Um encontro de Igrejas reunindo 125 indígenas dos Estados Unidos criticou duramente o que os participantes descreveram como "imposição colonial" de estruturas eclesiais européias sobre comunidades indígenas. Além disso, reivindicou-se um novo tipo de relacionamento dos indígenas com as Igrejas e a sociedade branca do país.
"Esta consulta ecumênica e inter-religiosa declara que não mais toleraremos a imposição de doutrinas e estruturas eclesiais européias sobre as comunidades indígenas", ressalta a declaração final.
"O Evangelho de Jesus Cristo exige que nós, como povos, nos libertemos do jugo de tradições e estruturas que contribuíram e continuam a contribuir para a destruição da nossa herança cultural, da harmonia comunitária e do direito sagrado à auto-determinação, como filhos do Criador e irmãs e irmãos em Cristo."
ESTRUTURAS EUROCÊNTRICAS - O encontro, realizado em abril na cidade de Oklahoma, foi promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos, o Conselho de Igrejas de Oklahoma, várias denominações protestantes e a Conferência Tekawitha, uma organização indígena ligada à Igreja Católica Romana.
A coordenadora do evento, Anne Marshall, da Igreja Metodista, informou que o encontro reuniu cristãos, não-cristãos que seguem religiões indígenas e outros, seguidores de ambas as tradições.
Segundo ela, todos foram unânimes na denúncia da violência que têm sofrido e dos problemas criados por "estruturas eurocêntricas impostas aos indígenas americanos".
Referindo-se à delicada questão da terminologia, Marshall disse que o termo "pele-vermelha" é questionável. "Índio americano" e "nativo americano" são, em geral, usados como equivalentes, mas a maioria dos indígenas prefere ser identificada pelo nome do seu povo.
Ela mesma pertence à nação indígena dos Creeks, originária do sudoeste do país, um dos muitos povos transferidos pelo governo para Oklahoma, no século 19.
NAÇÕES SOBERANAS - A questão da soberania tem sido uma das mais importantes para a comunidade indígena dos Estados Unidos. A declaração final inclui um compromisso explícito nesse sentido e revela que o tema é tão válido dentro das Igrejas quanto fora delas.
Nos primeiros tempos da República, o governo firmou tratados com tribos e nações indígenas, e essa prática continuou a existir durante a maior parte do século passado. Acontece que, no século 20, os indígenas foram transformados em cidadãos estadunidenses. Muitos deles, porém, continuam a exigir que o governo do país trate os povos indígenas como nações soberanas.
Marshall disse que se sente uma pessoa com "dupla cidadania", dos Estados Unidos e da nação Creek, mas que muitos índios rejeitam a cidadania estadunidense.
NÃO SÓ NO PAPEL - Segundo ela, as Igrejas têm uma grande responsabilidade na busca de soluções para a questão indígena. Especialmente porque elas, em muitos casos, desempenharam um papel ativo na destruição das tradições e culturas originárias, e mesmo na tomada de terras e lugares sagrados indígenas.
Embora nos últimos tempos algumas Igrejas tenham pedido perdão pelo que fizeram, essa atitude não se deixou acompanhar por práticas suficientemente concretas, Marshall explicou.
E questionou: "Será que os pedidos de perdão vão ficar só no papel, ou as Igrejas tentarão se converter e se reconciliar?".
"As Igrejas têm que nos deixar sermos nós mesmos", concluiu ela. Muitos índios se sentem tão excluídos pelas Igrejas, e sua espiritualidade e cerimônias religiosas têm sido tão desvalorizadas, que "essa conversão vai precisar de muito tempo". - ENI
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