Era uma vez...

Seu Coelho e Seu Lobo


Depois de passar fome durante muito tempo, Seu Coelho botou a cabeça para fora da toca e olhou nervosamente para todos os lados. Seus olhinhos travessos brilharam ao enxergar muito perto dali uma bela horta de cenouras. Voou para lá e devorou quase toda a plantação.

O dono, ao encontrar a sua horta destruída, ficou desolado e decidiu cercá-la, a fim de protegê-la dos coelhos famintos. Seu Coelho olhou bem a cerca, deu um sorriso maroto e não fez o menor caso dela. Cavou um túnel por baixo e novamente devorou as hortaliças.

O dono da horta ficou louco da vida e fez todo tipo de ameaças contra o coelho. Semeou, então, outra vez e preparou uma armadilha para agarrar aquele safado.

Desta vez Seu Coelho caiu. O camponês trancou-o numa gaiola e passou a alimentá-lo com as melhores verduras.

Seu Coelho se sentia muito feliz e a cada dia engordava mais e mais. Foi então que ficou sabendo que o dono da horta estava se preparando para comê-lo. Começou, então, a estudar uma forma de escapar da gaiola. Uma tarde, ao ver Seu Lobo rondando por ali à procura do que roubar, fez-lhe a seguinte proposta:

– Seu Lobo, o senhor não gostaria de garantir a sua comida? Meu amo só me dá carne para comer e eu não gosta nem um pouco. Foi por isso que ele me trancou aqui.

Seu Lobo respondeu:

– Obrigado, Seu Coelho! Eu vou entrar aí agora mesmo para comer toda essa carne.

Abriu a gaiola para que Seu Coelho pudesse sair e entrou para ficar em seu lugar.

Quando o dono da horta chegou para dar de comer ao coelho, encontrou o lobo no lugar dele. Indignado, o homem deu-lhe uma sova de pau até não poder mais.

Todo estropiado e faminto, Seu Lobo saiu correndo pelo bosque, jurando vingar-se daquele coelho safado. Ainda não havia andado muito, quando o encontrou descansando numa moita.

– Te peguei, bandido! – exclamou Seu Lobo, enquanto segurava Seu Coelho pelas orelhas.

– Não fique zangado. Seu Lobo. Para recompensá-lo da surra, vou lhe mandar uma ovelha muito gorda que tenho lá no alto do morro. Imagine só que banquete vai ter!

Seu Lobo, tentado pela idéia de comer a ovelha, soltou Seu Coelho.

– Fique aqui esperando. Já já eu lhe mando a ovelha. Mas tome cuidado para não deixá-la escapar, pois ela está muito gorda. Trate de segurá-la de qualquer jeito.

Seu Lobo, por sua vez, escondeu-se no capinzal para esperar por sua presa.

Então Seu Coelho, muito malandro, pegou uma pedra bem grande, embrulhou-a numa pele de ovelha, amarrou bem e fez com que ela rolasse pelo morro abaixo, na direção em que Seu Lobo se encontrava.

Todo animado, Seu Lobo aprontou-se para recebê-la. Mas a falsa ovelha, que vinha rolando desde lá de cima, deu uma trombada com ele e arrastou-o para a planície, deixando-o meio morto.

Seu Coelho contemplava a cena lá de cima e rolava de tanto rir. Seu Lobo novamente logrado.

– Auuu, auuu! Não é que esse sem-vergonha conseguiu me enganar outra vez? Assim que encontrar esse safado, juro que acabo com ele! – esbravejava Seu Lobo.

Um belo dia, os dois voltaram a se encontrar. Seu Coelho tocava alegremente um pífano, e Seu Lobo, como sempre muito curioso, aproximou-se e perguntou:

– Como vai, Seu Coelho?

– Muito bem, obrigado.

– Que instrumento é esse que tem um som tão bonito? Posso ficar aqui escutando essas lindas músicas? – acrescentou Seu Lobo, que ainda guardava rancor de Seu Coelho, devido a tudo o que ele lhe havia feito.

Seu Coelho, ciente de que Seu Lobo não tinha a menor idéia do que fosse um pífano, respondeu-lhe:

– Veja, Seu Lobo, é assim que se toca. É assim que eu faço. E posso tocar qualquer coisa. Abra bem a boca e vai conseguir tocar tão bem quanto eu.

Então, quando Seu Lobo estava com a boca bem escancarada, Seu Coelho olhou lá para dentro e enfiou o pífano bem no fundo da goela do coitado. E, com os olhos brilhando pela travessura feita, desatou a correr.

Assim, fosse onde fosse, Seu Coelho, graças à sua astúcia, sempre conseguia enganar Seu Lobo, sem se deixar agarrar.


Literatura popular de tradição oral do Equador - Extraído de:
Contos Populares para Crianças da América Latina
Editora Ática



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