Honduras

Vitória
feminina

Aprovada lei contra violência doméstica.


Paul Jeffrey


Suyapa Flores tinha visto Jorge Rolando Pérez pela última vez fazia mais de dois anos e imaginava estar livre dele para sempre.

Tinha motivos para querer distância: Pérez, que é padrasto de Flores e pai de seus quatro filhos, a violentou e torturou quando ela era ainda adolescente, deixando profundas marcas em seu corpo e em sua mente.


Reencontro infeliz – Foram oito anos de tormento, até que, em 1995, ela resolveu fugir, levando consigo os filhos. Durante seis meses, viveu num refúgio para mulheres. Depois, entregou as crianças a uma instituição e arranjou emprego num armazém.

Mas a nova vida de Flores foi interrompida de repente, em agosto do ano passado, quando ela voltou a cruzar com Pérez nas ruas de Tegucigalpa. O padrasto exigiu que ela o acompanhasse a um motel e, diante da recusa, a atacou com um punhal. Depois fugiu, pensando que ela estivesse morta.

Socorrida, Flores despertou num hospital, quatro dias depois, com mais de quinhentos pontos pelo corpo. Até hoje, sente medo de pôr o pé para fora da casa de refúgio. Enquanto isso, Pérez anda solto pelo mundo.


Lei é aprovada – A imprensa deu destaque à história de Flores. Depois descobriu-se que, em 1978, Pérez tinha sido preso por tirar a vida de duas mulheres que se recusaram a fazer suas vontades sexuais. Três anos depois, fora posto em liberdade.

A história de Flores serviu para pressionar o Congresso hondurenho a aprovar, em setembro do ano passado, a primeira lei do país contra a violência doméstica. Foram sete anos de luta para convencer os parlamentares de que o problema existe, e é grave.

Para os grupos de mulheres, a tarefa agora é fazer a lei funcionar. Vai demorar algum tempo, elas reconhecem, e depender do envolvimento de toda a sociedade.

A pressão em cima do Congresso foi bem forte por causa do grande número de casos de violência contra mulheres como Flores. Virginia Figueroa, vice-ministra da Saúde, informou que quatro em cada dez hondurenhas são agredidas fisicamente por seus parceiros e que todo mês uma média de seis mulheres morrem em conseqüência dessa violência.

Para Emma Mejía, da direção do Coletivo Contra a Violência Doméstica, a nova lei veio para ajudar a reverter essa situação. "Durante séculos, muita gente viu a violência contra a mulher como algo natural, mas agora já não é mais bem assim."

A prova de que algo está mudando é que aumentaram consideravelmente, nos últimos anos, as queixas apresentadas aos organismos encarregados de cuidar da questão, como, por exemplo, a Secretaria Especial da Mulher, que foi criada em 1995. – Notícias Aliadas


Sai caro

A violência sexual contra a mulher também produz uma série de custos indiretos à sociedade, revela um estudo do Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID), realizado na Nicarágua. Os filhos de mulheres vítimas de violência têm três vezes mais chances de requerer atenção médica. Quando os casos de violência física contra a mulher são bem graves, aumenta cem vezes a probabilidade de as crianças, por algum motivo, irem parar num hospital.
A pesquisa revela ainda que 63% das crianças expostas à violência dentro de casa têm que repetir pelo menos um ano na escola. Em média, abandonam a escola aos 9 anos, enquanto os filhos de mães que não são vítimas de abuso o fazem aos 12 anos.
O fato de a mulher depender economicamente do marido tem também a ver com a questão da violência doméstica. O estudo do BID indica que 41% das mulheres não assalariadas são vítimas de grave violência física em seus lares. A porcentagem chega a 10% no caso das mulheres que exercem uma atividade remunerada. – P.J.