Conselho Mundial
de Igrejas
Conferência Mundial sobre
Missão e Evangelização


PRESS RELEASE No. 11
29 de novembro de 1996

MULHERES E HOMENS DEBATEM RELACOES DE GENERO
E SEXUALIDADE,EM REUNIAO NA CONFERENCIA DE SALVADOR

As relacoes de genero e a sexualidade foram o tema de reuniao realizada ontem a noite (quinta-feira, 28 de novembro), no Hotel Othon Palace, em Salvador (BA), por iniciativa do grupo feminista participantes da Conferencia Mundial sobre Missao e Evangelizacao, para um dialogo com o pastor anglicano Robinson Cavalcanti, professor da Universidade Federal de Pernambuco.

No ultimo dia 26, durante um painel na conferencia, Cavalcanti chamou a atencao das Igrejas para a dimensao mistica, ludica e erotica da cultura popular e criticou algumas posicoes do movimento feminista do Primeiro Mundo, com relacao, por exemplo, ao tema da abordagem sexual, por considera-las "muito normativas".

Ele chegou a levantar a hipotese da aceitacao do "assedio sexual consentido, como arte e jogo e nao como violencia". Suas posicoes provocaram polemica e, dai, surgiu a proposta do dialogo entre ele e as mulheres que participam desse evento promovido pelo Conselho Mundial de Igrejas.Do dialogo, participaram tambem varios homens.

Em sua intervencao inicial, Cavalcanti afirmou que "o sexo e o ultimo tabu do Cristianismo", atribuindo isto "a heranca do pensamento de Santo Agostinho".Acrescentou que a Reforma Luterana "tentou realizar a primeira revolucao sexual", mas que essa tradicao "foi a primeira a ser esquecida, no Protestantismo". Criticou o dualismo corpo/alma e disse que a evangelizacao colonial, ao exigir que indios e negros andassem vestidos, levou-os a se sentirem culpados diante do corpo e da sexualidade.

De acordo com o pastor, ha pesquisas indicando que grande numero dos internos em hospitais psiquiatricos sao cristaos e cristas e "uma das razoes para isto esta ligada a questao da sexualidade". Procurou resumir, em seguida, a posicao que defendeu no painel do dia 26, afirmando que seu interesse volta-se para uma tomada de consciencia sobre a questao de genero no Brasil e no mundo e para a nao imposicao de "pacotes culturais" nessa materia. Distinguiu, a seguir, os conceitos de " sensualidade" e "sensualismo", "erotica" e "erotismo".

Um tratamento saudavel, em sua opiniao, para essa questao, deveria seguir duas recomendacoes, oriundas dos movimentos de libertacao sexual dos anos 60: 1.Cada adulto, por meio nao violentos, e livre para expressar sua intencao sexual para com outra pessoa, desde que essa outra pessoa nao se sinta agredida; 2.A pessoa deve sentir-se livre para dizer "sim" ou "nao" a qualquer proposta nesse campo.Para Robinson, "os cristaos devem estar abertos para a biologia e a psicanalise e para ouvirem a voz do corpo".

A VOZ DAS MULHERES - O dialogo comecou, a seguir, com a reacao das mulheres (teologas e leigas, de varias partes do mundo) as posicoes de Cavalcanti. Elas disseram que o relacionamento afetivo nao pode ser resumido a uma mera resposta as questoes "sim" ou "nao", acrescentando que, historicamente, as mulheres negras e indigenas, na America Latina e no Caribe, sofreram muita violencia e tiveram seus corpos tratados como objeto. Uma mulher da Liberia lembrou um aspecto que considerou "esquecido" na abordagem de Cavalcanti: a responsabilidade que deve estar presente em qualquer relacionamento interpessoal.

Outra mulher, uma austriaca, reclamou do silencio das mulheres brasileiras, diante do tema (recebeu, mais tarde, a explicacao de uma mulher luterana do Brasil de que esse silencio era devido a dificuldade idiomatica de compreender o debate, feito em ingles). A austriaca afirmou que o tema de genero deve tambem ser visto sob o angulo das relacoes de poder.

Por sua vez, Silvia Schnemann, da Igreja Evangelica de Confissao Luterana do Brasil (IECLB), falou sobre sua experiencia de trabalho com mulheres pobres, na regiao industrial do ABC, no Estado de Sao Paulo. Disse que nao iria falar a partir da teologia feminista ou do feminismo em geral, mas com base no dialogo que mantem com mulheres que "tem necessidade de desenvolver a sua sexualidade reprimida por causa de um certo tipo de educacao". Destacou que o dia-a-dia, que inclui o assedio sexual, "nao nos impede de expressarmos e recuperarmos toda a nossa sexualidade, o nosso jeito de ser e o jogo da sensualidade". Enfatizou que homens e mulheres "sao corresponsaveis" por essa questao e por levar o debate adiante, ja que "o homem tambem e confuso nesse aspecto". Em sua opiniao, as novas geracoes estao tratando esse tema de modo diferente e novo, muito mais responsavel.

O teologo suico Theo Buss, que trabalha na Bolivia, interveio, depois, para perguntar se os europeus "estao preparados" para considerar a experiencia de outras culturas, nesse assunto. Para concluir, Cavalcanti comentou que o tema do assedio sexual era um dos aspectos de sua reflexao e que nao esperava que fosse provocar tanta polemica. Sugeriu que, no debate sobre afetividade, as igrejas procurem ser "comunidades terapeuticas".




O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas, atualmente
330, presentes em mais de 100 países de todos os continentes, a
maioria das quais pertencentes às tradições cristãs. A Igreja
Católica Romana mantém laços de cooperação com o CMI, embora não seja
uma das igrejas membros. O principal organismo de direção do CMI é a
Assembléia Geral, que se reúne aproximadamente a cada sete anos. O
CMI foi constituído oficialmente em 1948, en Amsterdam (Holanda). O
Secretário Geral do Conselho é o pastor Konrad Raiser, da Igreja
Evangelica de Alemanha.

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