México

Intervenção romana


Ordenado o fechamento de institutos de teologia dirigidos por jesuítas.


O cardeal Pio Laghi, prefeito da Congregação para a Educação Católica, ordenou o fechamento de dois institutos de teologia mexicanos dirigidos pelos jesuítas. Ao mesmo tempo, exigiu que somente membros da Companhia de Jesus freqüentem o instituto teológico próprio dos jesuítas.

A decisão foi comunicada por carta aos responsáveis pelos institutos em questão.

A primeira delas foi enviada ao presidente da Conferência de Institutos Religiosos Mexicanos (CIRM), da qual dependem o Instituto Inter-religioso (Inter) e o Centro de Estudos Teológicos (CET). Neles estudam 450 leigos e religiosos de diferentes congregações.

A segunda carta foi endereçada ao provincial dos jesuítas no México, Mario López Barrio, por causa do Colégio Cristo Rei. Criado originariamente para os membros da Companhia de Jesus, abriu suas portas a outros religiosos, 35 anos atrás, a pedido do então delegado apostólico no México, Luigi Raimondo.

Dos cerca de cem estudantes que hoje freqüentam esse centro, membros de dezoito ordens e congregações, há apenas dezessete jesuítas e quatro religiosas.


"ERROS GRAVES" - A origem da intervenção remonta ao ano de 1995, quando a congregação romana presidida por Laghi visitou os institutos de formação sacerdotal da América Latina.

Não muito tempo depois, Laghi escreveu a alguns bispos mexicanos, denunciando "graves erros" em alguns dos centros visitados no México e recomendando providências.

Um dos erros, segundo o cardeal, era que esses centros mantinham "uma orientação marcadamente radicalizada e socializante da Teologia da Libertação", e também, às vezes, "uma veemente inclinação contestatária", bem como "progressismo teológico em matérias de dogma e de moral".

No mês de fevereiro, o cardeal enviou as duas novas cartas, anunciando as medidas. Na que foi endereçada à CIRM, informava sobre a suspensão das atividades do Inter e do CET.

Entre as razões aduzidas, Laghi se referia à utilização de autores como os bispos Pedro Casaldáliga (Brasil), Samuel Ruiz e Bartolomé Carrasco, ou os teólogos Jon Sobrino, Paulo Suess (Brasil), Víctor Codina, José Comblin (Brasil) e Leonardo Boff (Brasil) - todos ligados à Teologia da Libertação.

Na segunda carta, ao provincial dos jesuítas, Laghi exigia o fechamento das portas do instituto teológico dos jesuítas a estudantes que não sejam da Companhia de Jesus.


REAÇÃO DOS JESUÍTAS - Os acontecimentos se precipitaram quando, no dia 14 de março, o jornal El Universal, da Cidade do México, divulgou trechos das duas cartas. A primeira interrogação: como é possível que documentos privados tenham ido parar na mão da imprensa?

Os jesuítas - através do seu secretário de imprensa no México, Enrique Maza, e do reitor do Instituto Teológico, um dos centros em questão, Francisco López R. -, afirmam, num comunicado, sua "plena comunhão com a Igreja" e também o desejo de "corrigir e melhorar o que for necessário".

Mas também protestam contra o que consideram "um sério mal-entendido nos argumentos que fundamentam a medida em questão".

A decisão de Roma, segundo os jesuítas, não leva em conta o esforço dessas instituições em "transmitir uma reflexão teológica plenamente católica, fiel ao Evangelho, na linha da opção preferencial pelos pobres, inspirada pela própria Igreja e assumida tão claramente pelos nossos bispos".

Os professores "têm dedicado a vida a serviço da Igreja, em diversos trabalhos acadêmicos e pastorais. Os destinatários foram bispos, sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos".

A carta reitera o desejo de continuar o diálogo, em vista do "esclarecimento do mal-entendido". Iniciativas nesse sentido estavam sendo tomadas, em abril, pelos jesuítas e pela conferência dos religiosos.


"CHAMADA DE ATENÇÃO" - A decisão do cardeal Laghi veio a público num momento em que os jesuítas se vêem mais que nunca na mira dos poderes públicos mexicanos.

No dia 8 de março, os padres Jeronimo Hernandes e Gonzalo Rosa Morales foram presos em Chiapas, por uma suposta participação numa emboscada que custou a vida a dois policiais - estavam a 200 quilômetros do local. A libertação aconteceu cinco dias depois, por intervenção do bispo de San Cristóbal de las Casas, Samuel Ruiz.

Amplos setores da imprensa mexicana avaliam a intervenção romana como uma "chamada de atenção" aos religiosos, e, de maneira especial, ao trabalho de denúncia que muitos deles vêm desenvolvendo contra a sistemática violação dos direitos humanos no país. - APIC/"VIDA NUEVA"