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Conselho Mundial de Igrejas |
Conferência Mundial sobre Missão e Evangelização |
PRESS RELEASE No. 16 02 de dezembro de 1996
E algo escandaloso que a escravidao negra na America Latina e no
Caribe tenha contado com a colaboracao ativa de cristaos e da
instituicao eclesiastica, afirmou hoje, em palestra durante a
Conferencia Mundial sobre Missao e Evangelizacao, em Salvador (BA), o
pastor Lesslie Newbigin, da Inglaterra, um dos missionarios-simbolos
das 330 Igrejas Cristas que integram o Conselho Mundial de Igrejas
(CMI), com sede em Genebra, Suica. Newbigin completara 87 anos de
idade na proxima semana.
Com uma fita do Senhor do Bonfim no braco e aplaudido varias vezes,
analisou a relacao entre o Evangelho e a cultura, em termos
historicos e com vistas ao seculo 21. Como ponto de partida, disse
que "nao ha Evangelho que nao esteja numa cultura". Nesse contexto, a
propria apresentacao de Jesus como Senhor tem sido interpretada,
muitas vezes, como expressao de algo ligado ao poder. Essa versao,
com a qual nao concorda, serviu de pretexto para tentar justificar,
em nome de Jesus Cristo e de seu Evangelho, situacoes que atingem a
dignidade humana.
Lesslie Newbigin criticou, em diversos momentos de sua palestra, o
que chamou de "ideologia do mercado". Citou o Islamismo como o
exemplo de uma religiao que tem procurado colocar em xeque essa
ideologia, com base na premissa de que "a vontade de Deus deve ser
realizada aqui e agora" e de que "a nao crenca deve ser punida de
modo severo". Nesse sentido, disse, deve ser criticada uma parte da
midia ocidental- inclusive eclesiastica - que nao reprova a repressao
de alguns paises islamicos sobre os cristaos.
Comparou a abordagem muculmana da ideologia do mercado com a
abordagem crista. "Esta - afirmou - baseia-se nao no poder, mas na
humilhacao sofrida por Jesus na Cruz, que nao significou uma derrota,
mas algo fundamental para a humanidade" e que tambem "baseia-se nao
na coercao, mas no livre consentimento dos fieis".
Entre os maiores desafios para o proximo seculo, Newbigin enfatizou o
da "mundializacao". Esse fenomeno desafias as Igrejas, disse o
missionario, a "retomar a crenca no Evangelho para enfrentar esse
enorme poder da ideologia do mercado livre".
Por outra parte, criticou a postura de igrejas e cristaos que ficam
se perguntando se ha possibilidade ou nao de salvacao, noutros
movimentos religiosos e igrejas."Se os outros vao ou nao ser salvos,
isto e algo que nao nos compete. Uma coisa e certa: havera surpresas,
como disse o proprio Jesus no Evangelho". Reafirmou, entao, sua
crenca "na visao enormemente universalista do poder de Deus que
abraca a todos".
Para Newbigin, a proposta fundamental da atividade missionaria "e a
gloria de Deus" e os seus seguidores "devem dar testemunho desse
amor". Nesse sentido, criticou "uma certa ansiedade e culpa" por
parte de algumas conferencias missionarias ("nao exatamente a de
Salvador", ressalvou) que veem a missao "como se fosse um programa a
cumprir". Comparou,a proposito, a mensagem de Jesus a "uma explosao
nuclear que nao espalha nuvens radioativas, mas apenas a vida em
plenitude".
Nos debates, Newbigin criticou o que chamou de "uma visao negativa da
liberdade, vista como ausencia de limites" e defendeu uma visao
positiva, vista como "a possibilidade de realizar algo". Para ele, um
dos grandes conflitos ideologicos do mundo atual encontra-se no
confronto entre "a verdade e o conceito negativo de liberdade".
O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas, atualmente 330, presentes em mais de 100 países de todos os continentes, a maioria das quais pertencentes às tradições cristãs. A Igreja Católica Romana mantém laços de cooperação com o CMI, embora não seja uma das igrejas membros. O principal organismo de direção do CMI é a Assembléia Geral, que se reúne aproximadamente a cada sete anos. O CMI foi constituído oficialmente em 1948, en Amsterdam (Holanda). O Secretário Geral do Conselho é o pastor Konrad Raiser, da Igreja Evangelica de Alemanha. |