Arte sacra

Em busca do
mistério de Deus

Divino e humano se misturam nos traços simples, cores e formas de um artista sacro brasileiro de fama internacional.


Bernardete Toneto

"Pela imagem se namora com o invisível." É isso o que crê e defende Cláudio Pastro, artista plástico indicado pelo Vaticano para desenvolver um projeto de imagem do Cristo do terceiro milênio. Ele quer que os cristãos se encantem, namorem, amem o filho de Deus que se fez homem. Por isso, a obra terá linhas simples, despojada como o próprio Cristo.

Aos 48 anos, Pastro‚ um dos mais respeitados artistas sacros da atualidade, mais conhecido no exterior que no Brasil, é um crítico feroz da poluição visual que inunda templos e altares. Adepto da simplicidade, pretende, em seu projeto a ser enviado ao Vaticano, expressar ao mesmo tempo as dimensões divina e humana de Jesus, numa espécie de síntese da vida cristã dos últimos dois séculos.

Essa mesma simplicidade, o artista plástico usou no crucifixo adotado há dois anos pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), que o utiliza em todas as suas publicações. Em 22 anos de trabalho, Pastro pintou painéis e vitrais e fez esculturas e projetos arquitetônicos de igrejas, capelas e mosteiros em seis países.


"Atenção ao mistério!" – Nos painéis que pintou em 169 igrejas e capelas e nos cinqüenta projetos de templos, a maioria no Brasil, o artista desenvolve seu ministério leigo. Acha que suas obras são um serviço que presta à Igreja, pois tentam revelar o mistério de Deus através de cores e formas. Das fontes originais da fé cristã, da bíblia e da tradição, ele procura recuperar o que faziam os primeiros cristãos e as primeiras comunidades.

Não faz nada por acaso. As cores são direcionadas à mensagem que quer transmitir. Pensa a forma, os detalhes, o uso futuro... Tudo se encaixa de forma harmônica, bonita. Pastro gosta de cores "quentes", de preferência os tons de terra, que considera a cor do sagrado.

Suas figuras retratam a dignidade de Deus. Chamam atenção as mãos e os olhos. Mãos que dizem: "Atenção ao mistério!", e olhos que são "pontos de contato".

"Ele expressa aquilo que crê e nos ajuda, com sua imagem, a crescermos na fé e a manifestá-la em sinais de comunhão, de ação e esperança", disse sobre ele Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana/MG e vice-presidente do Celam.


"Bíblia dos pobres" – Comunhão é uma palavra fácil no dicionário do artista, que diz se identificar com o povo simples e sofrido. Paulista, começou a desenhar no ginásio, utilizando apenas giz e criatividade.

Sem dinheiro para estudar Belas Artes – o que hoje comemora, porque não ficou "bitolado" por estilos e tendências –, e animado com a agitação dos anos 60, entrou para a faculdade de Ciências Sociais. Concluiu o curso, pegou o dinheiro economizado para comprar um apartamento e foi para a Europa.

Ali, nas visitas a antigos mosteiros, o rapaz de 24 anos descobriu que a arte românica – inexistente no Brasil – era o meio mais apropriado para expressar a fé.

"As pinturas de parede formam o que se chamava de bíblia dos pobres", diz. De volta ao Brasil, foi incentivado pelas monjas do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra/SP, para quem fez o projeto de uma igreja.


Arte é fundamental – Pastro estudou teoria e técnicas de arte na França, Espanha, Itália e México. Expôs seus trabalhos em dez países e recebeu vários prêmios, entre eles o Missio de Arte Sacra de Aachen, na Alemanha, em 1989.

É professor de arte sacra (ensinava em seminários, quando a matéria constava do currículo) e gasta boa parte do ano dando aulas e palestras. O tempo que sobra, prefere passar em sua casa, que lembra um pequeno convento, em Itapecerica da Serra, onde mantém um ateliê e uma pequena capela.

Para fundamentar seu trabalho, Pastro lê o Evangelho diariamente. Não se considera um místico, e sim uma pessoa que precisa se expressar. "Todos necessitam de arte, como necessitam de água. A arte é uma preocupação com algo que nos ultrapassa. Vivo a arte 25 horas por dia."