Ecumenismo

Semente cresce
e muda a história


A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (11 a 18 de maio) chama à oração e ao trabalho em comum. União das Igrejas cristãs, superando uma história de desavenças.


Therezinha M. Lima da Cruz


O Reino de Deus é como um grão de mostarda, que começa minúsculo e cresce incrivelmente, até que à sua sombra se abriguem as aves do céu - disse Jesus (cf. Mc 4,30-32).

Assim são as coisas do Reino, surpreendentes, capazes de se desenvolver a partir de situações que a princípio não chamam suficiente atenção.

Por que crescem? Porque correspondem à vontade de Deus e aos mais profundos anseios humanos.


GOSTO DE "QUERO MAIS" - Poderíamos dizer que o ecumenismo tem muita semelhança com esse grão de mostarda de que fala Jesus. Às vezes, ao falarmos do assunto em alguma igreja, até ouvimos alguém espantado que pergunta: "E isso existe mesmo?! Onde?".

Mas o ecumenismo não só existe como tem um enorme potencial de crescimento. Ele é como certos produtos, tão bons que se vendem sozinhos.

Tudo que esse nosso produto necessita é de uma espécie de "amostra grátis": provando uma vez, a pessoa acaba querendo mais, tamanha é a alegria que o convívio ecumênico fraterno faz nascer no coração.

Assim, é fundamental que mais pessoas possam fazer essa primeira experiência ecumênica.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma oportunidade ótima para esse começo.

É muito mais fácil convidar alguém para participar simplesmente de um momento de prece ecumênica do que explicar, de forma convincente, os princípios do movimento da busca da unidade.

Fazendo direito, essa "amostra grátis" desperta o gosto de "quero mais".

Por isso, não é de se espantar que a participação na Semana venha crescendo muito a cada ano. É que não há como rejeitar algo tão bom, depois que se conhece.


MUDANDO A HISTÓRIA - O crescimento do grão de mostarda ecumênico traz a sensação empolgante de estarmos mudando a história: são séculos de antagonismo e intolerância sendo superados pela alegria de descobrir no outro um irmão da mesma família cristã.

Nesse sentido, cada Semana de Oração pela Unidade é um pequeno milagre, e não é por acaso que a culminância desse instrumento de transformação histórica acontece na festa de Pentecostes.

É o Espírito Santo que faz a superação das línguas diferentes de cada igreja e nos une no essencial. Quem já experimentou sabe o tamanho da emoção que se descobre ao entrar nesse caminho.

Este ano, o tema da Semana é "Reconciliai-vos com Deus", baseado em 2Cor 5,29.

É um convite para nos reconciliarmos com Deus, com os irmãos, com a história. Até os não-crentes esperam isso do cristianismo.

Paulo diz que Jesus nos confiou o ministério dessa reconciliação. Para que o mundo creia, esse será um testemunho indispensável.

Se nós, cristãos, não formos capazes de viver em paz, como hão de crer os que nos contemplam?


RIQUEZA DA DIVERSIDADE - A cada ano, a Semana de Oração pela Unidade tem sido adubo suficiente para o crescimento do nosso grão de mostarda. A planta já tem alguns ramos que brotam com esperançoso vigor.

Marcos fala das aves do céu que poderão se abrigar à sombra da árvore que cresce. À sombra da unidade cristã muita coisa boa pode ser defendida com mais credibilidade e entusiasmo.

A paz, a justiça, a alegria do amor de Cristo que nos une serão cada vez mais visíveis se, mudando a história, recuperarmos nossa felicidade de sermos família, unidos na riqueza da nossa diversidade.

Para dar a mais gente essa enorme alegria, divulgue a Semana, informe-se dos horários de culto, convide quem quiser provar essa emoção.

Depois é só aguardar: a semente é tão boa que cresce sozinha.


Therezinha Motta Lima da Cruz, católica e autora de inúmeras publicações na área de catequese, é membro da diretoria do Conic.


Casa de todos

ENTREVISTA: ERVINO SCHMIDT

Ervino Schmidt é mestre em teologia e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).
Em seu currículo, apresenta uma longa experiência de docência na Faculdade de Teologia da IECLB, tempo durante o qual foi ativo cooperador da Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (Aste), tendo inclusive assumido a presidência desta associação por dois anos.
Foi também um dos batalhadores para a criação do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião (IEPG), que conta com um núcleo em São Bernardo do Campo/SP e outro em São Leopoldo/RS.
Atualmente é secretário executivo do Conic.


O que é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic)?

- Fundado em 1982, o Conic é uma associação fraterna de Igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador. Unidas pelo amor de Deus, pela confissão de fé comum e pelo compromisso com a missão, as igrejas-membros sentem-se chamadas a um testemunho comum do Evangelho e ao exercício do amor e do serviço, especialmente aos mais necessitados.
Entre as atividades do Conic, podemos mencionar: encontros de dirigentes nacionais das igrejas-membros, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, publicações sobre ecumenismo e diálogo religioso, seminários sobre temas de relevância para as igrejas, combate ao racismo e a todo tipo de discriminação e apoio aos movimentos sociais.
São membros do Conic as seguintes Igrejas: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Metodista, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil.


Ecumenismo é um termo difícil. Dá para traduzir?

- O termo ecumenismo hoje é usado amplamente no sentido da busca de unidade entre os cristãos. De maneira mais abrangente, também é empregado para designar o diálogo entre todas as religiões.
Quanto à etimologia e ao conteúdo, o termo vem de longe. Vem do grego clássico (oikoumene) e pertence, na verdade, a toda uma família de palavras. Estas, no seu conjunto, dão uma visão do conteúdo.
Oikoumene está relacionado a oikos (casa, o lugar onde se mora), oikeiotés (expressão de relação, de amizade) e oikonomia (administração da casa). Oikoumene, por sua vez, designa a terra habitada, o universo.
Nesse sentido, "ecumenismo" carrega em si a preocupação de que tenhamos nossa casa como terra habitável.
Ela será habitável se derrubarmos, a partir do Evangelho, todo tipo de preconceito, todos os muros de separação, e se nos empenharmos por justiça, paz e integridade da criação.


Quando surgiu a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos?

- Os inícios remontam ao século passado. Mas é neste século que temos as datas mais marcantes.
Em 1908 foi celebrada a "Oitava pela Unidade da Igreja", oito dias de oração, por iniciativa do reverendo Paul Wattson, dos Estados Unidos. A experiência se espalhou pelo mundo.
Em 1926, o Movimento Fé e Constituição - que depois, em 1948, desembocaria no Conselho Mundial de Igrejas - passa a publicar "Sugestões para um Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos".
Deve ser rememorado, também, o Decreto sobre Ecumenismo do Concílio Vaticano II (1962-65), sublinhando que a oração é a alma do movimento ecumênico. O Vaticano II encoraja para a prática da Semana de Oração.
A partir de 1968, os textos para a Semana de Oração são elaborados em colaboração entre Fé e Constituição, do Conselho Mundial de Igrejas, e o Secretariado pela Unidade dos Cristãos, do Vaticano.
Aqui no Brasil, o Conic adapta os textos à nossa realidade e os divulga. Em 1996, foram distribuídos 15 mil exemplares dos subsídios litúrgicos para a Semana. Este ano, até a terceira semana de março, esse número saltou para 30 mil.
Agradecemos a Deus por esse "despertamento". Percebe-se cada vez mais que o ecumenismo é uma forma de espiritualidade. Brota do amor a Jesus e às irmãs e irmãos.