CF-98 discute o muito que precisa ser feito no campo da educação


A CF 98 chama a atenção da Igreja e do conjunto da sociedade para um dos problemas mais graves do Brasil, o da educação. Mesmo que o governo federal diga que houve avanços significativos nesta área, persiste a sensação de que ainda muito precisa ser feito para que crianças e jovens deste país tenham uma educação à altura do momento que se vive.

Quando o tema é educação, o Brasil está em posição desconfortável em todas as estatísticas. No ranking da escolaridade latino-americano, ocupa um dos últimos lugares; no da valorização dos profissionais, ganha nota zero, sobretudo em regiões como o nordeste onde professor é sub-empregado que não tem direito nem ao mínimo trabalhista nacional. O Brasil que não investe em educação, por coincidência ou não, é o mesmo Brasil que produz crianças de rua, excluídos de todos os tipos, desemprego e sub-emprego, trabalho escravo e uma massa de manobra que já começa a ser considerada problema até por aqueles que sempre se beneficiaram dela.


A realidade


"Os números fornecidos pelo MEC, relativos a 1994, afirmam que estão na escola menos da metade das crianças na faixa etária de 4 a 6 anos (48%); a maioria (96%) de 7 a 14 anos e 77% de 15 a 17 anos. Estes dois últimos números, postos em negativo, nos dizem que estão fora da escola quase 3 milhões de crianças e jovens em idade escolar (de 7 a 17 anos). Segundo o IBGE, 25,8% dos jovens entre 18 e 24 anos estão escolarizados". (nš 22 do Texto-base).

São dados que precisam ser lidos e interpretados. Eles revelam que há uma estrutura pública que aparentemente dá conta do recado - 96% das crianças em idade escolar estão na escola - mas não dizem outras coisas que também são fundamentais. Por exemplo, que tipo de escola se oferece? Com que projeto pedagógico? Com que quadro de profissionais? Com quais resultados práticos?

Sabe-se que quase metade das crianças que entram na escola repetem a primeira série. Quer dizer: quase a metade das crianças brasileiras têm com a escola uma relação difícil que não chega nunca a ser de integração. É uma escola que não entende, que não supera os bloqueios das crianças e que, portanto, acaba não realizando os grandes objetivos de educar e de preparar para a vida.

O governo se justifica afirmando que quase 30 bilhões de reais são investidos por ano no ensino público. Mas não consegue explicar à população porque tanto dinheiro produz tão poucos resultados. O Brasil continua sendo, apesar de todos os planos, esforços e investimentos, um país sub-escolarizado.

"O SESI constata que cerca 70 (setenta) milhões de brasileiros têm menos de 4 (quatro) anos de escolaridade. Entre os trabalhadores empregados nos diversos setores da economia, segundo dados da RAIS/MTb (1993), mais de 10 (dez) milhões formam um imenso contingente sub-escolarizado", diz o Texto-base da CF (Nš 25). No mercado de trabalho que se prepara a entrar num novo milênio no, qual os ideais serão os da qualidade total, da competitividade e da eficiência, não haverá lugar para quem não tenha aprendido a lidar com as noções que a escola precisa oferecer, com competência, a um número cada vez maior de pessoas. Enquanto nalguns países do mundo já são maioria os jovens com curso universitário, no Brasil a média de escolaridade não passa dos 4 anos.


Outros níveis


Mas além dessa discussão, a CF justamente puxa para outra. Há "outros analfabetismos" no Brasil, alerta o Texto-base. Refere-se às pessoas que, mesmo sendo cultas, não sabem administrar a sua própria vida, ou àquelas que não aprenderam a se relacionar com os outros ou com a natureza. Há ainda os que não conhecem seus direitos ou que têm dificuldade de entender este mundo em mudanças e menos ainda conseguem acompanhá-lo. No mundo que se transforma com uma rapidez impressionante, são elaborados novos valores ou propostos novas maneiras de viver.

"O mundo da informática e da comunicação está criando um ambiente mental, afetivo e comportamental bem diferente daquele que as gerações passadas tiveram. De fato, temos hoje novas formas de compreender a realidade, o que dificulta o relacionamento entre as gerações. Isso leva a colocar em relevo a questão ética, especialmente sobre o que é veiculado nos diversos meios de comunicação...", diz o Texto-base, para mostrar a importância de se abrir para um conceito de educação cada vez mais amplo, que não se furte a olhar para a vida e seus desafios.

O que se pretende com tudo isso é levar o cristão a não ser um fardo inútil no esforço de se construir uma nova sociedade. "A educação - diz o Texto-base - tem de ajudar a despertar em cada homem e mulher a consciência de sua própria dignidade e também a sua capacidade de assumir a responsabilidade de fazer a sua parte para possibilitar a vida, e vida de qualidade, para todos e cada um na comunidade" (Nš 86).




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