Entrevista com Pe. Edson Damian,
assessor da CNBB no Setor de Vocações e Ministérios

A Igreja do Brasil foi a que mais assumiu a renovação do Concílio


Há seis anos o Pe. Edson, diocesano de Santa Maria/RS, trabalha como assessor da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no Setor de Vocações e Ministérios. Veio a Caxias para pregar o retiro anual dos padres. Conversou com o Pilar sobre seu trabalho e a Igreja do Brasil.

Pilar: Como funciona a CNBB em sua estrutura burocrática organizada lá em Brasília?

Edson: Há muito tempo a CNBB está organizada em torno de 6 Dimensões. Algumas abrangem mais setores. A mais carregada é a Dimensão Sócio-transformadora. Aproximadamente 26 pastorais estão penduradas no cabide desta dimensão. Isso revela que a nossa Igreja neste setor do serviço tem muitas pastorais. É uma Igreja que procura atender às necessidades dos pobres, dos oprimidos e assim por diante. A Dimensão Comunitário-participativa, que é a primeira, inclui o setor Vocações e Ministérios.

Pilar: Vocês estão em contato com muitas dioceses e inúmeras atividades e iniciativas. Que tipo de Igreja vocês observam a partir de Brasília?

Edson: A Igreja do Brasil foi aquela que mais assumiu a renovação do Concílio Vaticano II. Isto é motivo de alegria. Basta que a gente visite países latino-americanos nossos vizinhos para dar-se conta de quanto a gente caminhou e quanto eles, de certa forma, ficaram parados ou caminharam devagar dentro das perspectivas do Vaticano II. Em 94 estive nas Filipinas num encontro internacional de padres e por minha surpresa eu encontrei lá muitos textos de Carlos Mesters, de Clodovis e Leonardo Boff e inclusive documentos da CNBB traduzidos para o inglês. Quando manifestava minha surpresa de encontrar tantos escritos da Igreja do Brasil lá, tão longe, o Secretário da Conferência Episcopal me dizia: 'Nós estamos aproveitando aqui, mas com um certo atraso. Vocês estão nesta caminhada de Cebs, círculos bíblicos, etc. há 30 anos e nós apenas há 5 anos'.

Pilar: E esta da renovação é uma caminhada que continua no Brasil?

Edson: Olha, a gente segura as pontas. Atualmente a gente vive uma conjuntura eclesial bastante conservadora, a partir de Roma. Isto ficou evidente há vários anos. Apesar de certas suspeitas que houve por parte de Roma, a CNBB como um todo manteve sua orientação e é isto que dá uma esperança também para o trabalho da gente. Nós seguimos as orientações de nossa Igreja que são bastante avançadas. Se tomarmos como exemplo as últimas diretrizes da ação evangelizadora, aprovadas para este quadriênio de 1995 a 1999, temos que reconhecer que elas avançam muito em relação às anteriores.

Pilar: E há o Projeto de Evangelização Rumo ao Novo Milênio. O que ele representa para a Igreja do Brasil?

Edson: Eu considero este projeto um fruto amadurecido do Concílio Vaticano II. Ele conseguiu um certo milagre na Igreja do Brasil. Pense que a Igreja do Brasil é imensa. É a maior em número de dioceses e prelazias. Passam de 260. Tem quase 300 bispos. Conseguiram aprovar esse documento por unanimidade. Isto é um milagre do Espírito Santo: conseguir a unidade no meio de tamanha diversidade. Agora, a prática é muito diversa porque são diversas as cabeças dos bispos e também a formação dos presbitérios Brasil afora.

Pilar: E como é que está o Brasil em termos de vocações e ministérios?

Edson: As últimas estatísticas revelam um aumento numérico das vocações, para o clero diocesano principalmente. As vocações para a vida religiosa têm até tendência a diminuir. Basta ver o número de ordenações. Nos últimos dez anos foram ordenados aproximadamente 7 mil padres e a maioria deles são diocesanos. Mesmo assim, este número não corresponde às necessidades. Se nós olharmos para a década de 60-70, em que havia um padre para 6500 habitantes, atualmente, mesmo contando com quase 16 mil padres, a proporção é de 1 para 10 mil ou mais e esta distribuição a gente sabe que nem sempre se confirma. Sabemos que tem padres que têm 40, 50 e até 100 mil paroquianos.

Pilar: E há diferenças regionais?

Edson: Não. A última pesquisa feita nos seminários revelou que praticamente há um surgimento de vocações que é igual. Atualmente pouco diferem as estatísticas do Sul, do Norte ou do Nordeste do Brasil.

Pilar: E quais seriam hoje os problemas emergentes no campo das vocações?

Edson: Em primeiro lugar o nível de formação, que decai de ano para ano. O seminário reflete a situação da educação no Brasil. Em segundo lugar, muitos jovens que procuram o seminário têm uma afetividade machucada, reflexo também dos conflitos e das crises das famílias. Além disso se percebe que, se até à década de 80, muitos procuravam o seminário porque admiravam na Igreja o envolvimento com as lutas sociais, atualmente é baixíssimo o número destes que vêm dos movimentos mais ativos ou de uma experiência no mundo do trabalho. A maioria inclusive está vindo destes movimentos neo-conservadores da Igreja e destas pastorais que poderíamos chamar de menos comprometidas.

Pilar: Relendo um pouco a história da Igreja do Brasil, percebe-se que nos anos 60-70 quem fez a caminhada foram os padres estrangeiros e religiosos. Hoje qual seria o lugar do padre estrangeiro?

Edson: Nós do setor não gostamos desta expressão 'padre estrangeiro'. O padre que vem aqui é um missionário e basta. A gente diz que estrangeiro é aquele que vem ao Brasil para explorar. Na época da ditadura muitas vezes foram estes padres missionários que se comprometeram mais, inclusive com risco de vida e alguns deles até dando a sua própria vida. A gente tem uma grande gratidão pelos padres estrangeiros.

Pilar: Está iniciando a Assembléia dos bispos em Itaici. O que podemos esperar dela?

Edson: Tratará o tema da missão e do ministério dos leigos. Há uma pesquisa feita recentemente nas dioceses, que revela alguns dados muito interessantes. Para cada padre, há pelo menos 60 leigos que assumem os ministérios mais diversos. Há muitas experiências positivas na Igreja do Brasil e a gente quer ajudar aquelas Igrejas que ainda não deram passos mais significativos para que avancem. É claro que este tema ficou prejudicado por essa Instrução recente de Roma, que trata da colaboração dos fieis leigos com os ministros ordenados. Ela é muito restritiva e fecha muitas possibilidades, se bem que soubemos que ela é mais endereçado a algumas igrejas da Europa, principalmente Alemanha, Austria, Suiça e França. Não atinge nossa Igreja. Mas nós sabemos que alguns bispos terão esse documento na mão para contrapor àquelas posições um pouco mais avançadas deste texto que foi preparado para a Assembléia e que será discutido pelos bispos.




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