Pastoral
Sínodo da América
AS CEBS E OS POBRES
O Sínodo da América aconteceu no contexto da preparação do Jubileu do ano dois mil, reforçando este evento, que convoca para revisar a história, retificar caminhos e retomar a direção com novas motivações. Para a Igreja, o Jubileu significa, em primeiro lugar, o retorno à fonte de onde ela brotou, o reencontro com Cristo em quem ela refaz sua identidade e retoma sua missão.
Ao longo do Sínodo foi crescendo o otimismo dos bispos, e a convicção da validade do encontro. Pois tínhamos começado sem grandes expectativas, dado que a motivação para o Jubileu já tinha sido assumida em nossos países pela pronta adesão à convocação da Tertio Millennio Adveniente. Parecia que o Sínodo pouco iria acrescentar. Pesava também a impressão de sua formalidade, pela pouca participação das bases em vista do escasso tempo havido para a sua preparação específica
Isto não impediu que os problemas fossem apresentados, indicando também a urgência que requerem por parte da Igreja e de todos os que precisam se preocupar com eles. Assim, a dívida externa recebeu insistentes questionamentos, no contexto do atual processo econômico, com suas potencialidades, mas com a perversidade que o acompanha. Foram também lembrados os índios, que tiveram defensores especiais em alguns bispos e sobretudo estavam presentes por D. Toribio, bispo índio de Corocoro, na Bolívia. Por sua vez, os negros quase ficaram esquecidos, e precisaram receber uma menção especial por parte do Cardeal Gantin, da Cúria Romana. Igualmente deu para perceber a pouca presença das mulheres, explicável pela configuração do plenário, mas não pela importância que elas têm nas comunidades eclesiais da América.
Foram também identificados com clareza alguns campos de trabalho conjunto do episcopado em nível de toda a América. Entre eles, destacou-se a questão das migrações, o problema do narcotráfico, a resposta pastoral diante das seitas, a cooperação no uso dos Meios de Comunicação Social e a colaboração missionária entre as Igrejas do continente. São estes pontos concretos que solicitam a continuidade do Sínodo, para que não se perca sua intuição original, de fortalecer a comunhão entre os bispos de todo o continente, e colocá-la a serviço da missão da Igreja. Isto requer que se encontrem novos mecanismos de colaboração entre o episcopado americano.
É esta comunhão episcopal que aponta as novas atitudes que decorrem deste Sínodo.
Ele precisa produzir, em primeiro lugar, uma abertura missionária, que retome o impulso evangelizador que o mundo espera da Igreja da América. A abertura missionária precisa encontrar ressonâncias na própria realidade de cada diocese, tornando os cristãos mais ativos e evangelizadores no seu próprio ambiente, assumindo mais claramente sua identidade católica. Faz também com que se superem as fronteiras, não só entre países, mas entre dioceses e paróquias, para abrir caminho à colaboração missionária.
Ficou ressaltada a face misericordiosa que a Igreja da América é chamada a assumir, inspirando-se nas atitudes de Jesus Cristo. Isto se traduz em comunidades mais acolhedoras e abertas às situações difíceis que as pessoas vivem hoje. Esta abertura das comunidades é vivida pela valorização da diversidade de carismas e de ministérios, que permite tanto a revalorização dos ministérios ordenados e o apreço pelo testemunho dos religiosos, como também o reconhecimento da missão própria dos leigos, seja dentro das comunidades pelo assumir de novos ministérios como em sua ação específica na sociedade.
Esta nova postura da Igreja permitirá encontrar adequada resposta pastoral diante das seitas, por um atendimento mais solícito às necessidades religiosas do povo, mantendo a atitude de abertura ecumênica que a consciência cristã vai urgindo sempre mais e que a expectativa do mundo requer com mais rigor.
Para realizar esta exigente dose de interpelações, o Sínodo evidenciou a importância de encontrar energias em Jesus Cristo, na vivência de sua Palavra, na oração, no exemplo dos mártires, na liturgia que une em comunidade e envia em missão, na solidariedade concreta com os pobres onde a presença de Cristo se faz real e histórica. Aos poucos foi calando fundo, no coração dos bispos, o sentido renovado da opção pelos pobres, que leva em primeiro lugar à identificação com Cristo pobre mas cheio de misericórdia pelos pecadores. Identificando-se com este Cristo, a Igreja da América também poderá se tornar humanamente pobre, mas rica da misericórdia de Deus, para oferecê-la a todos.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP) e responsável pela
Pastoral Social na CNBB
Trechos de Sínodo: Caminhos Convergentes
Encarte "Conjuntura Social e Documentação Eclesial" - N° 396