito propostas sao feitas a sociedade e as igrejas, no final do
documento. Incluem a solidariedade com esses povos "sem distincao de
fe ou tradicoes e caminhando com respeito"; o reexame da "atitude de
absolutismo, verticalismo e intolerancia, reconstruindo as
espiritualidades e teologias da Igreja, eliminando toda expressao do
cristianismo que pratica a agressao contra nossas espiritualidades".

Propoe tambem que esses povos participem da estrutura e do processo
de decisao nas igrejas e que os indigenas, afrolatinos e
afroamericanos tenham papel decisivo no ensino da teologia autoctone
nas instituicoes educativas eclesiasticas. No plano socio-politico, o
documento propoe o apoio as demandas por justica social, sobretudo
pelo direito a terra e pela autodeterminacao. 

O apelo sugere, ainda, que o CMI estabeleca um Programa Permanente de
Povos Indigenas e divulgue os resultados dessa consulta, de forma
ampla. 

Os participantes da sessao de lancamento do manifesto indigena -
redigido numa reuniao sobre espiritualidade dos povos aborigenes,
tambem realizada em Salvador, de 21 a 23 passados - apresentaram
depoimentos e testemunhos sobre aspectos da realidade em que vivem.
Uma mulher Nahuac, do Mexico, falou da tradicao religiosa de sua
comunidade, em que Deus e representado com aspectos masculino e
feminino. Fez referencia ao movimento zapatista da regiao de Chiapas
e afirmou que os indigenas mexicanos lutam para que sua participacao
e cidadania sejam garantidas.

Um aborigene australiano apresentou, ao som de musica, uma
dramatizacao sobre a realidade dos povos autoctones da Australia. Foi
seguido por um africano da comunidade Ogoni, da Nigeria, que teve
varios de seus lideres condenados a morte e executados, recentemente,
pelo regime militar desse pais, por se oporem a exploracao
petrolifera feita, em seu territorio, por empresas transnacionais. A
sessao de lancamento foi concluida com a apresentacao de musicas
indianas, por delegados do Peru e da Bolivia.





O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas, atualmente
330, presentes em mais de 100 países de todos os continentes, a
maioria das quais pertencentes às tradições cristãs. A Igreja
Católica Romana mantém laços de cooperação com o CMI, embora não seja
uma das igrejas membros. O principal organismo de direção do CMI é a
Assembléia Geral, que se reúne aproximadamente a cada sete anos. O
CMI foi constituído oficialmente em 1948, en Amsterdam (Holanda). O
Secretário Geral do Conselho é o pastor Konrad Raiser, da Igreja
Evangelica de Alemanha.

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