Comunidades Eclesiais de Base

Carta de São Luís

Mensagem final do Nono Encontro Intereclesial, celebrado em São Luís do Maranhão, de 15 a 19 de julho. O tema: "CEBs: vida e esperança nas massas".


Alguns destaques:



Queridas irmãs e irmãos das comunidades e de todo o Povo de Deus. Daqui das terras do Maranhão, pátria de poetas e mártires, queremos mandar a cada um e a cada uma de vocês o nosso abraço carinhoso e contar-lhes um pouco da alegria que foi para nós a experiência do 9º Intereclesial e a esperança que nos trouxe.

Éramos uma pequena amostra do Brasil sofrido e lutador, alegre e esperançoso, com a riqueza de suas culturas e religiões, raças e etnias.

Viemos das CEBs de 240 dioceses. Havia 2.359 delegados, sendo a maioria mulheres. Ao todo, éramos 2.798 participantes, incluindo 57 bispos, 66 irmãos e irmãs de Igrejas evangélicas, 65 de outros países da América Latina e do Caribe, 53 representantes de 33 povos indígenas, 89 irmãs e irmãos solidários vindos do mundo inteiro e, finalmente, 53 assessores e assessoras.


Além das paradas acolhedoras em vários estados, tivemos uma recepção extremamente calorosa nas entradas do Maranhão: em Zé Doca, Santa Inês, Vitória do Mearim, Timon, Caxias, Peritoró, São Mateus, Miranda, Santa Rita, Estreito, Campestre, Imperatriz, Açailândia, Piquiá e Santa Luzia.

As comunidades destes lugares estavam esperando os ônibus com faixas, cantos, abraços, um bom banho e também deliciosas comidas, com um carinho e generosidade pra nunca mais esquecer!

Na cidade de São Luís do Maranhão, as comunidades e as famílias receberam-nos com o mesmo carinho, e esse espírito prolongou-se por todo o Encontro. Percebeu-se que todo o Estado havia se preparado para acolher as CEBs do Brasil. A todos e todas agradecemos de coração.


A celebração de abertura envolveu-nos no tema do Encontro. Lado a lado estavam a mulher, o arcebispo, o pastor evangélico, a mãe-de-santo e o pajé indígena - todos orando juntos, fraternalmente -, como o Pai sempre os quis.

A noite cultural maranhense atraiu tanta gente, que toda a capital parecia estar ali. Houve também uma bonita confraternização entre os delegados e as comunidades que nos acolheram em São Luís.

Ficamos encantados com a organização do Encontro. Mais de 1.300 voluntárias e voluntários, em uniformes coloridos, cuidaram de todos os serviços, e estavam sempre prontos a nos atender com muita simpatia.

Merecem destaque especial e nosso sincero muito obrigado o arcebispo de São Luís, dom Paulo Eduardo Andrade Ponte, e seu bispo-auxiliar, dom Xavier Gilles de Maupeou d'Ableiges; a coordenadora do Secretariado, Lucineth Cordeiro Machado; os membros do Secretariado e da Ampliada Nacional; a Equipe Regional e todas e todos os demais que colaboraram para a bem sucedida realização do Nono.


O clima geral do Encontro foi realmente muito gostoso. Apesar da complexidade do tema geral - "CEBs: vida e esperança nas massas" -, a atmosfera era de vibração: muito canto, muita dança e bonitas celebrações nos blocos.

Houve também grandes celebrações. Na Celebração dos Mártires da Caminhada, honramos a memória de todos e todas que, no Brasil e nos demais países da América Latina e do Caribe, seguiram os passos de Jesus no testemunho e na entrega da própria vida pelos irmãos.

Com os evangélicos, celebramos a Palavra Viva de Deus na Bíblia, mestra de hospitalidade, e estreitamos nossos laços de afeto e de compromisso na construção do Reino.

Nestes cinco dias, partilhamos e refletimos nossas lutas, problemas e propostas frente ao grande desafio das massas.

Tratamos o tema em seis blocos, seguindo o método ver, julgar, agir, avaliar e celebrar. Renovamos a opção preferencial pelos pobres, expressa em Medellín, Puebla e Santo Domingo e reafirmada em todos os intereclesiais anteriores.

E agora, queremos partilhar com vocês os pontos mais importantes de cada bloco.


1. Catolicismo popular

Neste bloco, sublinhamos:

2. Religiões afro-brasileiras

Neste bloco emergiram alguns pontos muito importantes, que ajudam a superar preconceitos e discriminações que ainda existem:

3. Pentecostalismo

Aqui surgiram algumas luzes:

4. Excluídos e movimentos populares

Este bloco tratou de uma das mais graves questões do mundo atual:

5. Cultura de massa

Neste bloco foram ressaltados os seguintes pontos:

6. Povos indígenas

Este bloco lançou a todos nós alguns apelos muito fortes:

JESUS E AS MULTIDÕES

A prática de Jesus iluminou a realidade que tinha sido levantada nos blocos.

Vimos como Jesus, a partir de sua experiência de Deus da Vida, como Pai com coração de Mãe, era atento ao sofrimento das massas. Acolhia os excluídos, curava os enfermos, multiplicava o pão, libertando todos aqueles que estavam sob o poder do mal. Anunciava o Reino presente no meio do povo, usando uma linguagem que as multidões podiam entender.

Sua preferência pelos pequenos provocou conflitos e oposição dos poderosos. Ele, porém, não recuou, dando a vida por amor.

Pela ressurreição de Jesus, o Pai nos confirma: vida vivida como Jesus é vida vitoriosa, mesmo crucificada. Onde os pobres se reúnem e se acolhem mutuamente - Jesus mesmo nos fez saber -, o Reino se faz presente.


COMPROMISSOS E ROMARIA DAS COMUNIDADES

No último dia, tivemos a comovedora celebração, animada pelas irmãs e os irmãos evangélicos, e a grande Romaria das Comunidades, que trouxe, para a celebração de despedida, o povo de São Luís, do interior do Maranhão e de estados vizinhos.

Nessa celebração do envio, assumimos os compromissos dos blocos, até a próxima estação do nosso trenzinho das CEBs, que será em Ilhéus, no ano 2000, tendo como tema "CEBs: 2000 anos de caminhada".

Assumimos, em particular, no triênio preparatório ao Jubileu do ano 2000, fazer de 1999 o ano do Grito dos Excluídos de toda a América Latina e o Caribe, para o resgate dos seus legítimos direitos sociais, fortalecendo esta causa por meio de iniciativas concretas.

Irmãs e irmãos, continuemos, com ternura e firmeza, esta caminhada ecumênica em defesa da vida rumo ao Novo Milênio.

E o Espírito do Deus da Vida, que tornou fecunda a humilde Maria de Nazaré e a fez Mãe do Libertador, fecunde também nossas comunidades, para que continuem gerando "vida e esperança nas massas".


São Luís/MA, 19 de julho de 1997
Participantes do 9º Intereclesial de CEBs