UMA AVENTURA NO BRASIL

(1ª PARTE)


Já se passou mais de um século desde que Daniel Comboni morreu, mas sua obra continua no mundo inteiro através de seus seguidores. Cerca de 5 mil homens e mulheres, testemunham o evangelho em 57 paises da África, Ásia, Américas e Europa.

Presentes no Brasil desde 1951, os combonianos sempre optaram pelos mais pobres. Atualmente 130 padres e irmãos, 55 irmãs e cerca de 20 leigos trabalham em doze estados e no Distrito Federal.

Sair de casa e ir morar em um outro país. Que aventura, heim? Já pensou como foi a história de um monte de missionários, que deixaram tudo pra viver com gente diferente, outra língua, costumes estranhos, ensinando e aprendendo no meio do povo?

Pois foi uma verdadeira aventura que viveram os primeiros missionários combonianos no Brasil. Eles vieram pra cá a pedido da Nunciatura Apostólica, que é um tipo de embaixada da Igreja nos países. Na época, aqui no Brasil quase não tinha padres. E, por outro lado, na Itália tinha de montão, principalmente combonianos que foram explusos da África, de um país em guerra civil chamado Sudão.

Quem chegou primeiro foi o padre Rino Carlesi, que desembarcou no Rio de Janeiro em 26 de março de 1951. Ele tinha 28 anos, italiano, acostumado com aquele baita frio da Europa, ele estranhou o calorzão de fim de verão carioca. Mas nem esquentou muito. Tinha coisas mais importantes para pensar...


PEDINDO ESMOLA


O padre Rino veio para o Brasil com pouca bagagem. Achava que ia ficar uns três, quatro meses. Que nada! Faz 44 anos que está por aqui. Desde 1963 é bispo de Balsas, no Maranhão. Ele lembra, dando risada, que quando chegou só pensava na tarefa que o superior geral dos combonianos em Roma, o padre Antônio Todesco, tinha lhe dado: pedir esmola. O dinheiro seria usado na construção do seminário de Viseu, em Portugal. De quebra, o padre Rino tinha que xeretar, para ver se dava para instalar uma missão no país.

Do Rio de Janeiro, sozinho, o padre Rino foi para o Maranhão. Pedia um dinheirinho aqui, outro alí, conversava. E descobriu que essa era terra de missão, mesmo. As coisas naquele tempo não eram nada fáceis. No sul do Maranhão o povo vivia numa pobreza que só vendo. As famílias estavam espalhadas pelo sertão, isoladas nas matas, com apenas um padre pra fazer casamentos, batizados, rezar missa...

O padre Rino foi vendo isso. Ele viajava bastante e toda semana mandava cartas com as novidades para os superiores em Roma. E continuava com a sacolinha de esmolas na mão, mas com outro objetivo: o dinheiro agora era para comprar as passagens de outros padres que vinham para o Brasil.


AVENTURA


Foi uma festa quando chegaram mais seis combonianos no Brasil. Eles vieram em um navio novinho, chamado Vera Cruz, que saiu de Lisboa e aportou no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1952. Eram os padres Diogo Parodi, Cirilo Gasperetti, Mário Vian e Giórgio Cosner. Também vieram os irmãos Eugênio Franceschi e Sebastião Todesco.

Naquela época, viajar do Rio de Janeiro para o Maranhão era uma aventura e tanto. Os padres tiveram de pedir carona em um avião da Força Aérea Brasileira. Essa parte da viagem até que foi gostosa. Só que para chegar a Balsas, o destino final, eles sacolejaram em uma estrada onde só passava carroça, isso quando não chovia. Não era nada fácil, não. Naquele mundão de terra, não havia mais que mil pessoas. Já imaginou?

Tem tanta história dessa época. O padre Carlos Furbetta tem 71 anos. Ele chegou no Brasil quando era bem jovem. Fazia parte do segundo grupo de combonianos, que ia começar uma missão no Espírito Santo, uma região de litoral que ia servir de base para o trabalho missionário.

Ele chegou no dia 25 de setembro de 1952. Foi para Serra, na região da Grande Vitória, no Espírito Santo. Ele diz que aquilo lá parecia “o fim do mundo”. E não era para menos: a cidade tinha apenas três ruas e 1.300 habitantes. Sozinho, ele teve uma crise de saudades daquelas.


Continua: 2ª PARTE