Comentando fatos Nestes dias os jornais escrevem muito sobre o julgamento e condenação do líder do MST José Rainha, acontecidos em Pedro Canário, no dia 10 de junho. A opinião de muita gente é de desconfiança: o julgamento não teria sido isento de preconceitos; portanto não teria sido objetivo e justo. Aliás o próprio juiz reconheceu que as provas não davam respaldo para concluir com certeza. Outros insistem na defesa do julgamento. Há também quem queira ouvir a Igreja de São Mateus. De fato nada escrevemos sobre o assunto até esta data; mas já deixamos expressa nossa opinião, que agora passamos a escrever. Aconteceram crimes: um fazendeiro e um soldado foram mortos. É dever da justiça punir os culpados. Mas ninguém pode inventar bodes expiatórios, para punir a qualquer custo, mesmo contra a evidência dos fatos, esquecendo o dever do rigor objetivo da justiça. Em nosso caso pairam muitas dúvidas: entre elas a clara intenção de condenar o movimento social que está atrás do José Rainha. Sem falar de outros crimes que forças ocultas e talvez a própria justiça relegam ao esquecimento, embora haja indícios muito fortes sobre a identidade dos criminosos. Falamos de crimes da nossa região, como os que vitimaram Verino Sossai e Léo, sem falar de outros. Desses crimes não se fala, nem há preocupações para encontrar os culpados. De modo que mais uma vez fica espezinhado o princípio da igualdade dos cidadãos. O raciocínio implícito é o seguinte: morreram um fazendeiro e um soldado? Alguém deve ser punido, mesmo correndo o risco de errar. Morreram dois lavradores? Esqueçam; não se fale mais nele e ponto final. E finalmente, ao lermos o nome do Bispo de São Mateus nos autos do processo, perguntamos: quem está interessado nesta eterna e perigosa confusão de continuar pensando que se posicionar em favor da reforma agrária, como faz o bispo, é ser criminoso e responsável por mortes ou por tudo aquilo que o MST faz? Mas a dor é outra: quando nosso País ouvirá pra valer o grito dos milhões de famintos e excluídos? São Mateus - ES, 23.06.97 + Aldo Gerna Bispo de São Mateus