Conselho Mundial
de Igrejas
Conferência Mundial sobre
Missão e Evangelização


PRESS RELEASE No. 21
03 de dezembro de 1996

MENSAGEM FINAL DA CONFERENCIA DE SALVADOR MANIFESTA
PREOCUPACAO DAS IGREJAS COM LUZES E SOMBRAS
DO FINAL DO SECULO 20



A preocupacao das Igrejas Cristas de todo o mundo com as luzes e
sombras deste final de seculo, a apenas tres anos e alguns dias do
inicio do terceiro milenio, e a tonica basica da mensagem final da
Conferencia de Salvador, aprovada hoje a tarde, no plenario do Hotel
Othon Palace, na ultima sessao de trabalho da Conferencia Mundial
sobre Missao e Evangelizacao.

Durante 11 dias, desde 23 de novembro passado, a Conferencia reuniu
aproximadamente 600 delegados das 330 igrejas membros do Conselho
Mundial de Igrejas (CMI), fundado em 1948,com sede em Genebra, Suica.
O tema central dos debates foi "Chamados a uma so esperanca. O
Evangelho nas diferentes culturas".

Debatida minuciosamente pelos participantes, a mensagem final e
aberta com a constatacao de que se realizou, na Bahia, "em um momento
muito importante da historia: o final de um seculo e o umbral de um
novo milenio". Lembra, a seguir, que, apos a Conferencia de
Edimburgo, em 1910 (que inaugurou o ecumenismo moderno), "o mundo ja
estava mergulhado na guerra e, desde entao, foi testemunha de
matancas, deportacoes em massa, outra guerra mundial, novas formas de
colonialismo, a ameaca nuclear sobre a vida, a destruicao dos
ecossistemas por culpa da avidez humana, o crescimento e a queda do
bloco sovietico, lutas etnicas violentas e separatistas e um
capitalismo desenfreado que tornou cada vez maior a distancia que
separa os ricos dos pobres".

Com base na afirmacao de que "a principal vocacao da Igreja e a de
dar continuidade a missao de Deus no seu mundo, pela graca e bondade
de Jesus Cristo", a mensagem diz, depois, que a missao eclesial "nao
conhece fronteiras, pois inclui todos os aspectos da vida em um mundo
em rapida transformacao, com multiplas culturas, cuja interacao e
superposicao sao, agora, maiores que nunca".

Em Salvador, diz a mensagem, a Conferencia procurou compreender
melhor "a forma em que o Evangelho questiona as culturas humanas e
como a cultura pode ajudar-nos a entender o Evangelho". Destaca ser
dificil "pensar em um lugar mais adequado" para a Conferencia por ser
o Brasil "o segundo pais com maior populacao de origem africana" e
Salvador "um microcosmo da diversidade mundial de culturas e
espiritualidades". Contudo, na capital baiana, o CMI e a Conferencia
afirmam, na mensagem, terem tomado "consciencia da dor e da
fragmentacao que resultam do racismo e da falta de respeito por
outras religioes e que ainda persistem em certos setores das igrejas
cristas".

Entre as experiencias da Conferencia de Salvador, consideradas como
"alimento" da esperanca das Igrejas, a mensagem destaca a grande
diversidade de povos e igrejas representados; o "autentico empenho"
no conhecimento e na partilha da vida e do saber de outras culturas;
o entusiasmo de  uma vivencia comunitaria participativa; a vontade
das igrejas e das organizacoes missionarias de reconhecerem "os
fracassos do passado" e de rejeitarem os estereotipos, ao lado da
vontade de realizarem um trabalho em conjunto.

O culto ecumenico realizado no Solar do Unhao, uma antiga senzala de
Salvador, durante a Conferencia, foi outra experiencia marcante, como
sinal de "arrependimento" pela colaboracao da Igreja e os cristaos no
escravagismo. Sao tambem destacadas as experiencias dos cultos
diarios e da participacao, ainda que breve, na "vida de um continente
e de um povo com uma rica historia cultural e uma espiritualidade
diversificada" e cujas igrejas "estao respondendo aos desafios da
mudanca social e da pobreza".

