Nono Intereclesial de CEBs

Cebs e massas

Pedro A. Ribeiro de Oliveira


O nascimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) se deu no contexto das mudanças provocadas pelo concílio Vaticano II e Medellín (a Segunda Conferência dos Bispos da América Latina em Medellín, Colômbia, em 1968). É, portanto, natural que elas reagissem negativamente contra as formas anteriores de catolicismo.

A primeira geração de membros das CEBs experimentou uma espécie de conversão, ao descobrir o catolicismo da libertação. É como se as formas populares de catolicismo não fossem propriamente católicas, porque não punham a bíblia no centro de sua vivência religiosa nem uniam a fé cristã às lutas coletivas por melhores condições de vida.

Nesse primeiro momento, que é o momento de gênese das CEBs, seus membros se sentem como se reinventassem a Igreja, buscando na tradição mais antiga das primeiras comunidades cristãs um modelo para essa "nova forma de ser Igreja", como bem a definiram os bispos do Brasil em 1982. Merecedoras da aprovação da hierarquia e com sólida fundamentação teológica, as CEBs se consolidaram e expandiram como uma novidade na Igreja e na sociedade. Nesse contexto, não participar das CEBs era como rejeitar a própria Igreja.

Essa contradição entre as CEBs e outras formas populares de catolicismo se intensifica à medida que a opção preferencial pelos pobres as leva a uma pastoral de conscientização e organização popular, onde não há lugar para um comportamento não-participante. Em certos casos, as CEBs foram radicais: preferiam contar com poucos membros, desde que atuantes, a incluir a massa de católicos e ter de tolerar sua presença irregular e massiva.

A conseqüência é que o povão católico ficou sem espaço de participação, ainda que esporádica, na sua igreja local. Assim vai-se criando um fosso institucional entre as CEBs e o povão católico: cada qual tem seu espaço religioso, como se não fossem ambos parte da mesma grande comunidade católica.

Aqui se coloca o problema pastoral hoje enfrentado pelas CEBs, tema central do seu Nono Encontro Intereclesial: ou elas se abrem para a grande massa de católicos ditos não-praticantes, ou se contentarão em ser um catolicismo de minoria na sociedade brasileira.


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Pedro A. Ribeiro de Oliveira, sociólogo, é assessor das CEBs. O trecho acima foi retirado de sua contribuição para o texto-base do Nono Intereclesial de CEBs.