Įgua VIVA O Velho Chico pede Socoooorro!

Velho Chico

Fonte de inspiração para muitos poetas, cantadores e casais de namorados que provaram do entardecer na beira do seu leito, o rio São Francisco está ferido de morte e precisa de urgente atenção. Vítima do desmatamento e queimadas desde a sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, da poluição na forma de agrotóxicos, esgotos domésticos e industriais, além do desvio de água cada vez maior para projetos de irrigação mal elaborados, o Velho Chico a cada ano tem diminuído perigosamente o seu volume de água e a navegação já não se faz em determinados trechos e em determinadas épocas.

O rio é vítima do desprezo e da irresponsabilidade de sucessivos governantes, seja a nível federal ou estadual, insensíveis e incapazes da adoção de medidas para impedir a sua morte lenta. As derrubadas e queimadas de árvores, seja na nascente ou ao longo do seu percurso, estão cada vez maiores. As cidades ribeirinhas (mais de 150) não têm sistema de tratamento de esgoto e as indústrias idem, despejando toda sujeira no seu leito. Agricultores, uns sem escrúpulos, outros por falta de orientação, usam e abusam de agrotóxicos em plantações nas margens do rio e esse veneno também é conduzido para o Velho Chico.

Os problemas se acumulam ano após ano. O desmatamento, além de contribuir para secas constantes nas nascentes do São Francisco e de seus afluentes, provoca a queda de barrancas e, consequentemente, o asseoramento do rio (acúmulo de terra no leito). O resultado disso é o perigo e dificuldade de navegação, pois muitas ilhas já estão formadas em seu percurso.

No início da década de 70, o governo (de militares) jogou farta propaganda dizendo que a construção da Barragem de Sobradinho iria salvá-lo. Fez-se a barragem, com muito dinheiro, mas os problemas aumentaram de lá para cá. A própria barragem, uma das maiores do mundo, indica o tamanho do problema: passa grandes períodos com o volume de água bastante reduzido devido à seca na nascente e vale do São Francisco.

Hoje, mais uma ameaça se coloca: alguns deputados e senadores, apenas para agradar eleitores, pressionam o governo para aceitar o projeto de transposição das águas do São Francisco. Querem levar a água do São Francisco para o interior de vários estados do Nordeste, até o Rio Grande do Norte. Não querem saber de estudos técnicos nem no que isso afeta o rio. Querem voto. Se o Velho Chico morrer, nenhum eleitor da Paraíba desfrutará de sua água. E os cidadãos de outros estados, que dela já desfrutam e tiram a sobrevivência, também ficarão a ver navios. A sociedade precisa se manifestar contra projetos como esse. Precisa gritar contra o desmatamento e as queimadas. Deve exigir tratamento para o esgoto doméstico e industrial nas cidades banhadas pelo rio. É urgente uma política sobre o uso de agrotóxicos e projetos de irrigação. Enfim, são necessárias providências para tirar o Velho Chico do leito da morte. Ele precisa de atenção e muito cuidado.