Antonio Héliton de Santana
AS IRMANDADES DO ROSÁRIO
S. Benedito me dê
Força e inspiração
Senhora Aparecida
Abra meu coração
Santa escrava Anastácia
Segure na minha mão
Pra eu escrever em versos
Com a força da verdade
O que li e o que vi
Das chamadas irmandades
Povo unido em Jesus
Vivendo a fraternidade
Nesse tempo, o Brasil
Pertencia a Portugal
Era dele uma colônia
Era fundo de quintal
Era fonte de riqueza
Mãe de leite, afinal
As chamadas irmandades
Também ditas confrarias
Não tinham freira nem padre
Só o leigo pertencia
Como eu, como você
João, Cosme e Bidia
Independente do clero
Tinha as rédeas do poder
Porém para existir
Do rei, teria que ter
Aprovação. Veja bem
Tenho mais a lhe dizer.
Naquele tempo o rei
Mandava até na Igreja
Ainda hoje tem padre
Que ao politiqueiro beija
Faz o jogo do patrão
Diz ao pobre: -Assim seja
As irmandades serviam
Para fazer devoção
Ao santo da confraria
Para servir aos irmãos
Com obras de caridade
E amor no coração
Cada irmandade tinha
A sua caixa comum
Mantida pelos irmãos
Por todos por cada um
Para o bem da confraria
Chega, sinto um batecum
Ajudavam os doentes
Quem tava em dificuldade
Faziam enterro, festa
Ao santo, é a verdade
E construíam Igreja
Pro santo da irmandade
Cada irmandade fazia
Sua Igreja mais bonita
Cada qual mais enfeitada
Flores e laços de fita
Paramentos, muitos jarros
Rivalidade agita
A sua Igreja é bela
A minha muito melhor
A sua Igreja é grande
A minha muito maior
Sua festa é muito boa
A nossa é ótima, oh
As irmandades eram sim
Divididas pela cor
A cor que digo é da pele
A dos brancos, sim ,senhor
A dos negros, a dos mestiços
Racismo! Mas que horror
Nem negro e nem mestiço
Podiam participar
Das irmandades do branco
Mas o branco, veja lá
Pertencia a qualquer uma
um meio de controlar
Irmandade do Rosário
É do negro confraria
Do Amparo é dos mestiços
Do branco, da fidalguia
Santíssimo Sacramento
Ora, ora, quem diria
Você está vendo claro
Que havia divisão
Por cor e tambem por classe
Cada um na sua mão
Cada macaco em seu galho
Toco pra frente o sermão
Mas dentro da irmandade
Todo mundo era igual
Mesmos direitos, deveres
Não havia maioral
Votava, era votado
Diretoria e tal
Fosse escravo ou livre
Qualquer um podia ser
Membro da diretoria
Não havia quelelê
Reinava a igualdade
Estou certo, pode crer
Com medo que as confrarias
Dos negros e dos mulatos
Lutassem por liberdade
Preste atenção no ato
O rei, Igreja e branco
Tinham controle do fato
O rei de olho nas contas
Igreja, visitação
O branco lá enfiado
Cada um uma função
Todos tremendo de medo
Da força de nós povão
É certo que havia medo
Não tinha proibição
Era assim melhor pro rei
Controlar toda nação
Todo povo dividido
Em irmandades, então
Também pra cobrar imposto
era uma facilidade
Bastava bater na porta
De todas as irmandades
Recebia ali na hora
Dez por cento é verdade
Tudo isso era enviado
Pras bandas do Portugal
Parte devia voltar
Pra vida colonial
O rei embolsava tanto
Devolvia pouco e mal
Foi então que as irmandades
Decidiram construir
As suas próprias Igrejas
E digo mais por aqui
Contrata até os padres
Pra mais barato servir
O sacramento era caro
O padre queria dinheiro
Irmandade contratava
E demitia ligeiro
Se escreveu e não leu
Vá cantar noutro terreiro
A irmandade servia
Para controle moral
Surgimento de artistas
No tempo colonial
Faziam Igrejas belas
De beleza sem igual
Para o negro a confraria
Espaço de liberdade
Momento raro na vida
De viver a igualdade
De ajudar um ao outro
Vida em fraternidade
Mãe dos negros irmanados
Viva a Virgem do Rosário
Mãe dos pobres lutadores
E também dos solidários
À luta pela justiça
De Deus estão no fichário
Hoje é dia de festa
Os Congos já vão louvar
Com canto, música e dança
Vem homenagear
A Senhora do Rosário
Protetora singular
O sonho de liberdade
Continua no presente
O desejo de justiça
Acompanha bem a gente
O caminho longo é
Dê passo sempre pra frente
Nesta santa caminhada
Os santos de cor estão
Do Rosário, das Mercês
Efigênia meu irmão
Gonçalo, também Onofre
E Antônio. Ê povão
Seu Cosme já vem dançando
Logo atrás vem Margarida
Carregada de crianças
Que quer amor e comida
Geraldina com arte
Vem enfeitando a vida
Bidia anuncia ao povo
Que a hora é chegada
Seu João Nunes puxa a reza
Os Congos estão na estrada
viva o povo que luta
Nesta santa caminhada
©Antonio Héliton de Santana
Outros cordéis
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Antonio Héliton de Santana
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