É possível apaixonar-se por tanta coisa na vida, pois paixão não tem só a ver com o sentimento bom que enche o coração dos enamorados.
Daniel Comboni deixou escrito que nunca paixão alguma criou raízes em seu coração, "a não ser o amor pelos africanos".
Foi o primeiro amor de sua juventude – revelou. Foi o único, nos cinqüenta anos que viveu (1831-1881), e ele jamais se arrependeu disso.
Se tivesse tido mil vidas – ele disse –, as teria dado todas para a África e sua gente. "Meu lema é sempre mais sincero e verdadeiro: ou África ou morte!"
Dia 15 de março de 1831, em Limone, pequeno povoado às margens do lago de Garda, na Itália: nasce Daniel, filho de um casal de agricultores pobres, Luís e Dominica.
Dos oito filhos dos Comboni, apenas um sobrevive: esse que mais tarde declararia sua paixão, nada cega, pelo continente africano e que lá morreria, em outubro de 1881, como primeiro bispo da África Central, com uma certeza: "Minha obra não morrerá".
Tinha razão. Passados quase 120 anos desse histórico grito – um grito de fé e esperança que ecoa no meio das trevas –, os missionários e missionárias combonianos são hoje uma família numerosa, com algo em torno de 4 mil pessoas, em mais de quarenta países.
Continua brilhando forte a luz de Comboni, seduzindo jovens pelo mundo afora, enchendo o coração de homens e mulheres que querem sair, atravessando fronteiras de todos os tipos, para anunciar e testemunhar a salvação, a paz e a alegria que Deus promete e quer realizar no mundo.
Dia 17 de março de 1996, na Praça de São Pedro, em Roma: o papa João Paulo II anuncia ao mundo a beatificação de Daniel Comboni.
Alegria para toda a família comboniana, com certeza. Alegria, também, para essa Igreja missionária e corajosa, sem fronteiras: "Ide pelo mundo todo", disse Jesus.
Igreja parada, que fica só olhando para o próprio umbigo, pode até ser muito bonitinha, organizada, tudo no lugar certo. Mas não deixa de ser como água parada...
Igreja é para sair, andar, se comprometer.
Igreja é para anunciar e ajudar a construir coisas novas.
Igreja só pode ser Igreja em movimento, e isso Comboni entendeu muito bem.
Comboni bem-aventurado! É o mesmo que dizer: bem-aventurada a sua causa, a sua luta, a paixão maior da sua vida: a África.
Tão duramente castigado pelas potências européias dos tempos de Comboni, tão esquecido e abandonado nos dias atuais, o continente africano pede socorro ao mundo.
Quando a África deixará de ser notícia na grande imprensa apenas em caso de guerras, catástrofes, calamidades?
Quando o continente negro e sua gente serão levados em consideração, apreciados e amados pelo que são de verdade – com suas riquezas, tantas, e seu modo próprio de encarar o mundo e de viver a vida –, e não pelo que é ditado pelo preconceito, pela arrogância e pelo gesto criminoso da exclusão?
Bem-aventurado Comboni! Bem-aventurada África!
Comboni fez sua escolha. E que ninguém tenha dúvidas: Jesus também teria feito o mesmo, no século passado, e o faria de novo, hoje. Porque Deus sabe escolher os últimos.
O mundo deve muito à África. O Brasil também. A Igreja também.
A África cobra respeito. E Comboni tem muito o que ensinar nesse campo.
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