A mensagem diz, a seguir, que a Conferencia destacou a conviccao das
igrejas de que "o Evangelho, para dar frutos em abundancia, deve ser
fiel a si mesmo e estar encarnado ou enraizado na cultura de um
povo". Nesse sentido, afirma que as igrejas ouviram, em Salvador, o
clamor dos povos indigenas ameacados de exterminio, mas com
capacidade de resistencia; dos cristaos do Pacifico,que buscam
reciprocidade no Ocidente; "a colera" dos africanos, afrocaribenhos,
afrolatinos e afroestadunidenses de origem africana "diante do horror
da escravidao e diante da apresentacao desvirtuada da fe"; a voz das
mulheres de todo o mundo "que desejam participar verdadeiramente na
igreja e na sociedade; testemunhos sobre o localismo crescente das
igrejas norte-americanas que, mesmo fortalecendo a missao em seu
contexto, "pode leva-las ao isolamento das realidades mundiais".

Diz que os participantes aprenderam, com os latino-americanos, o
sentido de uma teologia que busca criar comunidades populares; e
tambem com a experiencia dos cristaos asiaticos em sociedades
plurireligiosas, "as vezes como grupos vulneraveis e ameacados". Os
relatos sobre os desastres e doencas na Africa comoveram os
participantes, tambem impressionados com a forca das mulheres
africanas, diante da dor de seu povo.

A mensagem manifesta "admiracao" diante do compromisso das igrejas
ortodoxas e outras igrejas locais da ex-URSS e da Europa Oriental,
"no novo clima de liberdade religiosa". Registra tambem o protesto
ortodoxo contra o proselitismo realizado por igrejas ocidentais
aproveitando o espaco pos-regime sovietico. A Conferencia declara-se,
igualmente, comovida diante das experiencias dos cristaos do Oriente
Medio "que tem o privilegio e a dor de viver numa "terra santa"
dividida pela injustica" e diante da maneira como os textos biblicos
sao mal interpretados, "enfraquecendo sua cultura". E feita, depois,
uma referencia a cautela dos cristaos alemaes que advertiram a
Conferencia sobre "o perigo de estar demasiadamente expostos a
reconhecer o espirito de Deus em todas as culturas humanas, por causa
das tristes lembrancas de uma epoca anterior em que as igrejas
correram o risco de ficarem prisioneiras da ideologia nazista". 

Na parte final das experiencias vividas em Salvador, a mensagem
assinala a preocupacao de muitos participantes diante da "maneira
como o mundo enfrenta uma economia de livre mercado que parece
exercer umpoder soberano, inclusive sobre governos fortes" e de como
o mundo "tambem esta exposto a um livre mercado dos meios de
comunicacao, cujas imagens e mensagens de todo tipo influem na
comunidade e na fe, prejudicando-as". 

Como reacao a tudo isto, diz a mensagem que estao surgindo, em todas
as religioes do mundo, novos fundamentalismos que se somam "as
divisoes de um mundo ja fraturado". 

Sobre as igrejas, a mensagem diz que devem ter consciencia, ao mesmo
tempo, sobre "o seu carater distinto da cultura em que esta inserida"
e sobre "seu compromisso com essa mesma cultura".  






O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas, atualmente
330, presentes em mais de 100 países de todos os continentes, a
maioria das quais pertencentes às tradições cristãs. A Igreja
Católica Romana mantém laços de cooperação com o CMI, embora não seja
uma das igrejas membros. O principal organismo de direção do CMI é a
Assembléia Geral, que se reúne aproximadamente a cada sete anos. O
CMI foi constituído oficialmente em 1948, en Amsterdam (Holanda). O
Secretário Geral do Conselho é o pastor Konrad Raiser, da Igreja
Evangelica de Alemanha.

Fique ligado Índice Home Page Zumbi