ERA UMA VEZ...

A ORIGEM DOS ALIMENTOS


Há muito tempo atrás, Sináa e seu povo não conheciam a mandioca e outras plantas boas para comer. Só comiam farinha feita de raspa de pau.

Tinham também o costume de comer sucuri, que vivia embaixo da terra. Quando tinham fome, Sinaá mandava cavar num determinado lugar até aparecer a cobra, que era retirada morta e depois comida por todos.

Um dia, os Juruna desenterraram uma dessas cobras e sentaram em cima dela para descansar. Quando foram levantar, não conseguiram. Estavam grudados. De repente, a su-curi saiu, arrastou todos que estavam em cima dela para o fundo do rio e engoliu-as.

Os que se salvaram, ficaram apavorados, pois nunca imaginavam que uma cobra tão mansa pudesse matar tanta gente.

Todos os dias iam ver se a sucuri já tinha voltado para o seu lugar, no pé da serra. Um dia ela apareceu.

Temendo nova desgraça, Sinaá mandou queimá-la. Fizeram um grande roçado em torno dela e, quando o mato estava seco, puseram fogo. Com o calor, a cobra começou a pular, pular, até morrer.

De repente começou a chover. E para surpresa de todos, das cinzas da sucuri nasceram muitas plantas que eles nunca tinham visto.

A chuva só parou quando as plantas já estavam crescidas e com frutos. Era tanta coisa diferente, que os Juruna ficaram olhando sem saber o que era.

A notícia correu logo e Sinaá foi também ver aquelas plantas que ele não conhecia. Nesse momento chegou um passarinho que lhe perguntou (naquele tempo, os animais falavam):

"Por que você está olhando assim? Não sabe que tudo isso é bom para se comer?"

E o passarinho foi explicando a função de cada planta:

"Este é o milho, bom para ser assado. Aquilo é o mamão. Só pode ser comido quando estiver amarelo. Esta aqui é a mandioca, que serve para fazer farinha, mingau e cauim. A pimenta é muito boa para comer com peixe assado. Esta é a batata-doce, que pode ser assada ou cozida. Aquela é a cana, que é muito boa e doce para a gente chupar."

O passarinho falou também sobre outras plantas.

"Esta é a banana. Quando estiver amarela e a ponta do cacho meio seca, pode cortar o cacho junto com o pé, pois já não vai nascer outro."

Depois de ter ensinado sobre as frutas, o passarinho explicou-lhe como se faz uma roça. Por isso, até hoje o povo Juruna não espanta os passarinhos que vão comer mamão e outras frutas em suas roças, pois foi um deles que os ensinou a conhecer as plantas.


(Adaptação do mito recolhido por Orlando e Cláudio Vilas Boas,
em Xingu, os Índios, seus mitos, Ed. Kuarup, 1985, pág. 207-208)


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