Substância de guerra |
Em várias partes do planeta a escassez de água doce é crítica. A água está se tornando uma fonte de conflitos, tal como ocorreu com o petróleo. Cientistas já listaram nações que devem guerrear pelo controle de rios no Oriente Médio e África do Norte. |
A água, um recurso aparentemente infinito no planeta, está se tornando um bem precioso e escasso. Se antes já protagonizou alguns pequenos conflitos pelo mundo, agora está se tornando cada vez mais motivo de apreensão política, econômica e ambiental, na medida em que a população e a indústria aumentam o seu consumo. Cientistas ligados ao Banco Mundial e do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais dos Estados Unidos não têm mais dúvida: ela será o motivo de guerras já no início do próximo século.Conforme os estudos deles, os primeiros conflitos nasceriam no Oriente Médio e na África do Norte, envolvendo a disputa sobre os rios Nilo, Tigres e Eufrates, responsáveis pela maior parte do abastecimento na região. Na lista dos prováveis combatentes estão o Egito e a Etiópia (pelo controle do Nilo) e Síria aliada ao Iraque contra a Turquia, disputando os rios Tigre e Eufrates.
Durante a 2a. Conferência de Assentamentos Humanos da ONU, chamada de Habitat 2, realizada em junho do ano passado, na Turquia, o secretário do encontro, Jorge Wilheim, deu um alerta: "As pessoas imaginam que, porque a água é quase de graça, ninguém vai guerrear". Um ano antes o Banco Mundial publicou relatório advertindo que "muitas das guerras deste século foram fruto da disputa pelo petróleo. As do próximo século serão causadas pela luta por água".
Não resta dúvidas para muitos especialistas de que um dos grandes desafios dos governantes no futuro será o de fornecer água para suas populações. O quadro de hoje já é difícil: um bilhão de pessoas no mundo não têm aceso à água potável e 1,7 bilhão não têm rede de esgoto, o que é a causa de 80% de todas as doenças. Outro dado: 26 países são considerados escassos em água e outros 60 enfrentam enormes problemas.
A agricultura consome cerca de 85% da água retirada de rios, lagos e depósitos no subsolo. Já a indústria usa 10% e os serviços urbanos e domésticos apenas 5%. Com o crescimento populacional, a pressão sobre este recurso aumentará bastante. Diretora do Projeto para uma Política Global de Água, a americana Sandra Postel não sabe o que será do futuro. "É difícil saber de onde sairá esta água em bases sustentáveis".