Atrocidades dos invasores indonésios desconhecem limites. Depoimento de uma militante timorense.
Bernardete Toneto
(x) Sim, eu quero ver esse país livre!
|
Morte do marido - "Combinamos que as duas últimas balas eram para nós dois. Chegou o momento. Ele me olhou e não teve coragem de me matar. Nos despedimos. Assim que acabamos de nos beijar, ele foi atingido, caiu e me puxou. Pensei que era para rastejar por causa das balas que continuavam a cruzar por cima da gente, mas quando olhei para o lado, lá estava o cérebro. Sabia que ele estava morto, mas eu chamei, chamei umas três vezes, ele ainda me respondeu. Eu o abracei e fingi que estava desmaiada. Senti os passos. Levantei-me e ia disparar, quando recebi coronhadas e caí. Não pude enterrar meu marido, só o cobri com um lençol, e eles me levaram."
Interrogatórios - "A cadeira era a cama deles. As perguntas eram sempre as mesmas, tudo sobre sexo. Depois das perguntas, éramos violadas. Mandavam para o quarto e, passados cinco minutos, vinham chamar para outro comandante. Todos os dias, éramos violadas, de dia e de noite, conforme o número de soldados. A gente rezava o terço toda noite com o desespero de que nossas orações se transformassem em insulto a Deus."
Nas aldeias - "Eles matavam, todas as vezes eles matavam. Quando se tratava de um guerrilheiro, torturavam, despiam e começavam a cortar o corpo em pedaços. Colocavam o corpo em pé, para servir de treino. Gastavam as balas sem pensar. Já morto, espetavam o coração com um punhal, tiravam e lambiam a lâmina.
Chegamos a uma aldeia onde estavam umas vinte pessoas, entre elas uma velhinha e um bebê de menos de 1 ano. Mataram todos, menos essas duas pessoas. Quando o bebê começou a chorar, colocaram a boca da criança para mamar no seio da mãe já morta. Não saía leite, só sangue. Corri para pegar a criança, mas eles me disseram para não me meter nessa história, que era assunto deles. Nunca mais soube daquelas duas pessoas."
|
(Bernardete Toneto, p. 37)
Para maiores informações, ou para receber os textos completos, faça contato com:
Colaboração da:
Biblioteca Comboniana Afro-brasileira. E-mail: comboni@ongba.org.br |