Timor Leste

Uma casa, símbolo
de resistência e liberdade


Timor Leste fica "do outro lado do mundo", na ilha de Timor, que pertence ao continente asiático. No século XIX, Portugal e Holanda dividiram a ilha, ficando Timor Leste como colônia portuguesa. A capital de Timor Leste é Dili.

Em 1975, quando Timor Leste estava saindo da colonização para a independência e a liberdade, foi invadida brutalmente pela Indonésia, que massacrou quase metade da população. Mas os habitantes de Timor Leste não se conformaram com a invasão, resistindo até hoje na luta por sua liberdade. Assim, continuam pedindo o apoio de todos os países do mundo.

As casas tradicionais são um exemplo da cultura timorense. Nesta matéria, a Casinha Timorense, característica da região de Lautém, nos fala em nome de seu povo.

Imaginem vocês que uma jornalista anda querendo contar a minha história para crianças brasileiras. Tomei a seguinte decisão: abaixo os intermediários!

Eu mesma me encarrego disso.

Primeiro, as apresentações: sou a Casinha Timorense, muito prazer! Existem outras iguais a mim na região de Lautém, no Timor Leste... Por que estes seus olhos arregalados? O quê? Vocês nunca viram uma casa com pernas??! Hum, vocês não sabem onde fica Timor Leste e muito menos Lautém. Então, eu vou contar tudo em bom português, Aliás, repararam que falamos o mesmo idioma? Portanto, nem intermediários nem intérpretes!

Em primeiro lugar, casas com pernas são bonitas e úteis. Bonitas, porque se abrem para paisagens a perder de vista; e úteis, porque protegem seus moradores das enchentes e do ataques de animais bravos. Entenderam? Muito bem, meninas e meninos.

A minha história é parte da história da minha terra e do meu povo. Vejam como as minhas paredes são de madeira, a mesma madeira das árvores que nascem nesta ilha linda, chamada Timor. Reparem que eu não tenho telhado de vidro. Muito pelo contrário, sou coberta por um chapelão feito com o sapé das nossas matas. Lindo, não é? Agora vejam os enfeites que trago nas portas e janelas: muitos são desenhos entalhados na madeira, artesanato feito pelas mãos de gente muito simples. É a nossa arte nativa.

Viram como eu sou a cara da minha gente e da minha terra? Ah..., eu estalo paredes de felicidade quando digo isso. Somos, como vocês, uma ex-colônia portuguesa. Para quem vive no Brasil, o Timor fica do outro lado do mundo (alô, mundo!). Está entre as ilhas da Indonésia, perto da Austrália e da Nova Guiné. Lautém é a ponta oriental da nossa ilha. Aqui, quem brincar de pega-pega acaba caindo no mar (que delícia!). Agora vocês se situaram. Pois bem, adoraria poder dizer que somos um povo livre, independente e feliz. Mas não vai dar...

Acreditem vocês que, há 21 anos, estamos debaixo de uma ditadura pavorosa. Não, não é fofoca de casa tagarela, não! Vocês sabem o que é uma ditadura? Se não souberem, perguntem a seus pais. Eles sabem perfeitamente. Mais do que uma ditadura, este é o regime do medo. Em 1975, o governo indonésio, que se julga nosso dono, ordenou a invasão da nossa ilha, matando milhares de pessoas. Quase a metade da população timorense desapareceu entre 1975 e 1981, por ordem de um general estúpido, arrogante e desumano.

Meninas e meninos, sou obrigada a bater minhas portas e janelas de indignação: milhares de crianças ficaram sem pais, mulheres são violentadas; as prisões de Jacarta, onde vive o ditador vingativo, estão lotadas de timorenses. Os militares mantem preso o nosso líder maior, Xanana Gusmão. Coitados, pensam que calando Xanana, calam a nossa gente! E por que fazem isso conosco? Justamente porque um dia sonhamos ser um povo livre, independente e feliz. Porque nós não almejamos a riqueza do mundo, mas queremos compartilhar os frutos da terra. Porque não somos marionetes nas mãos dos poderosos. E porque decidimos resistir.

Amiguinhos, os aviões de bombardeio, os tanques e as metralhadoras, que apontam contra o nosso povo, não conseguirão matar a esperança de uma vida digna para todos os timorenses.

Por isso, eu falo às crianças, sem intermediários. Que vocês se interessem pela nossa gente, nossa cultura, nossa luta. Que vocês resistam conosco. Peçam a seus professores que se informem melhor sobre o Timor Leste. Discutam o tema em classe e em casa. Escrevam cartas para o sr. Presidente da República e às outras autoridades brasileiras. Eles têm condições de pressionar, para que o regime do medo chegue ao fim.

As crianças tudo podem!

Quanto a mim, meus amiguinhos, só posso dizer uma coisa: entrem, que a casa é de vocês! Como um coração que dá abrigo a ideais de justiça e solidariedade, terei sempre as portas abertas para vocês. Venham e não demorem. Estou aguardando com flores nas janelas.

A Casinha Timorense



UMA GRATA SURPRESA


No mês de outubro passado, para alegria de todos os timorenses, dom Carlos Filipe Ximenes, bispo de Dili, e José Ramos-Horta, líder pró-independência de Timor Leste, foram os escolhidos para o Prêmio Nobel da Paz de 1996.

Segundo o comitê do prêmio, na Noruega, eles foram escolhidos "pelo seu trabalho por uma solução justa e pacífica para o conflito de Timor".

Dom Carlos Filipe Ximenes considera o prêmio "uma vitória para todos os timorenses e todos os indonésios". Ele completa dizendo que "a paz pode ser alcançada por meios não-violentos".

A esperança maior é que esse prêmio carregue uma mensagem ao governo indonésio, levando-o a uma reflexão, no sentido de mudar a sua política em relação ao Timor.


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