MUTIRÃO PELA VIDA:
NOVO JEITO DE LER A BÍBLIA

JESUS DE NAZARÉ, PARÁBOLA DE DEUS!


A parábola é o caminho mais curto entre o Homem e a Luz.
León Felipe


Aventura apaixonante


Vamos ler e curtir as parábolas dos Evangelhos. Partimos de uma parábola de hoje. Contam que um discípulo se queixava a seu Mestre: "Belas estórias o senhor nos conta, mas nunca nos revela o seu sentido". E o mestre respondeu: "Você gostaria que alguém lhe desse um fruto, não inteiro e cheiroso, mas já bem mastigado pra você?"


Essa história mostra o sentido escondido das parábolas. Colocam na encruzilhada para se decidir. "Quem tenha ouvidos para ouvir..." (Mc 4,9), diz com simplicidade Jesus, apelando para uma aventura apaixonante: coma você mesmo o fruto!


A que podemos comparar o Reino de Deus?


Jesus falou, fundamentalmente, de uma coisa: do Reino de Deus! Para isso usou mil comparações. Ele começa : "O Reino de Deus é semelhante a..." (Mc 4,26-34). É o início de uma história simples, provocadora e surpreendente.


As parábolas revelam o caráter complexo e dinâmico da vida e do Reino. Jesus, como os mestres da época, não dá uma definição, prefere contar uma história. Jesus narra parábolas para acordar o povo, encantar as crianças e despertar os jovens e os adultos ao seguimento, a um compromisso maior.


Os estudiosos estão de acordo em afirmar: "o conjunto das Parábolas representa um dos núcleos mais importantes da tradição evangélica. Pois, aí encontramos o conteúdo da tradição mais antiga que remonta até Jesus. As Parábolas são o gênero literário que Jesus de Nazaré usou para realizar sua missão de Revelador do Pai, de Evangelizador do Reino, e de Libertador dos Pobres".


Parábolas: Sonho E Resistência Dos Excluídos


Em algumas parábolas temos um pedido de explicação. "Mas explicar o quê?"- perguntava Rinaldo. "Está tudo tão claro. Queriam que Jesus explicasse o quê?".


ejamos as entrelinhas da parábola do grão de mostarda (Mt 13,31-32). Certas pessoas, diante das palavras de Jesus, pensavam: "Olha ai. Somos um grupo insignificante, quase invisível". Outro grupo falava assim: "Filho de peixe, peixinho é! Não podemos sonhar com coisas grandes!" Outro ainda: "Uma andorinha, sozinha, não faz verão!" e outro mais acrescentava: "De tal pai, tal filho!" "Não podemos pretender grandezas que superam nossas capacidades (Salmo 131). É melhor ficar onde estamos".


Jesus não se deixar convencer com esse tipo de argumentos. Insiste: "O Reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda semeado no campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos". Jesus reconhece: "O Reino é uma sementinha", como o grupo de crianças de Santa Rita que leva esse nome, "Sementinha", mas com força para rachar a terra e se tornar árvore. Uma semente com o força de Deus. É nesse contraste "menor - maior" onde se encontra a chave para entender o sonho Jesus. Ai está a chave para abrir a porta e entender a proposta alternativa de Jesus.


A parábola frisa tal contraste. Comparando-a com Ezequiel 17,22-24 que devia estar no coração do povo, fica mais claro. Ezequiel fala de um brotinho de cedro. Jesus, porém, não compara o Reino com o majestoso cedro do Líbano. Jesus o compara com a menor das sementes. Jesus propõe algo bem diferente. O Reino tem começo simples, mas vai se desenvolver e dar frutos. Esse é o Sonho de Jesus. Jesus convida a sonhar e a voar feito águias. Jesus aposta nesse sonho e na resistência dos pequenos.


O caminho pedagógico para isso são as parábolas, estratégia de fé e opção radical de vida. E conta a parábola da semente que cresce com força sem saber como isso acontece (Mc 4,26-29). O pessoal, diante das dificuldades, teima: "Isso não vai dar certo". Jesus, porém, muito mais corajoso e teimoso, conta outra parábola: "Olhai o fermento daquela mulher, não fermentou toda a massa?" (Lc 13,20-21). Assim é o fermento do Reino e tenta botar o fermento novo do Reino na cabeça e no coração do povo.


A "lógica de Jesus" é difícil de entrar na cabeça, porque os discípulos e o povo estão em outra: "Eu quero ser grande, ser o primeiro, ser o maior". E Jesus diz uma e mil vezes: "Não é por aí!" e tenta revelar a força do sonho aos pequenos: "uma andorinha, sozinha, ou em mutirão, sim faz verão!" e passa uma certeza: o Reino vai vingar. As sementes do Reino (grupos de lavadeiras, de jovens, de camponeses sem terra e sem casa, de crianças sem escola e sem saúde, de grupos bíblicos...) estão espalhadas por todo canto e são raízes vigorosas na nova sociedade. Aliás, sem essas sementes e sem esse fermento, o pão da vida e da justiça não chega, não é fermentado! Jesus acredita no pobre, no pequeno, no excluído e convida a participar: "Não fique de fora dessa luta. Entre na roda com a gente, você é muito importante!"


Essa é a "explicação explicada" de Jesus. No fim, ele diz: "Captou?" "Quem tenha ouvidos..." Abra ouvidos! Fique de olho, só se vê bem com o coração!


Jesus, Parábola de Deus: Lc 2,1-10


"Não tenham medo. É um anúncio de alegria para todo o povo!" diz o anjo aos pastores. E um sinal: "Achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura". Aparentemente como qualquer outro menino que nasce numa manjedoura ou em casa ou no carro na porta da maternidade. Mas o convite é para ultrapassar o que os olhos estão vendo e descobrir o enviado e o ungido do Senhor. Por isso continua o anjo aos pastores: "Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o messias, o Senhor".


Natal é isso: Deus nos visitando no seu Filho, o Salvador, o Senhor. Jesus é espelho que reflete com fidelidade o Pai. É Parábola de Deus. Vendo-O e ouvindo-O, estamos vendo e ouvindo o Pai (Jo 14,1-10). Nele descobrimos a glória do rosto de Deus! Jesus é, por tanto, parábola de Deus, o caminho mais curto entre o Homem e a Luz!

Justino Martínez Pérez


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