Natal
Falta um dia...

Não à violência
Sim à Vida



HERODES, O TIRANO

Herodes era um homem esperto. Proclamado rei da Palestina pelo Senado romano em 37 a.C., entendeu que, para se manter no poder, deveria rastejar aos pés dos chefes romanos.

Usando tecnologia romana, Herodes fez grandes obras. Construiu um teatro em Jerusalém, ampliou o Templo e edificou várias fortalezas para se proteger dos seus rivais e das manifestações de revolta popular. Por ser estrangeiro (era Idumeu) e amigo dos romanos, nunca recebeu o apoio nem a simpatia do povo. Cercado por centenas de inimigos, tinha medo de ser envenenado. Antes de comer, mandava os servos experimentarem a comida. Tinha espiões em todo canto, que lhe traziam informações sobre todas as tentativas de conspiração contra ele.

Não confiava nem na própria família. Mandou matar o cunhado, a esposa e sete de seu filhos. Queria concentrar todo o poder em suas mãos.

Quando soube que três Magos estavam de passagem por Jerusalém à procura do Rei dos Reis, ficou enfurecido. Mandou chamar todos seus colaboradores e perguntou:

- Que conversa é essa? Quem é esta criança que quer se passar pelo rei? O que é que os profetas dizem a esse respeito?

- Deve ser o Messias que o povo está esperando há muito tempo. Segundo o profeta Miquéias, ele vai nascer em Belém.

- Chamem imediatamente estes Magos. Quero falar com eles.

Tentando disfarçar a raiva, Herodes acolheu os Magos com grandes honras...

- Bem-vindos ao meu reino. Soube que vocês estão à procura do Messias. Esta notícia nos enche de alegria. Há muito tempo que eu e meu povo estamos esperando por ele.

- Nós pensávamos que ele tivesse nascido aqui, neste grande palácio. Tratando-se de um Rei...

- É Belém o lugar certo. Assim disseram os profetas. É bom vocês irem até lá. Na volta, passem por aqui. Gostaria de ter informações mais detalhadas sobre o acontecimento para que eu também possa prestar minhas homenagens a este tal de Rei.

Naqueles dias, Herodes não conseguiu dormir. A idéia de um novo rei o deixava ansioso e preocupado. Temia perder seus privilégios. Ficou esperando a volta dos Magos, mas quando percebeu que estes o haviam enganado, mandou chamar o chefe da polícia secreta...

- Quero que vocês acabem com este impostor. Matem todas as crianças da região de Belém, de dois anos para baixo. Eu sou o único e verdadeiro rei...

Foi uma noite terrível. Dezenas de crianças inocentes foram massacradas para satisfazer a sede de poder de um rei louco.



AS CRIANÇAS E A LUTA PELA TERRA


Somos os Sem-Terrinha. Estivemos reunidos entre os dias 12 e 14 de outubro para discutir a situação das crianças no campo. Fazemos parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, junto com nossos pais, lutamos pela reforma agrária.

Somos fruto de uma nação que não se importa com nosso futuro, somos fruto do amor de nossos pais, que se preocupam com a gente, por isso moram no acampamento, às vezes passando muita necessidade. Mas sabemos que tudo é para não ver a gente debaixo da ponte, perdido nas ruas, pedindo esmolas, se prostituíndo, roubando ou fazendo como aquelas crianças que vimos um dia na esquina, com o nariz no saquinho. Falaram para nós que aquilo era cola. Nós queremos sentir o cheiro das flores do campo, da terra tombada, do colo acolhedor de nossas mães, da chuva caindo na terra fazendo brotar a semente.

Nosso pai diz que a terra é nossa mãe, e dela sai o nosso sustento. É ela que nos abraça sem sentirmos e quando ela produz é porque seus filhos são bons, e têm o dom de tirar dela o feijão, arroz, legumes e tudo aquilo que é importante para crescermos saudáveis.

Onde nós moramos existem muitos filhos maus que deixam a terra abandonada, sem carinho. Não gostamos deles, eles são maus, são fazendeiros com espírito assassino que roubaram a terra, estão acabando com a terra e querem matar nossos pais, que querem plantar e dar a vida por aquelas terras abandonadas. Eles são violentos e não gostam de ver a terra produzindo, por isso tombaram a plantação que nossos pais fizeram.

