Nasce na vertente sul do Himalaia. Percorre 2.700 quilômetros. Deságua no Golfo do Bengala. Suas águas irrigam milhares de hectares de terra que surgem ao longo de seu percurso. É o Ganges, o rio mais sagrado da terra. O banho em suas águas garante a purificação dos pecados e a salvação eterna. Hinduísmo - 2
O banho celeste
no rio dos deuses
Ganga! Ganga! Um grito de alegria me acorda do meu cochilo. Os rostos se enchem de luz. Os passageiros levantam e olham pela janela. Muitos juntam as mãos no peito, as levam até a testa e abaixam a cabeça em reverência. É o namasté, uma saudação típica dos indianos. Outros rezam em voz alta os slokas, versículos dos Vedas, as sagradas escrituras dos hinduístas. Não consigo entender logo o que está se passando. Só depois de abrir um espaço no meio daquela multidão, descubro que o motivo de tanta alegria é a vista do Ganga Mata, a Mãe-Ganges, nome carinhoso com que os indianos chamam o rio mais sagrado da terra.
São onze horas da manha quando o trem, bem devagarzinho, começa a atravessar a ponte de ferro e chega a Benares, ou Varanasi, antigo nome da cidade santa, meta de romeiros em busca da purificação, da liberdade e da paz eterna.
O presente dos deuses
Segundo a tradição, Varanasi foi o lugar que o grande deus Siva escolheu para seu lar terreno após casar-se com a encantadora deusa Parvati. A cidade fica às margens do Ganges. O rio, em tempos remotos, fluía pelas esferas do paraíso. O rei Bhagiratha orava todo dia para que suas águas descessem sobre a Terra para purificar as cinzas de seus ancestrais. Mas a força do rio teria destruído o mundo. Para que isso não acontecesse, o deus Siva permitiu que as águas sagradas descessem até a Terra, fluindo docemente ao longo de seus grandes cabelos. Para todo hinduísta, o Ganges é um dom de Siva. Um banho em suas águas é "um banho no céu". É por isso que milhares de romeiros chegam de todo lugar da Índia para visitar Varanasi. Aqui o rio, enriquecido pelas águas de seus afluentes, torna-se grande e majestoso. Além disso, em Varanasi, o Ganges, após ter percorrido centenas de quilômetros em direção ao Sul, faz uma grande curva como se quisesse retomar seu caminho de volta para o norte em direção à nascente. Nada de especial para nós, mas para os hinduístas, tudo isso é de extrema importância: é a vida que volta à sua fonte, expressão do desejo que ocupa o coração de toda pessoa.
O banho no céu
Todo dia, na hora em que o sol desponta, os romeiros se dirigem às águas do Ganges para o banho de purificação. Milhares de peregrinos se congregam aos pés de escadas de pedra - conhecidas como gaths - que dão para o rio. Ali, enquanto lavadeiras batem roupas, crianças brincam na água, astrólogos fazem horóscopos e iogues executam incríveis contorções, os peregrinos se banham para lavar os pecados do corpo. O gath mais importante é o Dasashvamedha, a porta principal da cidade. O Manikarnika é o mais sagrado, pois ali se cremam os mortos em cerimônias que respeitam as hierarquias das castas.
Para a casta superior, a dos brâmanes, há incensos e flores. Para os demais, o ritual é bem mais simples, e pode ocorrer até em terrenos baldios. Os corpos dos pobres que não podem pagar a cerimônia, são jogados diretamente no rio, deixando aos peixes e aos abutres a tarefa de purificá-los. Segundo o hinduísmo, quem tem a honra de morrer em Benares - ou ter suas cinzas jogadas no rio - está livre de outras reencarnações e atingiu a "libertação suprema".
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Colaboração da:
Biblioteca Comboniana Afro-brasileira E-mail: comboni@ongba.org.br |