Jornal mensal da diocese de Duque de Caxias e São João de Meriti-RJ. |
Editorial
Em busca de símbolos
- Foram impressionantes as manifestações populares destas últimas semanas: a imponência do enterro, na Inglaterra, da princesa Diana, ou em Calcutá, o adeus emocionado a Madre Teresa, a santa dos pobres. Poucos dias antes, na França, também o Papa João Paulo II havia sacudido o país, reunindo mais de um milhão de pessoas, maioria jovens, num espetáculo rotineiro que ele consegue repetir em quase todos os lugares que visita. Nestes dias deverá fazer o mesmo no Aterro do Flamengo, no grande encontro que terá com a população do Rio de Janeiro.
- Este tipo de manifestações de massa levantam uma série de perguntas que é importante tentar responder: por que tanto interesse por essas figuras? Elas tinham - ou têm - um charme ou um carisma especial? Claro que sim, mas se percebe que não é tudo. Mesmo que carregando a fama da riqueza ou da santidade, nem Diana nem Madre Teresa de Calcutá tiveram, durante a vida, qualquer expressão que pudesse fazer lembrar de longe o reconhecimento que as multidões lhes reservariam na morte. A mídia? Também não. Por mais poderosa que ela seja no mundo de hoje, ela não sabe criar do nada movimentos desse porte. Só os interpreta quando eles existem, os canaliza e os transforma em produtos comerciais, mas nada além disso.
- Ao meu ver, as manifestações populares destes últimos dias revelam outras coisas mais profundas: que na era do maior desenvolvimento técnico e científico de toda a história da humanidade o que o mundo busca ainda são figuras humanas, que saibam e consigam interpretar o que cada um sente, sonha ou experimenta; e que na era dos botões e do mercado, o que fala mais alto de tudo é ainda o simbólico. Basta deixar falar um pouco os protagonistas.
- A princesa Diana foi uma mulher controvertida. Pertencia a uma família de nobres ingleses e saiu do anonimato para viver um conto de fadas quando sua história se cruzou com a do príncipe Charles, herdeiro ao trono britânico. O destino quis que, além do encanto da realeza, conhecesse de perto o que as monarquias costumam guardar atrás das cortinas: as intrigas, vinganças, traições da corte. Seu sonho não demorou a virar pesadelo. Rejeitada, começou uma luta gigantesca contra a realeza e suas tradições, contra si mesma e suas fragilidades e contra a sociedade e suas cobranças. Só queria voltar a viver e ser feliz. Dessa busca teimosa da felicidade ela se tornou uma espécie de símbolo mundial que a tragédia de sua morte prematura apenas se encarregou de revestir com os contornos do mito.
- Madre Teresa era considerada uma santa já em vida. Prêmio Nobel da Paz em 1979, havia fundado uma congregação de irmãs com o carisma de viver inteiramente voltadas para o serviço dos pobres. Albanês de origem, vestiu os trajes típicos da população da Índia para mostrar sua total identificação com o povo sofrido daquela terra. Ao longo de seus quase 50 anos de dedicação exclusiva aos miseráveis de Calcutá, lutou com todas as forças para deixar gravada no coração das pessoas apenas uma lição: a da solidariedade.
- Pouquíssimas outras pessoas conseguiram tornar-se, quanto ela, símbolo desse desejo escondido de criar um mundo mais irmão que cada um carrega no peito.
- Está chegando ao Brasil o Papa João Paulo II. Velho, cansado, trêmulo, doente, não tem mais nada do antigo vigor que exibia diante das câmaras de televisão do mundo inteiro nos primeiros anos do pontificado. Hoje ele chega cambaleando. Não beija mais o chão que ele pisa. Deve ser ajudado a sentar e levantar. Mesmo assim, milhões de pessoas continuam indo atrás dele.
- Porque precisam de símbolos. Não é a pessoa que interessa e sim o que ela representa. No caso de João Paulo II, o que as pessoas buscam nele são as feições de um Deus com rosto de gente para alimentar a certeza de que ainda caminha conosco. Por isso as pessoas querem chegar perto, se possível tocar ou, pelo menos, ver de longe.
- Então, obrigado pela visita, João Paulo II. Deixe que o povo o chame, com carinho, mais uma vez, de João de Deus!
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