CEARÁ
Terra de Padre Cícero
Seu nome passou do rio à capitania, em 1799, à província em 1822 e ao Estado em 1899. É de origem obscura, sendo freqüentemente escrito no século XVII com a letra "s", Seará, Siará. Manuel Aires do Casal apresenta como palavra do idioma indígena, ciará, "canto da jandaia", e José de Alencar deriva do tupi cemo, "cantar forte, clamar" e de ara "pequena arara, periquito".
A conquista da antiga capitania do Siará Grande teve início em 1603, com a bandeira de Pero Coelho de Sousa, que, lutando vantajosamente contra índios e franceses, seus aliados, se fixou por pouco tempo na foz do rio Siará (Ceará), distante 10 quilômetros da futura cidade de Fortaleza.
Não conseguindo dominar a terra, Pero Coelho retirou-se em 1607 para a Paraíba, de onde sua expedição tinha partido, por ocasião da saída de outra, com fins catequistas, dirigida pelos jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira. O objetivo dos dois padres era o de neutralizar a resistência dos indígenas, porém sem sucesso: Francisco Pinto foi assassinado pelos índios; seu companheiro se salvou e a expedição se desfez.
Entre 1637 e 1654 o território foi dominado pelos holandeses, que constroem o forte Schoonenborch, na embocadura do rio Pajeú. Somente após a expulsão dos holandeses é que se inicia a colonização portuguesa. Estes reformaram e transformaram o forte em quartel e sede do governo da capitania. Em 1656, por ordem da metrópole, é incorporado à capitania de Pernambuco.
O forte resistiu até 1812, quando outro, de alvenaria, o substituiu. O mesmo local da fortificação holandesa serviu de base à Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em torno da qual se formava um grupo populacional. Daí o nome da cidade de Fortaleza.
A irradiação populacional para o interior foi mínima pois, sem o estímulo da metrópole, o povoamento deveria se desenvolver por conta. Homens de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia, sabendo haver lá ótimas pastagens e um bom clima dos sertões do Ceará, começaram a ocupação, expulsando os índios, matando, ou às vezes aproveitando-os para o trabalho.
Em 1799, o Ceará se separa de Pernambuco. Sua direção político-administrativa passa a ser exercida através de governadores nomeados pelo rei. O comércio direto com a Europa intensificou as exportações dos produtos locais. O algodão passou a integrar a riqueza geral. De ótima qualidade, ainda hoje é um dos principais produtos de exportação do Ceará, principalmente para a Europa.
Em 1822, os cearenses se engajam na luta pela independência. Em 1824, junto com Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba, participa da Confederação do Equador. Os revoltosos proclamam um novo presidente da província, mas a rebelião é contida pelas tropas de lorde Cochrane.
O Ceará desenvolve-se no reinado de dom Pedro II, com a chegada da navegação a vapor, das estradas de ferro, da iluminação a gás e do telefone. Em 1884, é a primeira província a libertar os escravos. É também uma das primeiras a aderir à República.
Ocupando uma área de 146.348,3 km2, o Estado do Ceará tem uma população de 6.549.148 habitantes, sendo 48,53% homens e 51,47% mulheres. Sua população urbana atinge 65,35%, enquanto que a rural chega a 34,65%. As cidades mais populosas são Fortaleza (capital), Juazeiro do Norte, Maracanaú, Caucaia, Sobral e Crato. Seus rios principais são: Jaguaribe, Salgado, Conceição, Acaraú, Banabuí, Trussu, Pacoti e Pirangi.
O Estado possui clima tropical e semi-árido, com temperaturas médias anuais de 24ºC no tropical e acima de 24º C no semi-árido. A pluviosidade é reduzida (menos de 1.000mm por ano). As vezes a estação chuvosa não acontece, desencadeando o fenômeno da seca.
A lagosta cearense está presente nos mais finos restaurantes de Paris e de Nova York. Já que é o maior exportador brasileiro do produto, o Estado se orgulha também de servi-lo aos visitantes, sempre a preços convidativos. O jabá também é espetacular. O Ceará disputa com o Rio Grande do Norte quem faz o melhor do Nordeste. Não deixe de lado também os mariscos e os caranguejos.
Dentre as principais atrações do Estado estão a cidade de Fortaleza que, além das praias arborizadas e calçadões, abriga a casa de José de Alencar, onde nasceu o romancista, o Forte Schoonenborch, o Farol de Mucuripe, em estilo barroco, erguido pelos escravos (1846) em homenagem à princesa Isabel, e a Estátua de Iracema, homenagem a José de Alencar, que fica no local onde "a virgem dos lábios de mel" esperava que seu amor regressasse - o cais do porto.
É no Ceará que estão algumas das praias mais bonitas do Brasil: Canoa Quebrada, com suas casas de palha e ruas de terra, Morro Branco, praia extensa e cheia de cavernas e nascentes de água doce, Cumbuco e seu imenso coqueiral, Lagoinha, em Paraipaba, com seus dois morros formando uma meia-lua e um morro no meio que dizem esconde tesouros de piratas, e também Jericoacoara, onde o mar é morno, verde e onde existem dunas gigantescas que caminham com o vento. É um paraíso.
Vale a pena também conhecer o Parque Nacional de Ubajara, a 348 km de Fortaleza, onde está a gruta de Ubajara (um belo trabalho da natureza com formações de estalactite e estalagmite) e belas cachoeiras, onde, segundo a lenda, Iracema costumava se banhar.
Fonte: Roteiros Turísticos Fiat/Folha de S. Paulo,
Enciclopédia Mirador e Almanaque Abril
PADRE CÍCERO
Líder religioso venerado por milhares de camponeses, padre Cícero nasceu em Crato, mas abandonou sua cidade para cuidar de seu rebanho no pequeno povoado de Juazeiro.
Com o passar do tempo, "milagres" foram acontecendo e o caso foi parar no Vaticano, que o proibiu de oficiar atos religiosos. Após expor pessoalmente os fenômenos a Roma, padre Cícero recuperou o direito de celebrar missas. Acusado de continuar estimulando o fanatismo, foi enfim suspenso da ordem e caiu na política.
Como político, conseguiu a autonomia de Juazeiro e tomou posse como primeiro prefeito da cidade, em 4 de outubro de 1911. Foi destituído do cargo pelo governador Franco Rabelo e, após vários conflitos e a deposição de Rabelo, Cícero reassumiu o cargo de prefeito (1927).
Excomungado pela Igreja no final dos anos 20, padre Cícero permanece como eminência parda da política cearense por mais de uma década.
Morre no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, mas ainda hoje é considerado um santo pelos sertanejos. Sua romaria, apesar de ter sido suspensa pelas autoridades da Igreja Católica por heresia, acontece em Juazeiro do Norte
nos dias 1 e 2 de novembro.
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Colaboração da:
Biblioteca Comboniana Afro-brasileira E-mail: comboni@ongba.org.br |