A violência não é um problema só nosso


A Comissão Nacional de Direitos Humanos informa que no ano de 1997 foram registrados no Brasil 33.644 homicídios. Intelectuais de todas as tendências, psicólogos e pedagogos, gente anônima do povo aparecem cada vez com maior freqüência nos grandes meios de comunicação para explicar ou apenas para dizer que estão indignadas ou com medo. Os seminários e os debates não explicam o porquê desse fenômeno. Atribuem o crescimento da violência à ausência do Estado ou à falência das instituições, ao narco-tráfico e até aos filmes de ação de que está cheia a televisão brasileira.

Uma recente pesquisa da revista norte-americana Newsweek revela, porém, que o problema da violência não é privilégio nacional. É algo que hoje atinge toda a América Latina e inclusive a América do Norte. O nosso continente é aquele onde a violência mais cresce no mundo inteiro. No México, os seqüestros que foram 150 no ano de 1993, chegaram a 580 em 1997. Na Colômbia eles já chagam a 6 por dia.

Quando o tema é assassinato, quem lidera o ranking continental é El Salvador, com cerca de 9 mil casos por ano. É bom lembrar que sua população não passa dos 6 milhões de habitantes, mais ou menos a população do município do Rio de Janeiro.

Mas em números absolutos, são os Estados Unidos aqueles que detêm o mais alto índice de mortes causadas por armas de fogo. O problema é tão grave, que o governo está estudando medidas especiais para melhor controlar a venda e o uso das armas por parte da população.

Do ponto de vista econômico, a indústria da violência tem um dos mais importantes mercados. Dela e do que ela produz em termos de poder de fogo ou de necessidade de defesa por parte da população, se beneficiam direta ou indiretamente milhões de pessoas. Basta pensar em todas as novas atividades que garantem ou ensinam a defesa pessoal e prometem segurança a prova de bala ou de seqüestro. É algo tão sofisticado e profundo que dificilmente não chega à casa até das pessoas mais humildes. Calcula-se que só na cidade do Rio de Janeiro, algo em torno de 1 milhão de pessoas - uma em cada 6 - esteja de alguma maneira ligada à problemática da violência: ou estando a serviço dela nos vários segmentos do crime organizado ou engajando-se no combate, na luta contra ele ou na proteção da população. Um bom negócio, portanto, sobretudo em tempos de recessão e desemprego.

Mas os estudos mostram também que, se é importante o que se produz para provocar ou combater a violência, é muito mais o que se deixa de produzir e arrecadar por causa dela. Hoje o critério da segurança é um dos mais observados pelo capital nacional e internacional na hora de investir o dinheiro.

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