Įgua VIVA Um caminho perigoso

Poluição, desperdício, doenças, falta de saneamento e de vergonha

Nos últimos 50 anos, o homem provocou a redução na disponibilidade de água doce em cerca de 62% das reservas mundiais. É algo extremamente preocupante. Na América do Sul, a redução chega a 73% e no continete africano a 75% das reservas. Os efeitos disso são secas, erosão dos solos e desertificação dos ecossistemas.

No mundo inteiro o quadro é de escassez e mau uso da água e poucos são os países onde as reservas são administradas de forma eficiente e responsável. No Brasil, cujo potencial de recursos hídricos representa 53% da reserva da América Latina e 12% do total mundial, a situação é alarmante: 63% dos depósitos de lixo no país estão em rios, lagos e restingas, nos chamados corpos d'água.

A Região Norte, onde se encontra a maior reserva de água doce do Brasil, é também a que mais contamina seus recursos hídricos, jogando grande quantidade de agrotóxicos, mercúrio (dos garimpos) e lixo bruto nos rios. No Nordeste ainda impera a indústria da seca, onde os "coronéis da política" trocam voto por água e abusam de desviar dinheiro público para o próprio bolso. A Bahia, quarta economia do país, desperdiça mais de 50% da água produzida (tratada), o que daria para abastecer satisfatoriamente aos 6 milhões, dos seus 12 milhões de habitantes, que não dispõem de água. Menos da metade (43,7%) da população baiana tem serviço regular de abastecimento de água. Além disso, apenas 5% dos baianos têm serviço de esgoto.

Ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que apenas 70,9% dos brasileiros possuem residências e que desse total apenas 75% dispõem de água potável e 59% de rede de esgoto. É vergonhosa, portanto, a situação do saneamento no Brasil: 70 milhões de pessoas não dispõem de abastecimento de água, 87 milhões não são atendidos por rede de esgoto e 75 milhões não têm coleta de lixo. Outros dados: 94% dos esgotos no Brasil não são tratados e 80% das doenças decorrem da falta de saneamento básico. Constatase o tamanho do crime quando se sabe que para cada R$ 1,00 investido em saneamento o governo economizaria R$ 5,00 em gastos no setor de saúde.

O governo, entretanto, não se interessa pela questão, ou melhor, tem outros interesses. Quando ainda candidato, o presidente Fernando Henrique Cardoso prometeu aprovar o projeto que instituia a Política Nacional de Saneamento e que resultou de amplo debate com a sociedade. Três dias após assumir a presidência, o mesmo Fernando Henrique vetou integralmente o projeto, deixando o país sem leis que regulamentem as ações de saneamento e que permitam a mudança do vergonhoso quadro. Está cada vez mais claro que seu objetivo é manter o setor desregulado para facilitar o processo de privatização em curso no Brasil.