UMA AVENTURA NO BRASIL

(2ª PARTE)



DESTINO ÁFRICA

O capixaba Robinson de Castro Cunha, da cidade de Ecoporanga, está de malas prontas para o Quênia, na Africa. Ele foi ordenado sacerdote em 7 de outubro de 1995 em sua cidade natal, depois de estudar teologia em Chicago, nos Estados Unidos.
“Acho que nasci para ser missionário”,
ele brinca.

Com Robinson serão dez os combonianos brasileiros a trabalhar no exterior: um na Ásia (Macau), dois na América Latina (Colômbia e Equador) e sete na África (Moçambique, Uganda, Zaire e Quênia).
Seis outros brasileiros estudam teologia,
três na Europa (França, Áustria e Itália) e três no Brasil (São Paulo).


DE LÁ PRA CÁ


Foram os combonianos que desbravaram o Norte do Espírito Santo, que naquela época era uma região de mata. Era tão difícil chegar nas casas que os padres só andavam em lombo de burro e cavalo. Hoje está tudo mudado: os missionários trabalharam duro, as cidades cresceram, ajudaram na construção de hospitais, centros comunitários, paróquias. Tem até uma diocese, a de São Mateus, no Espírito Santo, com um bispo comboniano: Aldo Gerna.

Sabe quem sempre chegava primeiro nas cidades para abrir a missão? O bispo Rino Carlesi. Depois do Maranhão e Espírito Santo, ele foi para São Paulo. Tinha recebido ordens para conseguir uma base territorial pra ajudar nos projetos da congregação. Aí nasceu a sede de Caxingui, em julho de 1955.

Vai pra cá, vai pra lá, e a congregação ia crescendo, crescendo. Só que a maioria dos padres vinham de outros países. Mas, e no Brasil, não tinha ninguém pra entrar nessa aventura? Os missionários achavam que tinha, sim. Por isso, para tentar encontrar jovens interessados na missão, criaram seminários menores. Tem esse nome não porque os prédios era pequenos, não. Os seminários menores recebiamo crianças e jovens para estudar desde o ciclo básico. A garotada ficava interna e só saia quando se ordenava.

Só que, lá por volta dos anos 70, os combonianos pensaram bem e chegaram à conclusão de que os seminários menores não estavam dando muito certo. Afinal, os meninos, ainda crianças, saiam de casa e ficavam longe da família. O melhor mesmo era formar jovens, que estavam decididos a seguir a vida religiosa.



Cleonir Luiz Grando, 39 anos, filho de agricultores gaúchos, conheceu de perto a dureza da guerra nos oitos anos em que viveu em Moçambique. Foram 22 ataques na missão de Carapira, de onde ele acompanhava noventa comunidades do interior, socorrendo doentes e feridos, ajudando nas plantações, trabalhando na formação de lideranças e dando tudo de si para manter viva a esperança do povo. Voltou para o Brasil em 1994, mas sente saudades. Logo que puder, arruma de novo as malas e se manda pelo mundo.


LUTANDO POR TERRA


Foi nessa época também que os combonianos foram para Rondônia. Nos anos 70 o Brasil era governado por militares, uma verdadeira ditatura. Os pobres estavam cada vez mais pobres e nem podiam reclamar. Por isso, muitos trabalhadores rurais do Espírito Santo estavam procurando uma vida melhor no norte do Brasil. Os missionários foram com eles.

Um dos primeiros que chegou à Rondônia foi o padre José Simionato. Italiano, ele foi um dos que começaram a aventura dos combonianos no Brasil, em 1955. Depois de 18 anos no Espírito Santo e de alguns trabalhos em outras cidades, ele chegou a Rondônia em 1970, par ajudar o primeiro grupo de missionários, que tinha chegado lá dois anos antes.

O padre José gostava de um desafio. Até hoje é brigador dos bons. Por isso, não se conformava com a exploração dos trabalhadores que tinham deixado tudo para trabalhar nos projetos de colonização do governo militar. É que naquela época, o governo queria porque queria que o Norte do país crescesse. Só que não dava terra nem infra-estrutura para os migrantes. Resultado: miséria.

Em Rondônia, os combonianos trabalham em conjunto com a comissão Patoral da Terra, que é o organismo da Igreja Católica que atua junto aos lavradores. Ele foi para Cacoal, onde ajudou a criar sindicatos rurais, cooperativas de produção, escolas rurais, comunidades de base...

Junto com ele esteve, durante um ano, o padre Ezequiel Ramin, “um grande amigo, padre jovem, voluntarioso e teimoso”. Ezequiel chegou em 25 de julho de 1984, Dia do Trabalhador Rural. Morreu assassinado exatamente um ano depois. Foi um mártir da terra, igual a tantos outros trabalhadores mortos por lutar por seus direitos.


MISSÃO NO FEMININO


A mineira Nilma do Carmo de Jesus, de 33 anos, tem como Daniel Comboni uma grande paixão: a África. Não é para menos. Desde che chegou à República Centro-Africana, em 1990, fez amizade com pessoas que a tratam como filha. É com essa gente que ela, entre muitas outras coisas lembradas com alegria, aprendeu a língua local, o sango. Para Nilma, aprender a nova língua e entrar na cultura do povo centro-africano foi como nascer de novo.

Experiência semelhante fizeram a espanhola Paula, a portuguesa Lourdes, a equatoriana Elisabeth e a peruana Graciela, que vieram como missionárias para o Brasil. Elas trabalham com o povo indígena Suruí em Cacoal/RO. Vivem numa casa simples e se dedicam principalmente a visitar as aldeias.

Em suas atividades, esforçam-se para não repetir os erros da evangelização tradicional. Dão muita atenção às tradições culturais e religiosas dos indígenas. Uma de suas tarefas é a preparação de agentes de educação à saúde.

Nilma, Paula, Lourdes, Graciela, Elisabeth e muitas outras, de vários países, fazem parte da grande família dos filhos e filhas de Daniel Comboni. Em 1872, com gesto de coragem e ousadia, ele fundou o primeiro instituto feminino exclusivamente missionário na Itália.

Hoje, as missionárias combonianas são quase 2 mil, de 27 nacionalidades, e atuam em 28 paises. Chegaram ao Brasil em 1955, tendo armado inicialmente sua tenda no Espírito Santo. Mais tarde, assumiram trabalhos em São Paulo, Rondônia, Paraná e, desde setembro de 95, no Ceará. Sua principal tarefa é evangelizar com a vida, e não só com as palavras.


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