A Terra e o povo de Jesus


– Quindim, responda rapidinho: a Palestina do tempo de Jesus era dividida em três regiões principais. No norte ficava a Galiléia, e, no sul, a Judéia. Como se chamava a região central do país?

– Samaréia!

– Sa-ma-ria, Quindim. Por favor!

O país de Jesus não era grande, era pouco maior que o Estado de Sergipe. Mas havia diferenças entre uma região e outra, e também muitos preconceitos. Por exemplo, os habitantes da Judéia – onde ficava a capital, Jerusalém – costumavam se considerar mais autênticos que os outros, a verdadeira raça, o verdadeiro povo.


Galileus e samaritanos


Os galileus eram vistos com bastante desprezo pelos judeus, que os consideravam gente de segunda categoria. Mas, como os judeus, freqüentavam o templo de Jerusalém, celebravam as mesmas festas, observavam as mesmas leis religiosas e acreditavam nas mesmas promessas divinas.

Em relação aos samaritanos, os preconceitos não conheciam limites. Eles eram simplesmente odiados, principalmente pelos habitantes da Judéia. Uma outra raça, um outro povo! Não freqüentavam o templo de Jerusalém, não participavam das festas religiosas! Uns renegados!

Era isso o que pensavam dos samaritanos. Melhor nem chegar perto deles! Infeliz de quem tivesse que atravessar a Samaria! Quando um galileu queria ir a Jerusalém, preferia descer pelo vale do rio Jordão.


Longa história


Esse modo de pensar tinha raízes antigas. Muitos séculos antes, logo depois da morte do rei Salomão, a Palestina foi dividida em duas partes: o Reino do Norte (chamado Israel) e o Reino do Sul (chamado Judá). Houve brigas e até guerras entre um reino e outro.

Os reis do Norte – onde ficava a Samaria – fizeram de tudo para impedir que o povo fosse a Jerusalém. Criaram santuários como alternativa ao templo.

Uns duzentos e poucos anos após o racha, os assírios invadiram o Reino de Israel, deportaram a população, destruíram o que podiam. E mais: o rei da Assíria mandou vir gente de tudo quanto era canto para ocupar a Samaria, o centro do ex-Reino de Israel.

Os novos moradores chegaram com os seus costumes, suas religiões, seus deuses – costumes, religiões e deuses que não tinham a ver com a fé do povo da Palestina. A Samaria passou a ser vista como terra de pagãos, infiéis.

Séculos se passaram, mais tarde também o Reino de Judá foi destruído (exílio da Babilônia), veio a reconstrução, os samaritanos passaram a adotar em grande parte a mesma fé de todo o povo da Palestina, novas ocupações estrangeiras, etc. – mas os preconceitos continuaram.

Renegados! Gente que não presta!


Quem é o meu próximo?


Gente que não presta, os samaritanos?

Certa vez, um doutor da lei – um desses que diziam conhecer tudo sobre a Lei de Deus – perguntou a Jesus o que precisava fazer para alcançar a vida eterna. A pergunta tinha muita malícia. Ele queria ver se Jesus caía em contradição, explica Lucas, no capítulo 10 do seu evangelho.

– O que é que está escrito na Lei de Deus? Como você lê? – quis saber Jesus.

Ele, então, respondeu:

– Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente. E ame ao próximo como a si mesmo.

– Você respondeu certo. Faça isso, e viverá – disse-lhe Jesus.

– Mas quem é o meu próximo? – perguntou o doutor da lei.


O bom samaritano


Jesus, então, contou o seguinte caso: um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe arrancaram tudo e ainda o espancaram, deixando-o jogado no chão, quase morto.

Por acaso, caminhava por ali um sacerdote do templo de Jerusalém. Quando viu o homem, passou adiante, pelo outro lado da estrada. O mesmo aconteceu com um levita, um desses que prestavam serviços no templo.

Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto do homem espancado, viu e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativo nas suas feridas. Depois, colocou o homem em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele.

No dia seguinte, o samaritano pegou um dinheiro e entregou ao dono da pensão, recomendando: "Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais".

– Na sua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? – perguntou Jesus ao doutor da lei.

– Aquele que praticou misericórdia para com ele – respondeu o doutor da lei.

– Vá e faça a mesma coisa – disse-lhe Jesus.


Casos de hoje


– Nossa, tio! Esse tal de doutor da lei deve ter ficado picado! Já pensou? Logo um samaritano, que era odiado por eles...

– Isso mostra que Jesus não entrava na deles. Nada pior do que o preconceito, a raiva e o ódio contra pessoas diferentes, de outra raça, de outra religião!

– Tio, em São Paulo, os nordestinos sofrem pra caramba! Nunca vi tanto desprezo. Nordestino só é bom na hora de trabalhar, de dar duro.

– Mas também os índios são desprezados, vocês não estão vendo?

A conversa vai longe. Nordestinos, indígenas... Braskuka lembra o povo negro, quanto preconceito e discriminação! Quindim fala das criancinhas e também das pessoas de idade. Braskukete apresenta o caso das mulheres...

Falando em mulheres... Certa vez, Jesus teve que atravessar a Samaria (coisa que pouca gente tinha coragem de fazer). Chegou, então, a uma cidade chamada Sicar. Cansado da viagem, sentou-se junto ao poço – o poço de Jacó –, que ficava perto da cidade e era de onde as pessoas tiravam água para beber, cozinhar, se lavar... Era quase meio-dia. Sol quente. Sede.


Bate-papo com uma samaritana


Chega uma mulher para tirar água, uma samaritana. Jesus estava sozinho, porque os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.

– Será que dá pra me arranjar um pouco d'água? Estou com sede – diz Jesus à samaritana.

– Como é que você, sendo judeu, pede de beber a mim, que sou samaritana? – pergunta a mulher.

O evangelista João, que conta o caso no capítulo 4 do seu evangelho, comenta: "De fato, os judeus não se dão bem com os samaritanos".

A conversa entre Jesus e a samaritana vai longe. Ela, falando do poço e da água do poço, e Jesus, falando para ela de uma outra água, que quem bebe nunca mais fica com sede: a "água viva", que ele podia dar. Conversam sobre muitas outras coisas...


Samaritanos hospedam Jesus


A certa altura, chegam os discípulos, de volta da cidade. João escreve: "Eles ficaram admirados de ver Jesus falando com uma mulher, mas ninguém perguntou o que ele queria, ou por que ele estava conversando com a mulher".

O comentário faz sentido. Conversar com uma mulher, ainda mais com uma desconhecida, era desaconselhável, proibido. Conversar com uma mulher estrangeira, e, ainda por cima, uma samaritana, era o cúmulo! Onde já se viu?

Jesus rompe com os preconceitos. Ele ensina uma nova lição.

Depois da conversa, a mulher deixa o balde ali mesmo e volta correndo à cidade, para falar com a sua gente sobre o encontro que tivera com Jesus. Um homem fantástico! Um profeta!

Muita gente corre ao encontro de Jesus, para ouvi-lo. Os samaritanos pedem, então, que Jesus fique com eles. Jesus aceita o convite e fica ali durante dois dias.

Muitos samaritanos acreditaram em Jesus e na sua palavra – conta João. Casos bonitos, não é verdade?

Coisas de Jesus, o grande Jesus!

Dimas A. Künsch



Volta ao Sumário do mês de Outubro



Para saber mais, escreva para:
ALÔ MUNDO
Cx. P. 55 - CEP 06751-970 Taboão da Serra, SP
E-mail: camsp@mandic.com.br


Colaboração da:
BCA Biblioteca Comboniana Afro-brasileira
E-mail: comboni@ongba.org.br