Colômbia

Não só de coca


Projeto apóia lavradores na busca de alternativas para o cultivo da coca.


Davi em luta contra Golias. Uma minúscula funda contra os poderosos cartéis da máfia da droga. Contra um comércio que todo ano traz para a Colômbia algo em torno de 3,5 bilhões de dólares.

Esse é o modo como poderia ser descrita a campanha "Não só de coca", promovida pelos missionários da Consolata em apoio aos lavradores colombianos.

Mas Davi não está sozinho e desamparado em sua luta contra Golias. A Colômbia, de fato - como sublinham os missionários - não pertence somente aos narcotraficantes, guerrilheiros, esquadrões da morte e exército.

O país é também dos milhões de cidadãos que não são nem traficantes nem delinqüentes. E que sonham com uma vida diferente.


TAREFA DIFÍCIL - O lavrador Daniel Garcia Perez, por exemplo, é um deles. Durante anos, foi produtor e comerciante de coca.

Ele participou em Roma, no mês de fevereiro, de um debate sobre coca e direitos humanos, organizado pelos missionários da Consolata em colaboração com outros grupos preocupados com a situação na Colômbia.

"Tive que lutar contra mim mesmo para renunciar ao cultivo da coca", ele afirma. "Mas depois, quando comecei a colaborar com o programa dos missionários da Consolata, me senti orgulhoso. É como se tivesse encontrado algo que tinha perdido."

Hoje, Garcia Perez ajuda outros lavradores a cair fora da produção da coca e a buscar novas alternativas. Uma tarefa nada fácil: "Uns 97% dos lavradores que cultivam coca foram obrigados a isso, porque o Estado não oferece a eles nenhuma outra chance de ocupação".

"Faz muito tempo que o governo abandonou a região amazônica", escreveram lavradores da Amazônia colombiana, num apelo à Igreja e outras instituições, lido durante o debate pelo padre Giordano Rigamonti, coordenador nacional da campanha.

"Não temos infra-estrutura, assistência, educação e saúde, nem possibilidade de vender os nossos produtos nos mercados", eles dizem. "Isso nos obrigou a optar pelo cultivo da coca, que, embora nos tenha ajudado a sobreviver, trouxe também muita violência, divisão, vícios e maior pobreza."

Os lavradores afirmam, porém, que estão dispostos a "substituir a plantação de coca por produtos lícitos" que lhes garantam a sobrevivência.


MERCADO EM EXPANSÃO - A substituição do cultivo da coca - 70% da qual são produzidos no "último santuário ecológico do país" - deve levar em conta a pobreza dos terrenos e a ausência do Estado na região amazônica. E também as ambigüidades da posição dos Estados Unidos no combate à produção de coca e ao tráfico de cocaína, segundo o agrônomo colombiano Alberto Valencia.

Para o economista Alberto Castagnola, os traços fundamentais do fenômeno das drogas são os seguintes: estreita ligação com os mecanismos econômicos gerais, mercado em expansão, aumento das áreas dedicadas ao cultivo da coca, forte incidência sobre o Produto Interno Bruto (superior a 5% nos Estados Unidos).

E mais: capacidade de criar postos de trabalho (4 milhões só nos Estados Unidos), um fato nada irrelevante no contexto da crise mundial de desemprego.

Tem também o fato - segundo o economista - de que, para o lavrador, a produção de coca lhe rende pelo menos duas vezes mais que a de outros produtos importantes (como pode ser o cacau), e pelo menos dez vezes mais que a produção de milho.

Coca, como explicam os missionários, não é cocaína, "assim como dizem na Bolívia que uva não é a mesma coisa que vinho".

A folha de coca - que é consumida em abundância nos países amazônicos, mastigada, como chá ou em cerimônias religiosas de tradição ancestral -, apresenta numerosas propriedades terapêuticas e nutritivas. Os problemas começam com a sua transformação em pasta de cocaína - a droga maldita. - ADISTA