Guiana

Indígenas ensinam a preservar


Audácia de um garoto reacende debate sobre exportação de aves e animais.


Mike James

Michael Griffith, um estudante de 13 anos, é de Santa Rosa, Moruka, a maior comunidade dos indígenas Arawak da Guiana.

Meses atrás, Michael foi detido por algumas horas pela polícia e obrigado a pagar uma indenização de 32 dólares - a metade do salário mínimo mensal - a um vendedor de pássaros e animais silvestres.

O crime de Michael foi ter libertado doze macacos recém-capturados. Ele explicou que tomou essa decisão quando viu os animais amontoados numa pequena jaula e um dia inteiro sem comida.


DEBATE AUMENTA - A ação de Michael e sua prisão deram resultados. Comunidades indígenas e grupos ambientalistas aproveitaram o episódio para reacender o debate sobre a polêmica decisão do governo de permitir novamente a exportação de animais silvestres. Esse tipo de comércio estava suspenso por causa do risco de extinção de espécies raras de aves e animais.

Um grupo local, Amigos da Vida Silvestre, elogiou Michael por seu "heróico e valioso ato de consciência".

Indígenas da comunidade de Santa Rosa queixam-se de que os periquitos - que uma vez voavam em bandos sobre a região - desapareceram completamente.

Eles temem que muitas variedades de tucanos, papagaios e outras aves e pássaros, antes abundantes na floresta, estejam a um passo de sofrer o mesmo destino.

Toda semana, de um ponto de embarque da comunidade, pelo menos 150 papagaios verdes e 50 outros, de várias cores, são engaiolados e exportados. Aumentaram também as denúncias sobre as condições em que esses animais são embarcados.


TOMANDO A DIANTEIRA - A comunidade de Santa Rosa tem tradição na defesa da ecologia. Os moradores se orgulham do seu "Clube de Preservação", que cuida da reprodução de tartarugas marinhas que fazem o ninho à beira da Praia das Conchas.

Em 1995, eles conseguiram barrar um plano de extração industrial de conchas considerado prejudicial para as tartarugas.

Incentivados pelo gesto de Michael, dirigentes da comunidade indígena decidiram não esperar pela intervenção do governo, atuando por conta própria. O conselho local de governo proibiu toda e qualquer exportação de espécies nativas da área sob a sua jurisdição.

Uma decisão do conselho da aldeia - a autoridade indígena local - proíbe inclusive que as áreas situadas dentro dos limites da aldeia sejam utilizadas para o transporte de animais silvestres. Os infratores serão detidos e multados.

"Não queremos ter que explicar aos nossos netos o que era um papagaio", observou um membro do conselho. "Queremos que eles possam vê-lo."

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O PAÍS


Nome oficial: República Cooperativa da Guiana
Capital: Georgetown
Localização: norte da América do Sul
Área: 214.970 quilômetros quadrados
População: 800 mil (1996)
Idioma: inglês (oficial) e dialetos ameríndios, hindi e urdu

Religião: cristianismo 52% (protestantes 34%, católicos 18%), hinduísmo 34%, islamismo 9%, outros 5%, segundo dados de 1990

História: A Guiana, independente desde 1966, é o único país de colonização britânica na América do Sul. A maior parte de sua população é de origem indiana.

Em 1978, ganha destaque internacional por ter sido cenário do suicídio coletivo de uma seita dirigida pelo pastor estadunidense Jim Jones.
A economia do país é tradicionalmente baseada no plantio da cana-de-açúcar. Há pouco tempo, a bauxita passou a ser o principal produto de exportação. Possui grandes reservas de ouro e diamante, ainda pouco exploradas.
Trava disputas fronteiriças com a Venezuela, que reivindica 70% de seu território.


FONTE: ALMANAQUE ABRIL 97