IX Intereclesial
CEBs: Vida e Esperança nas Massas
São Luís, MA - 1997


Cartilha


PENTECOSTALISMO

João Maria Van Damme
Assessor do Secretariado do 9º Intereclesial


1. O qüinquagésimo dia.

Pentecostes. Cinqüenta dias. A festa da colheita ou dos primeiros frutos acontecia num período de cinqüenta dias contados do dia seguinte à Páscoa. Era para os judeus uma temporada de fartura. Não podiam deixar de agradecer ao Deus da Vida pelo grande dom que era a riqueza da natureza. Aos poucos, a festa foi recebendo outros significados. No qüinquagésimo dia, o último da temporada, os judeus começaram a celebrar a memória da instituição da Lei de Moisés. Os israelitas contavam de pai para filho a história daquele grande líder da libertação. Se lembravam como Moisés recebera das próprias mãos de Deus no Monte Sinai os principais mandamentos e regras que regulamentariam a vida social e comunitária.

Conta o Livro dos Atos dos Apóstolos que foi neste qüinquagésima dia que os discípulos de Jesus, com Pedro à sua frente, criaram coragem para enfrentar aqueles que tinham assassinado o Mestre. Com a força do Espírito Santo, saíram do seu esconderijo e iniciaram o trabalho pelo qual tinham sido preparados. Conseguiram superar o medo da perseguição. A todos, não só para os judeus, mas para cada um em sua própria língua, proclamavam a feliz mensagem: sofrimento e morte não são os destinos finais deste mundo. Jesus venceu a morte e a destruição. Todos os povos do mundo: estamos a caminho de um Reino, onde desigualdades e injustiças serão superadas.


2. Um sonho de muitos: reviver a experiência Pentecostal.

Desde o momento em que os Apóstolos sentiram-se fortalecidos pelo Espírito, muitas outras pessoas demostraram o desejo de passar pela mesma experiência. Nem sempre, a Igreja Católica e as Igrejas protestantes tradicionais (Luterana, Anglicana, etc.) reconheciam estas experiências como válidas. Por isso, algumas destas pessoas com um dom muito forte de liderança, fundaram novas Igrejas, chamadas de "pentecostais". Dentro da própria Igreja Católica há um movimento "pentecostal".

O movimento pentecostal tem seu início no século passado, nos Estados Unidos. A pregação dos seus líderes visava acordar os fiéis adormecidos, fazê-los "experimentar" a santidade (Cfr. Juan Bosch Navarro, Para compreender o Ecumenismo, Loyola, São Paulo, 1995. pág. 81). Esta experiência acontecia principalmente nos cultos. Cantos, exclamações, rezas de alta voz, invocações constantes a Deus e a Jesus são algumas das formas mais utilizadas nestes cultos. Cantos e rezas nas Igrejas tradicionais não correspondiam ao sentimento e à cultura populares.

A ligação direta com os problemas que o povo enfrenta também é marcante nas Igrejas Pentecostais. É Jesus que garante a cura, o emprego, a solução para as dificuldades da vida. Para isto, só basta entregar-se a Ele através do ato formal da adesão ao grupo. Por causa da sua simplicidade e de dar respostas fáceis e diretas aos anseios da grande massa, o Pentecostalismo teve uma rápida penetração, sobretudo entre os mais pobres e marginalizados.


3. As CEBs e o Pentecostalismo

Enquanto as Igrejas tradicionais se afastam cada vez mais dos pobres, da sua linguagem, cultura e práticas, as CEBs tentam reencontrar os vínculos com eles. Devemos reconhecer elementos positivos que o Pentecostalismo traz: vivenciar a presença de Deus, reconhecer sua ação entre nós. Isto é importante num mundo em que o Deus Pai e Mãe, o Deus do Amor e da Vida, vem sendo substituído por outros "deuses", como o dinheiro, o poder, o prazer individual e explorador.

As CEBs no entanto buscam ainda reconstruir outros valores: a participação de todos nas decisões, a democracia, a solidariedade, a preocupação também política e social. Reconhecem a presença libertadora de Deus no meio do povo, porém isto não significa que não temos mais responsabilidade sobre o mundo. Deus nos criou neste mundo e nos deu toda responsabilidade sobre ele. "Cura e comida vêm de Deus, escreve Dom José Maria Pires, mas passam pelas mãos dos irmãos, dependem da colaboração de todos." Esta mensagem as CEBs acrescentam aos valores que os Pentecostais descobriram na mensagem apostólica. As estruturas hierárquicas da nossa Igreja se afastaram das massas empobrecidas. Usam uma linguagem difícil e pouco popular. Celebram com pouca criatividade, animação e participação. Por isso, as CEBs têm um papel profético, na sua própria Igreja.

Mas elas têm também um papel profético no meio das Igrejas Pentecostais, chamando atenção para não jogar toda responsabilidade pelo nosso mundo sobre os ombros de um deus-mágico. Jesus não prometeu aos seus seguidores e discípulos a mágica solução das suas dificuldades pelo Pai. Assegurou que quem pretende participar do seu Reino, terá que carregar sua cruz, assumir sua responsabilidade e empenhar-se para que a vontade do Pai seja feita na terra como no céu.


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Colaboração: Missionários Combonianos, Salvador, BA