Hinduísmo

A religião eterna

A ORIGEM

Nascido há 5 mil anos, o hinduísmo é um conjunto de doutrinas, tradições, mitos e práticas religiosas pertencentes a povos diferentes que se instalaram na Índia, no vale do rio Ganges, durante o segundo milênio antes de Cristo. Seus seguidores o chamam de "Religião Eterna", porque dele não se conhece nenhum fundador humano.

Suas tradições, transmitidas oralmente por centenas de anos, passaram a ser registradas a partir de 1.500 a.C. nos quatro livros dos Vedas.


OS TEXTOS

Os VEDA contêm a visão religiosa do mundo. Estes, como os livros da Bíblia, constituem uma coleção bastante heterogênea, abrangendo livros didáticos, sapienciais e litúrgicos, misturados com histórias profanas, lendárias e autênticas. "Veda" quer dizer "conhecimento". Não um conhecimento de verdades teóricas, mas de ritos e hinos que produzem "brahman", ou seja, espécie de força que está nas origens de tudo para garantir a ordem cósmica, o poder dos deuses e o destino das pessoas.

Os Veda formam quatro grandes coleções:


  • Rig-Veda (= Veda dos hinos), que parece ser a mais antiga, descreve o panteão védico (o conjunto das divindades), mostrando que os deuses estão divididos em classes, cada um controlando uma dimensão do universo: a atmosfera, o céu, a terra, etc.
  • Mahabharata: um longo poema (200 mil versos) contando as lutas entre as tribos que povoavam as antigas regiões do rio Ganges.
  • Bhagavad-Gita: representa o coração do hinduísmo e ensina a justa conduta do ser humano.
  • Ramayana: um poema de 40 mil versos celebrando a conquista do sul da Índia.

OS DEUSES

No hinduísmo há milhares de deuses, mas todos eles são a manifestação de uma divindade única, um grande espírito universal, difícil de ser definido. Ele está na origem da criação, garante a vida das criaturas e permite a reencarnação das almas em outras vidas, mais ou menos nobres, segundo seu comportamento na vida anterior.

Os deuses, muitas vezes, são representados com muitos braços e muitas cabeças, que simbolizam seus diversos poderes. Os principais deuses são três:

Brahma, o criador: é pura existência, pura inteligência, pura beatitude. É a causa, a origem e a própria essência do universo, porque sem ele nada existe.

Vishnu: é a força que conserva as coisas existentes. É uma divindade benévola. Sua função é salvar e redimir o mundo.

Siva: reúne em si aspectos contraditórios. Criador, junto com Brahma, é, ao mesmo tempo, destruidor. É o Terrível.


O SISTEMA DAS CASTAS

De acordo com seu comportamento moral, as pessoas são agrupadas em conjuntos que ocupam lugares diferentes na sociedade. Segundo os brâmanes, as castas são quatro: os sacerdotes ou brâmanes, os dirigentes, os agricultores e comerciantes e os artesãos. Os párias (os intocáveis) são aqueles que, por ter tido um comportamento imoral, estão fora das castas. Sua única consolação é a de, eventualmente, poderem renascer dentro de uma casta superior numa segunda ou terceira existência.

Por criar discriminações entre as pessoas, a divisão em castas foi abolida pela Constituição indiana de 1950. Apesar disso, ela continua consolidada na mentalidade das pessoas.


TRANSMIGRAÇAO DAS ALMAS

A alma (atman) é eterna, mas vive no corpo de pessoas ou animais. Ela, quando o corpo em que mora, morre, se torna livre e passa para outro corpo. A alma migra segundo do Karman de cada um, isto é, conforme as obras realizadas na vida anterior. Quem fez o bem, renasce num ser mais nobre; quem fez o mal, renasce numa pessoa pertencente a uma casta inferior ou no corpo de um animal, cada vez mais desprezível, até chegar aos insetos e aos répteis. Este ciclo acaba quando a alma, depois de sua total purificação, alcança a libertação definitiva. O caminho para conseguir este objetivo é a observância dos princípios morais indicados pelo hinduísmo.


RESPEITO PELOS ANIMAIS

No hinduísmo existe um grande respeito pelos animais, sobretudo pela vaca, o macaco e a serpente. Estes animais são considerados sagrados, porque de preferência é neles que a divindade costuma se manifestar. A vaca também é sagrada porque representa o último estágio da alma no mundo, antes de atingir a divindade. Além disso, a vaca é consagrada à deusa do amor e é símbolo da maternidade.


