Uma fonte de lucro e poder |
Por ter reservas limitadas no planeta, a água doce tem valor econômico e cada vez mais vem sendo explorada pelos empresários. A conta deles é bastante simples: como a população do mundo cresce velozmente e os 0,7% da água disponível ao homem na terra é pouco para tanta gente, daí o lucro é certo e grande para quem se tornar dono dessa fonte. É como ser dono de uma máquina de imprimir dinheiro.Somente nos últimos 20 anos, a população mundial aumentou em mais de 1 bilhão e 800 milhões de pessoas e este contingente diminuiu em um terço o suprimento de água do planeta. Aliase o fato de que a necessidade de água cresce numa escala mais rápida do que o aumento populacional, pois aumenta a quantidade de indústrias (que consomem muita água) e a agricultura passa a usar mais água para produzir mais alimentos.
A escassez já indicou o caminho do lucro a grandes grupos empresariais, especialmente da França, Inglaterra e Espanha - que controlam sistemas de abastecimento em vários países do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, fi-nancia projetos de privatização dos serviços de água e esgoto em países do Terceiro Mundo. São projetos estratégicos para as grandes potências, que controlam o Banco Mundial, pois todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, quem detiver o controle da água ditará as regras no planeta.
As grandes multinacionais têm interesse especial pela América Latina e particularmente pelo Brasil (que tem 12% do volume de água doce do mundo). Por isso elas estão chegando, como já fizeram em algumas cidades da Argentina e mesmo do Brasil, basicamente no interior de São Paulo. Em alguns locais já são alvo da revolta popular, pelo aumento da tarifa, e de escândalos por pagamento de propina a políticos visando ganhar os serviços de água e esgoto da cidade.
A Bahia está na mira e uma das gigantes do setor, a francesa Lyonnaise des Eaux, já presta serviço de consultoria e outra francesa, a Générale des Euax, está vendendo equipamentos à Empresa Baiana de Águas e Saneamento - Embasa através de uma das empresas do grupo, a OTV. Como tática usada em outros lugares, chegou de mansinho, como se não quisesse nada, vai obtendo informações estratégicas e se prepara para o golpe fatal que é a privatização.
O próprio governo baiano trabalha a todo vapor para privatizar a água e o Banco Mundial, em seminário realizado este mês em Salvador, confirmou interesse em jogar dinheiro para empresários interessados neste projeto. Também controlada por grupos poderosos e encrustados no poder, a imprensa é forte aliada, prestando-se à fazer campanha desmoralizando servidores e empresas públicas, no interesse de "fazer a cabeça" da população.
A desculpa do governo é de que não dispõe de dinheiro para investir no setor, mas é de um cinismo impressionante. A Caixa Econômica Federal só empresta dinheiro às empresas públicas se for para projeto visando a privatização. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social só libera dinheiro para empresas já privatizadas. São dois bancos públicos, do governo, que se utilizam de recursos do trabalhador (o FGTS, usado pela Caixa, e o Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, usado pelo BNDES) para pressionar e chantagear empresas públicas e governos municipais. E todos sabem que, no mundo inteiro, a primeira e mais grave consequência da privatização é a demissão em massa de trabalhadores.