Os olhos do mundo precisam se voltar também para a Argélia


A Argélia começa a sair do isolamento e seu drama a ganhar a luz do dia. Países como Estados Unidos, França, Alemanha, além da União Européia e do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas ensaiaram alguma tímida forma de pressão para obrigar o governo local a tratar com mais seriedade a crise que sacode o país e que já fez dezenas de milhares de vítimas.

Os números são alarmantes. Nos últimos 6 anos 80.000 civis foram assassinados e umas 2.000 pessoas desapareceram. Um dos diretores de Anistia Internacional, o espanhol Esteban Beltrán, pergunta:

— Quantas vítimas ainda temos que aguentar até que a comunidade internacional se decida a intervir?

Para alívio dele e de tantos grupos internacionais de solidariedade, o mundo dá finalmente sinais de que está percebendo o que acontece naquele país.

O que há é um conflito que provocou inúmeros massacres. Desde 1991 estes acontecem, principalmente no norte e nos arredores de Argel, a capital. Nas áreas petrolíferas e nas regiões de maior atividade econômica e industrial a normalidade é quase total.

Os conflitos ocorrem prevalentemente em regiões rurais porque, desde o golpe de 1991, a terra, de propriedade do estado, começa a ser privatizada e há interesses para que os camponeses, amedrontados por um clima de instabilidade e de pilhagem, abandonem suas propriedades. Além disso, os massacres acontecem em lugares onde se votou principalmente FSL (Frente Islâmico de Salvação) e em lugares próximos dos quartéis militares. Anistia Internacional denuncia que nem o exército e nem as forças policiais intervêm em qualquer momento para evitar os massacres ou impedir que as mortes aconteçam.

São os sinais de uma guerra surda que tomou conta de muitas regiões desde 1991, quando o atual presidente Zerual deu um golpe para impedir que a FSL - que pretendia instalar um regime islâmico no país - vencesse as eleições marcadas para janeiro de 1992. Desde então há por parte do governo uma repressão muito forte dos grupos islâmicos que, por sua vez, têm respondido com massacres, assassinatos, seqüestros feitos com a única finalidade de chamar a atenção da opinião pública mundial para o drama e a arbitrariedade que o governo comete.

A passagem do ano foi particularmente sangrenta. No oeste, cerca de 1000 pessoas, entre elas mulheres grávidas e crianças, foram assassinadas, degoladas e queimadas vivas em repetidos atos terrorísticos proporcionados pelo FSL.


A Igreja


Diante desse quadro, as principais autoridades religiosas da Argélia, entre eles o arcebispo de Argel dom Henri Tiessier, o bispo de Constantine, dom Gabriel Pirroid e o presidente da Igreja Protestante argelina Hugues Johnson, enviaram uma carta aberta às comunidades na qual sublinham a importância de cada um, apesar do clima de instabilidade e de tensão que tomou conta do país, manter com fidelidade seu lugar e seu serviço, sobretudo quando feito em benefício da coletividade.

"Não podemos esquecer que nossa tradição religiosa, como muitas outras, convidam incessantemente à paz. O perdão não se faz por decreto... Quanto mais o tempo passa e se multiplica a violência, tanto mais será difícil realizar esta grande tarefa de reconciliar", alertam os líderes, mostrando a necessidade de todo o povo iniciar uma reação contra o clima de impunidade que parece dar sustentação e cobertura a todos os massacres.




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