Brasil-Paraguai

"Não sonhava te amar desse jeito"

Comunidades de Belo Horizonte em visita missionária ao Paraguai.


A idéia surgiu assim que terminou o Quinto Congresso Missionário Latino-Americano (Comla-5), celebrado em Belo Horizonte, em julho de 1995. Quando os dezenove congressistas paraguaios se despediram das famílias que os tinham acolhido em suas casas, não houve apenas troca de endereços, lembranças e abraços. Nasceu também ali o desejo de se reencontrarem, só que dessa vez em terras paraguaias.

"Desde o primeiro momento, sentimos um forte clima de amizade e calor humano entre nós", conta o padre Paulo Sérgio, 35 anos, mais conhecido como padre Paulinho, da Paróquia Santo Antônio, no bairro de Vila Belém, onde os paraguaios ficaram hospedados. Foi o primeiro "rohayhu" ("eu te amo", em guarani) a unir pessoas de culturas diferentes, "pois a linguagem do amor é compreensível a todos e faz cair as barreiras que impedem a comunicação".


PARÓQUIA MISSIONÁRIA – No mês de outubro, embaladas pelo espírito missionário do Comla-5, as comunidades da paróquia fundaram o Conselho Missionário Paroquial (Comipa). Dele participa gente que hospedou os amigos paraguaios ou que se envolveu de um modo ou de outro na organização do congresso missionário, bem como outras pessoas interessadas no tema da missão.

O Comipa quer "buscar caminhos novos para levar o Evangelho a pessoas que ainda não descobriram a alegria de viver como cristãos em comunidade", explica Paulinho. É fundamental que as comunidades aprendam a olhar para além das fronteiras paroquiais, diocesanas e, inclusive, nacionais.

Como primeira atividade de peso, o Comipa resolveu então organizar uma semana missionária em parceria com comunidades do Paraguai. Seria uma boa oportunidade para rever os amigos. Além disso, o grupo queria conhecer de perto o trabalho das comunidades de lá e também alguma coisa da realidade social e política do país. Em troca, levaria a experiência cristã, o modo de celebrar e viver as lutas do dia-a-dia na periferia de Belo Horizonte.

Antes de fretar o ônibus, o grupo, de quase quarenta pessoas – jovens, adultos e também crianças –, encarou com seriedade as reuniões mensais para refletir sobre o tema da missão, dividir tarefas e organizar a viagem. No Paraguai, a recepção ficou por conta da comunidade de Limpio, a 17 quilômetros de Assunção, que preparou as famílias, visitas, encontros e celebrações.


PARTILHA DE EXPERIÊNCIAS – Tanta preparação, de ambos os lados, fez com que a semana missionária (de 17 a 24 de julho) se transformasse num sucesso. A diferença de línguas não diminuiu em nada o calor da amizade entre brasileiros e paraguaios. "Só a convivência com eles já valeu a pena", avalia Antônio, depois da volta. "A bagagem de experiências que trouxe, o que aprendi por lá, é muito grande", completa Senhorinha. "Cresci muito, vendo a simplicidade e a solidariedade das pessoas", diz Josemar.

Os brasileiros visitaram grupos, comunidades, monumentos, igrejas. Durante um dia inteiro de reflexão, trocaram idéias e experiências com os paraguaios sobre o que vem sendo feito pelas comunidades para anunciar e viver o Evangelho nas culturas, como caminho de vida e esperança – o tema do Comla-5. Falaram também do Mês da Bíblia e da Campanha da Fraternidade deste ano.


INDÍGENAS – Os paraguaios apresentaram grupos missionários que acompanham comunidades e realizam ações em regiões pobres do país. Eles apontaram o trabalho junto aos povos indígenas como um dos grandes desafios para a Igreja local.

É forte a presença indígena no Paraguai. São dezessete etnias, a maioria guaranis. Não passam de 2% da população, mas aproximadamente 90% dos paraguaios são mestiços, descendentes diretos de indígenas. Os povos indígenas garantiram importantes direitos na Constituição, como a posse da terra e a organização social e administrativa dos seus territórios.

Esses direitos, no entanto, geralmente "continuam no papel". No caso da evangelização, muitos indígenas estão sendo "missionados" por grupos – evangélicos e também católicos – que negam os valores de suas culturas. Esse tipo de mentalidade "causa grandes transtornos, chegando a dividir um mesmo povo indígena em grupos rivais", afirma Paulinho, lembrando o que foi dito durante uma palestra sobre o tema.


"MOMENTO DE DEUS" – Para Paulinho, a semana missionária constituiu "um momento de Deus" na vida de cada um dos participantes e também das comunidades de lá e de cá. "Sacudiu a gente, revelando o quanto ainda estamos longe de ser uma comunidade missionária. Descobrimos que temos algo a ensinar, e muito mais a aprender. Temos que nos comprometer, para merecermos o nome de missionários."

Entre as coisas de que os mineiros mais gostaram está o carinho com que foram acolhidos pelas comunidades paraguaias. Eles resumem em duas palavras guaranis tudo o que viveram nesses sete dias: "Rohayhu Paraguai" ("Eu te amo, Paraguai"). Paulinho traduz livremente: "Não sonhava te amar desse jeito, Paraguai".