Violência rural
Os números
da guerra no campo
Sai o Conflitos no Campo/Brasil 95, uma radiografia da violência nas áreas rurais do país.
Que a situação no campo, faz muito tempo, é das piores que se possa imaginar, quem não é cego ou surdo já sabe. Mas a Comissão Pastoral da Terra (CPT) não se contenta em saber e denunciar. Todo ano, desde 1985, a tragédia rural adquire contornos mais concretos quando a CPT apresenta à sociedade os resultados do mais completo e preciso levantamento sobre os conflitos de terra no país. O relatório inclui também os casos registrados de trabalho escravo e outros conflitos (trabalhistas, seca, garimpo, sindicais e de política agrícola).
Lançado em São Paulo no dia 4 do mês passado, o Conflitos no Campo/Brasil 95 enumera 554 conflitos em 95, envolvendo 381.086 pessoas. Ao todo, 69 conflitos e 72.467 pessoas a mais do que no ano anterior (veja quadro).
Dos 41 casos de assassinato em 95 (seis a menos que em 94), 39 estiveram ligados a conflitos de terra (três a mais que no ano anterior). Entre os mortos de 95, o maior número é de posseiros (19), seguido pelo de sem-terra (15). Os Estados campeões de mortes foram o Pará (14) e Rondônia (10).
TRABALHO ESCRAVO Em relação ao trabalho escravo, diminuiu o número de casos registrados, mas aumentou o de vítimas: 26.047 pessoas, 854 a mais do que em 94. Os dados revelam apenas "a ponta do iceberg", alerta a CPT.
Segundo a entidade, falta uma legislação própria, para definir o que é e punir a prática do trabalho escravo no Brasil. Um projeto de lei nesse sentido aguarda votação no Congresso. Um segundo problema é que, muitas vezes, o trabalho escravo "fica na obscuridade", por falta de denúncia por parte das vítimas e de fiscalização policial. Acre, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo foram os Estados com o maior número de pessoas submetidas ao trabalho escravo em 95.
Foram 155 as pessoas que sofreram ameaças de morte no ano passado, quase a metade posseiros, vinte sindicalistas, cinco advogados e doze padres, além de outros. Houve 43 tentativas de assassinato. As ações de despejo judicial deixaram 12.832 vítimas, 1.112 casas e 1.589 roças foram destruídas.
O "Conflitos no Campo/Brasil 95" tem 32 páginas e traz também uma análise do primeiro ano do governo Fernando Henrique. A introdução é do cardel Paulo Evaristo Arns, de São Paulo.
CONFLITOS DE TERRA | 1991 1992 1993 1994 1995 | N° de conflitos | 383 361 361 379 440 | Assassinatos | 49 35 42 36 39 | Pessoas envolvidas | 242.196 154.223 252.236 237.501 318.458 | Hect. conflitivos | 7.037.722 5.692.211 3.221.252 1.819.963 3.250.731 | TRABALHO ESCRAVO | | N° de conflitos | 27 18 29 28 21 | Assassinatos | 1 | Pessoas envolvidas | 4.883 16.442 19.940 25.193 26.047 | OUTROS* | | N° de conflitos | 43 54 155 78 93 | Assassinatos | 5 11 10 10 2 | Pessoas envolvidas | 307.123 15.331 118.952 45.925 36.581 | TOTAL | | N° de conflitos | 453 433 545 485 554 | Assassinatos | 54 46 52 47 41 | Pessoas envolvidas | 554.202 185.996 391.128 308.619 381.086 | Hect. conflitivos | 7.037.722 5.692.211 3.221.252 1.819.963 3.250.731 |
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