CAMINHO DA SALVAÇÃO

Para que a alma possa alcançar a libertação definitiva, o hinduísta tem que procurar a ajuda de um mestre (guru) e se submeter a algumas disciplinas (yoga):

- O caminho da concentração (Raja -yoga): é uma disciplina composta por oito fases: abstenção de todo tipo de violência, mentira, luxúria e avareza. Limpeza do coração e austeridade de vida. Posição estável e agradável do corpo. Respiração rítmica. Domínio dos sentidos. Concentração. Meditação e absorvimento da mente num único objeto para combater qualquer tipo de distração.

- O caminho da sabedoria (Jnana-yoga): a alma, mediante a separação das coisas terrenas, se imerge no Brahma, no absoluto, até se tornar uma coisa só com ele.

- O caminho da devoção amorosa (Bhakti-yoga): é o conjunto de exercícios para responder ao amor de Deus. Um deles é a "prática do nome" (repetição incansável do nome de Deus ou de uma fórmula sagrada). A repetição feita com fé e amor põe a mente e o coração em sintonia com o amor de Deus.


RITOS E FESTAS

Todos os atos da vida de um hindu são revestidos de um caráter sagrado, estando ligados, portanto, a ritos precisos, públicos ou privados.

A prática mais comum é a oração, que se deve fazer pelo menos duas vezes ao dia, ao nascer e ao pôr-do-sol. Rezam-se ou cantam-se trechos dos Vedas. Flores e fogo são oferecidos à divindade que se quer honrar. Os muitos ritos que tradicionalmente acompanham essa oração variam segundo os diferentes deuses.

Os ritos e festas domésticos acompanham a vida do hindu desde a concepção até a morte, passando pela escolha do nome para o recém-nascido, o primeiro corte de cabelo, a iniciação religiosa, o casamento e o enterro.

As grandes festas são inúmeras (mais de quatrocentas ao ano) e também variam de acordo com as regiões e as divindades celebradas. Em geral, reúnem multidões. Entre as mais importantes se podem lembrar: a que celebra a primeira colheita de arroz e honra os animais domésticos, no Sul da Índia, em janeiro; a festa em homenagem a Siva, durante a qual os fiéis passam a noite no templo; e, também, a festa em honra de Krishna, que anuncia a chegada da primavera. Durante esta última festa, os fiéis se aspergem com poeira e água vermelha, simbolizando o sangue novo que deve correr nas veias.

Como as festas, são também numerosas as peregrinações aos lugares sagrados. Consistem na subida ou descida de rios, na escalada de montanhas ou, simplesmente, na visita a lugares sagrados. As margens do rio Ganges encontram-se muitos lugares de peregrinação.


OS LUGARES SANTOS

O rio Ganges e a cidade de Benares são as principais metas das peregrinações. O fiel hinduísta chega a enfrentar centenas de quilômetros para poder mergulhar, pelo menos uma vez, nas águas do rio sagrado. A grande esperança de todo mundo é poder morrer na beira do Ganges, para que a alma, purificada de todo o pecado, possa alcançar a libertação definitiva.

Veja também:
O banho celeste no rio dos deuses


SONS, CORES E PERFUME

As cerimônias hinduístas acontecem em um ambiente rico de fortes sensações. Os templos são monumentais, as imagens sagradas são muito grandes e coloridas. Vários tipos de incenso enchem os lugares sagrados de aromas agradáveis. Flores, frutas e animais são oferecidos às divindades. Instrumentos musicais dão o ritmo aos cantos e às danças.


OS BRÂMANES

Os chefes religiosos do hinduísmo são os brâmanes. Eles apresentam a Deus as oferendas que recebem dos fiéis - flores, comida, dinheiro - e depois as distribuem aos pobres, guardando uma parte para seu próprio sustento. O hinduísmo recomenda muito a esmola feita com generosidade.


MAHATMA GANDHI: A GRANDE ALMA

O hinduísmo difundiu-se no mundo inteiro. Estima-se que atualmente existam mais de 660 milhões de adeptos. Entre eles houve pessoas que exerceram uma grande influência não só na vida da Índia, mas no mundo inteiro. O hinduísta mais famoso dos últimos anos foi Mahatma Gandhi. Nasceu em Porbandar em 1869 de pais muito pobres. Estudou na Inglaterra e, com a ajuda de parentes, conseguiu se formar em direito. Como advogado defendeu as vítimas de injustiças. Lutou contra os colonizadores e com o método da desobediência civil e da não-violência, conseguiu levar a Índia à conquista da independência. Defendeu as classes mais humildes. Exigiu a abolição da divisão em castas. Chamava os "párias" de "povo de Deus". Por isso foi também considerado um grande reformador religioso. Morreu assassinado por um fanático hindu pouco antes de ser oficialmente declarada a independência da Índia. Gandhi sempre foi hinduísta, mas foi um grande admirador de Jesus Cristo e do evangelho. A sua página preferida era aquela das Bem-aventuranças.


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