Sínodo das Américas convida à solidariedade e à esperança


— Já era hora de que nos reuníssemos, os bispos do Norte e do Sul da América, junto aos do Caribe, para conhecer-nos melhor e poder enfrentar os desafios comuns. Daqui se tem uma visão global dos problemas e, além disso, podemos comparti-la com o Papa.

Com estas palavras D. Ricardo Ramirez, bispo de Las Cruces (Novo Mexico), sintetizou para a imprensa internacional os sentimentos da maioria dos 250 bispos que participaram, de 16 de novembro a 12 de dezembro, do Sínodo dos Bispos para America que se realizou em Roma.

Um documento de 9 páginas, com 78 proposições, foi o que ficou no papel. O texto está agora nas mãos de João Paulo II que, nos próximos meses, deverá devolvê-lo ao conjunto da Igreja em forma de exortação apostólica.

No documento final, depois de realçar as "alegrias da Igreja na América", (que nasce principalmente do extraordinário número de missionários, leigos e pastores comprometidos na vivência do evangelho), os bispos falam das "preocupações". São os problemas que trazem para o conjunto da Igreja novos questionamentos e novos desafios. Primeiro, a família. Há situações novas que ela vive, mas, sobretudo, há realidades que interferem no trabalho tradicional desenvolvido até hoje. Os bispos falam das "famílias incompletas, onde pai ou mãe, com valentia e confiança em Deus, assumem a responsabilidade de educar os filhos na vida cristã, sem o apoio ou a colaboração de um dos cônjuges". A estes os bispos, sem descer em pormenores pastorais, convidam "a não perder a fé". É evidente que, por detrás da declaração final do Sínodo, há uma problemática que pede luzes e orientações que se espera possam vir agora da exortação apostólica de João Paulo II.

Em seguida fala-se da juventude. Há um aceno especial a uma porção dela, que nas grandes cidades conhece o desprezo, a humilhação e a violência. Dizem os bispos: "O que vocês, filhos e filhas de Deus, sofrem, jamais deveria acontecer a alguém (...). Alguns de vocês vivem até sob a ameaça de morte por parte daqueles que deveriam protegê-los". Revelam que estas novas situações exigem respostas inéditas por parte também da Igreja.

Fala-se também da situação dos emigrantes, dos trabalhadores sazonais, dos nativos e povos indígenas, dos descendentes de africanos, dos idosos e enfermos e dos homens que se encontram em busca de Deus. Evangelizar é, de alguma maneira, responder aos anseios mais profundos de todos estes importantes segmentos da sociedade americana.


As diferenças


Destaque especial ganhou o tema das diferenças regionais. "No Norte, vemos com temor e preocupação o fato de se alargarem sempre mais os abismos dos que possuem em abundância e daqueles que só têm o necessário". Por outra parte, "no Sul, certas regiões sofrem condições tais de miséria humana que não podem ser conciliadas com a dignidade que Deus concedeu a todos os seus filhos". São situações que provocam sentimentos de revolta, mas que pedem à Igreja uma reflexão séria também sobre os caminhos a serem percorridos.

Há o problema da dívida, externa e interna. "Ainda que a dívida externa não seja a única causa da pobreza em muitos países em desenvolvimento, não se pode negar que ela tenha contribuído para criar condições de extrema pobreza que constitui um desafio para a consciência da humanidade", dizem os bispos, que pedem o perdão parcial ou total dessa dívida e exigem que sejam tomadas medidas enérgicas para evitar que ela se reproduza.

Aí os bispos fazem um apelo aos governos, à indústria, aos ricos em bens materiais, para que caminhem junto da Igreja e dos pobres e procurem soluções que respeitem a dignidade da pessoa humana .

Mas, além de denunciar, o que compete à Igreja fazer? "Numa época contaminada pelo materialismo, e ao mesmo tempo sedenta de fé, proclame o Evangelho a todos: aos que abandonaram a fé, aos que em seus anseios ainda buscam a Deus e aos que ainda não ouviram a Boa Nova do Senhor Jesus", sintetizam os bispos.


Conversão


Antes de tudo, é preciso que a Igreja anuncie formas concretas de conversão, que se traduzem em novas formas de solidariedade e comunhão eclesial. A mensagem propõe concretamente que se dê "continuidade às muitas formas de colaboração entre as Igrejas locais que têm o mesmo dever de anunciar o Evangelho. Sacerdotes e outros missionários do Norte continuam a ser necessários no Sul e em outros lugares. Ao mesmo tempo, as Igrejas no Sul têm intensificado seus esforços para enviar missionários ao Norte e a outros países".

Esta conversão, única fonte da autêntica solidariedade, "transformará a vida dos ricos e dos pobres, dos poderosos e dos fracos; recordará aos políticos sua responsabilidade em favor do bem comum; provocará os economistas a encontrarem soluções para as desigualdades materiais de nossas sociedades".

Na sociedade das comunicações, a nova evangelização há de passar necessariamente pelo compromisso dos cristãos nos meios de comunicação de massa. A Igreja do continente da esperança se propõe encontrar novas linguagens, novas técnicas e uma nova psicologia para anunciar e forjar uma nova cultura.

A Igreja, especialmente nos lugares nos quais os cristãos são caluniados ou intimidados pela causa evangélica de defesa dos pobres - a guerrilha colombiana acaba de assassinar um sacerdote por esta causa -, ou em outras partes do mundo no qual o secularismo é agressivo, pede aos fiéis e às pessoas de boa vontade que se unam com ela, para defender o evangelho da vida contra o aborto e a eutanásia, e contra os preconceitos anti-religiosos.

Por último, o Sínodo encontra em Nossa Senhora de Guadalupe mais uma amostra da nova unidade do continente. Faz uma pergunta: no final do terceiro milênio a América continuará sendo cristã? A resposta a esta pergunta é principalmente um convite a desenvolver o mesmo espírito de Maria, "a Mãe dos pobres, que apareceu a um pobre camponês filho deste continente".

Com este espírito de simplicidade e de serviço os bispos imaginam que a Igreja da América não só guardará o tesouro de sua fé, mas ajudará o próprio continente a sarar muitas feridas, a reconciliar entre si povos aparentemente distantes e a percorrer um único caminho no qual, finalmente, também os pobres, os pequenos e os esquecidos têm vez e voz.




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