Natal
Faltam dois dias...

Atrás da verdadeira estrela


A LENDA DOS REIS MAGOS

Na antiga província de Cabeçônia, moravam sete homens cuja sabedoria era conhecida no mundo inteiro. Eles passavam o tempo todo imersos no silêncio. Observavam atentamente a natureza. Faziam cálculos para desvendar os segredos da terra. Indagavam às estrelas para compreender os enigmas do céu. Uma vez por semana atendiam o povo que chegava dos lugares mais afastados para pedir conselhos e sugestões. Escutavam e falavam pouco. Mas suas palavras sempre davam certo. Tinham fama de reis.

Naquele ano, cortaram o atendimento ao público e fecharam-se em seus grandes castelos. De dia passavam o tempo todo em reuniões com seus colaboradores. À noite ficavam de nariz para o alto olhando as estrelas. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. O povo andava dizendo que, segundo os cálculos dos sete sábios, uma grande estrela estava para aparecer no céu. Não era uma estrela qualquer, mas o sinal de um grande evento: o nascimento do Rei dos Reis. Com a sua luz, a estrela teria levado os Magos até o lugar do prodigioso acontecimento. As malas estavam prontas. Só faltava a estrela. Passaram muitos meses sem que nada acontecesse, até que uma noite, no escuro do céu, apareceu uma luz deslumbrante: era a grande estrela. Sem perder tempo, os sete Magos colocaram-se a caminho tentando não perder aquele sinal.

I Shai foi o primeiro. Ele montou uma caravana de centenas de pessoas. Não tinha idéia de quanto tempo teria durado a viagem. Levou consigo muita comida e muita roupa. Não faltavam os presentes para o Rei dos Reis. Com a ajuda de seus colaboradores, nunca perdia de vista a grande estrela. Dormia só de dia. Quando o sol deitava e as trevas tomavam conta da terra, acordava para esperar o aparecimento da grande estrela. Mas certo dia, enquanto a caravana descansava na região das Grandes Montanhas, alguma coisa chamou a atenção do rei. Era uma luz intensa, mais forte do que a da grande estrela. Chamou os guardas e mandou selar os camelos para retomar a marcha. Andaram dia e noite até chegar ao Vale do Ouro. I Shai e seus colaboradores nunca tinham visto nada de mais bonito. Acariciavam as paredes da montanha imaginando os sonhos que podiam realizar com todo aquele ouro. A estrela tentava brilhar mais forte para que o rei mago não se esquecesse dela, mas, I Shai, fascinado pela idéia de se tornar rico, acabou se esquecendo dela.

Mar Duk era o mais jovem dos reis Magos. Era forte e bonito. Seus olhos azuis eram uma tentação para muitas mulheres que acabavam se apaixonando por ele. Ele andava rápido. Não via a hora de chegar ao lugar indicado pela estrela. Mas um dia, enquanto tomava banho nas águas de um rio, viu uma moça bonita que penteava seus longos cabelos loiros. Não conseguiu resistir. Fugiu com ela, esquecendo-se da estrela e de seus colegas.

Lan Pi era corajoso e generoso. Não gostava de injustiças. Ele não via a hora de conhecer o Rei dos Reis porque sabia que vinha para estabelecer o direito. Cercado por valorosos guerreiros, começou sua marcha atrás da estrela. Passava o dia inteiro fazendo cálculos e, ao cair da noite, ficava ansioso até a estrela aparecer. Um dia chegou à terra do rei Grosso, homem cruel que explorava os pobres e mandava matar quem não gostava dele. Lan Pi não agüentou aquela situação. Decidiu defender os coitados. Mandou seus homens comprar armas e começou uma grande guerra. Como sempre acontece, a violência acabou entrando no sangue do rei Mago que começou a praticar barbaridades contra seus inimigos. Conseguiu derrotar o exército do Rei Grosso, mas a sede de poder tinha tomado conta dele. Dotado de um exército poderoso, começou a conquista dos outros reinos para estender seus domínios. Tornou-se um homem cruel. Obcecado pelo poder, acabou não enxergando mais a estrela.

Lin Pen era um homem de grande cultura. Gostava de ler, até quando estava em viagem. Mas naqueles dias deixou os livros de lado para não se distrair. Queria seguir a estrela a qualquer custo. Certo dia, durante a viagem, chegou a uma cidade famosa no mundo inteiro pela sua grande biblioteca. Lin Pen tentou resistir, mas não conseguiu. Pediu licença por um minuto, só para dar uma olhadinha, mas nunca mais saiu. Distraído com todos aqueles livros, esqueceu-se da estrela e do Rei dos Reis.

Sobraram Melchior, Gaspar e Balthasar. Os três eram muito amigos, portanto decidiram fazer a viagem juntos. Balthasar, o mais velho, era o único que de vez em quando cochilava, mas Melchior, que era brincalhão, encarregava-se de dar-lhe um puxão para acordá-lo. Os três vigiaram o tempo todo para não perder a estrela. Às vezes até esqueciam de comer alguma coisa para não tirar os olhos daquela luz maravilhosa. Não viam a hora de chegar ao lugar indicado, porque sabiam que iam ser testemunhas de um acontecimento único.



O PRESENTE DOS POBRES


Passei a noite de Natal numa casa de acolhida para doentes terminais de AIDS. Todos os que podiam levantar sentaram-se ao redor da mesa para a Ceia. Foi um momento de grande alegria. Logo depois, celebramos a Missa do Galo. Durante o ofertório, alguns doentes, junto com o pão e o vinho, ofereceram o AZT, um dos remédios usados para combater a doença. Sabendo que aquele remédio custava muito caro e que, para eles, não fazia mais efeito porque infelizmente a doença já estava em estado muito avançado, renunciavam ao tratamento para colocá-lo à disposição dos outros doentes sem recursos. Fiquei comovido. Com aquele gesto, os pobres me ensinaram que o Natal é festa de verdade só quando se aprende a sacrificar a si mesmo para que os outros tenham vida.


Juan Manuel Rodríguez



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