Quando a polícia chega em nossos acampamentos, todas as crianças ficam com medo, porque algum tempo atrás eles mataram 19 pais, numa cidade chamada Eldorado dos Carajás, no Pará. A gente chora muito porque não quer que matem nossos pais.

Os nossos pais gostam da terra e trabalham bastante - o dia inteiro -, e ainda arrumam um tempinho para brincar com a gente. Se os nossos pais fossem bandidos eles não trabalhavam, nem estariam lutando para conseguir a terra para nela produzir. A gente pensava que a polícia era para prender ladrão e matadores, mas descobrimos que isso não é verdade, porque foi a polícia que matou os pais de nossos amiguinhos, e até agora ninguém foi preso, nem mesmo um tal governador chamado Almir Gabriel que, segundo a gente ouviu, foi quem mandou matar aqueles companheiros.

Uma amiga nossa disse que no acampamento dela tem jagunço impedindo a companheirada de trabalhar na terra; eles deram tiros para amedrontar as famílias e acabaram acertando uma moça que trabalha na televisão. Essa amiga nos contou também que levou uma cesta de flores a um deles, que abaixou a cabeça como se fosse chorar agarrado a uma espingarda enorme, da altura de nossa amiga, e ela lhe falou baixinho: "Nós queremos terra, não queremos guerra!"

Outro amigo contou para nós que o pai dele já conseguiu a terra. Eles trabalham na cooperativa, têm casa, uma escola bonita, muitas frutas, têm até trator! Mas ele disse que todos tiveram que lutar muito para conseguir tudo isso. Nossos pais estão sempre lutando e nós também vamos lutar. Nossos pais falam que vamos produzir bastante para alimentar todo o povo, mas muitos de nossos amigos falaram que é difícil vender a produção porque o governo não ajuda em nada, eles têm que ir para as rodovias vender o que produziram, a fim de ajudar os pais.

Criaram o Estatuto da Criança e do Adolescente, que lemos e discutimos em nosso encontro, e ficamos sabendo dos nossos direitos e deveres também. Só não sabemos porque ele não é cumprido; tem um monte de coisas bonitas escritas: direito à alimentação, saúde, educação, moradia; mas achamos que seria mais bonito se tudo isso fosse verdade, por isso, nós, os "Sem-Terrinha", vamos para a rua exigir nossos direitos.

O presidente fala na rádio e na televisão que faz a reforma agrária. Nossos avós falaram que outros também já diziam a mesma coisa e nunca fizeram nada. O tempo passa e ninguém faz nada. Nós, "Sem-Terrinha", queremos a terra e condições para produzir, queremos a reforma agrária, porque sonhamos com um futuro melhor, uma vida mais digna.

Quando a gente ouvia nossos pais falarem em reforma agrária, e todas aquelas palavras que falam da luta de nossas famílias, achávamos isso muito difícil. Hoje, estamos nos acostumando com elas e estamos vendo que são muito simples. O difícil é a gente entender porque "eles" não repartem logo a terra para a gente plantar. Queremos construir um Brasil melhor, queremos brincar sem medo da violência, queremos estudar, ter direito a tudo aquilo que está escrito no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Por isso, convidamos todo o povo! Menino, menina, pai, mãe, avô, avó, jovens. Vamos fazer a reforma agrária?! A gente não pode esperar que nossas crianças morram de fome.

Nós não temos uma casa grande, nossos pais não têm um carro bonito, nossas mães não têm a mão lisa, nossos pais têm o rosto queimado pelo sol e a mão calejada de tanto trabalhar. Nós andamos de pés no chão, mas mesmo assim nos orgulhamos por sermos organizados; por nossos pais não serem covardes; por nossas mães estarem juntas na luta e por nós, crianças, nos sentirmos filhos da terra, sem medo de dizer: somos Trabalhadores Sem-Terra e queremos garantir nosso futuro, queremos garantir o futuro de nosso país.


Reforma agrária, uma luta de todos
e dos Sem-Terrinha também!

Manifesto dos Sem-Terrinha ao povo brasileiro



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