Padre Josimo

Faz dez anos


Imperatriz, Maranhão.
Sábado, 10 de maio de 1986, 12h15min.

O padre Josimo Moraes Tavares, 33 anos, sobe a escada do edifício onde funciona a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O pistoleiro Geraldo Rodrigues aperta o gatilho do seu Taurus calibre 7.65.
Está a 5 metros de Josimo, o vê pelas costas e dispara dois tiros.
A primeira bala raspa no ombro direito de Josimo e vai alojar-se na parede.
A segunda perfura o rim e o pulmão e sai pelo peito.
O padre Josimo morria, duas horas depois, no hospital.

Duas semanas antes, durante a assembléia diocesana, em Tocantinópolis/TO, Josimo tinha deixado um testamento.
Estava sendo ameaçado de morte.

Ele dizia:

"Tenho que assumir.
Estou empenhado na luta pela causa dos lavradores indefesos,
povo oprimido nas garras do latifúndio.
Se eu me calar, quem os defenderá?
Quem lutará em seu favor?

Eu, pelo menos, nada tenho a perder.
Não tenho mulher, filhos, riqueza...
Só tenho pena de uma coisa: de minha mãe, que só tem a mim
e ninguém mais por ela.
Pobre.
Viúva.
Mas vocês ficam aí e cuidam dela.

Nem o medo me detém.
É hora de assumir.
Morro por uma causa justa.
Agora, quero que vocês entendam o seguinte:
tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas conseqüências.

A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar".