II Consulta de Teologia e Culturas Afro-americanas e Caribenhas São Paulo, 7-11 de novembro de 1994 |
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3. Tarefas.Partindo das realidades afro-americana, afro-caribenha, afro-brasileira, afro- centroamericana, sul-africana e indígena (México), refletimos sobre
3.1. Como continuar uma teologia negra a partir de nossas diversidades.
* Com a liberdade de valorizar as culturas como uma realidade própria.
* A teologia seja um caminhar a partir dos sujeitos próprios de sua cultura.
* Haja uma cosmovisão e uma linguagem própria das culturas negras.
* A partir da Teologia da Libertação deve se dar uma evolução para uma teologia própria para as culturas afro e indígenas.3.2. Propiciar uma agenda teológica.
* Criar congressos, encontros, consultas afro-latino-americanas e caribenhas
* Intercâmbios
* Criar Rede de informação/comunicação entre as nações afro
* Difundir/transmitir através de publicações e produções de revistas ou boletins o que recolhe esta Rede
* Resgatar e valorizar a pessoa humana
* Eliminar toda linguagem discriminatória
* Criar categorias contrárias à discriminação
* Conseguir um projeto político que seja uma alternativa, com a participação de todos os representantes da sociedade (mulheres, homens, famílias, etc.)
* Um projeto político deve ser: representativo, igualitário, multifacético
* Formação de quadros representativos
* Iluminar, aprofundar, complementar, a partir das ciências teológicas, o fato da negritude
* Relação mais profunda com a base
* Aumentar o número dos vocacionados
* Professores que possam ensinar aos negros/índios a partir de suas culturas
* Aumentar sacerdotes dentro das hierarquias que possam contemplar essas comunidades
* Os aspectos litúrgicos contemplem as realidades
* Diminuir a questão homem/mulher dentro da hierarquia
* Fazer que as práticas pastorais dos agentes atendam às Comunidades de Base
* Criar experiências simbólicas que dizem respeito às pessoas das comunidades
* Haja um diálogo concreto a partir das Comunidades de Base.3.3. Inculturação da Teologia
Uma das tarefas para as diversas reflexões teológicas (teologia afro-americana, índia, feminista), é sem dúvida a inculturação da teologia. Desde a década de 70 o tema da inculturação foi progressivamente ganhando espaços nas reflexões teológicas e pastorais. A inculturação associada à evangelização é o tema mais freqüente no documento de Santo Domingo. De certa forma o uso da expressão inculturação não constitui dificuldades para as igrejas, uma vez que está presente nos documentos oficiais e nas reflexões de nível pastoral. Entretanto, o mesmo não se pode dizer do significado que se atribui ao termo.
Pode-se dizer que esta primeira etapa, ou seja nestes últimos anos desde a década de 70, houve avanços no que diz respeito à prática pastoral e à conseqüente reflexão sobre teologia e inculturação. Nas celebrações, por exemplo, foram introduzidos símbolos e expressões característicos das comunidades negras. Mais que isto, buscaram-se formas e maneiras de celebrar de acordo com inspiração própria que vem das culturas afro- americanas e caribenhas.
Entretanto, se esta primeira etapa caracterizada pelo binômio "Teologia e Inculturação" já é uma prática freqüente na pastoral e assimilada na reflexão teológica, surge uma necessidade maior, e sem dúvida mais exigente. A partir das práticas e das experiências de fé das comunidades negras e indígenas, não é suficiente relacionar teologia e inculturação, mas o desafio maior é fazer a "inculturação da teologia".
Na perspectiva da teologia afro-americana e caribenha, a inculturação da teologia implica em mudanças fundamentais, a começar pela mudança de paradigmas. Para tanto é imprescindível entender a inculturação não como uma ação externa protagonizada por um agente externo, ainda que adaptado à realidade em questão, mas a partir do sujeito mesmo da cultura. Neste sentido, a inculturação é a expressão da fé cristã a partir do gênio próprio das culturas e das experiências de Deus dos povos afro-americanos e caribenhos.
Neste sentido, emerge como exigência da inculturação não só o uso das expressões culturais, mas reconhecer como legítimas as manifestações religiosas que procedem das culturas dos povos afros e que revelam a profunda sintonia com a Deus da vida contra os ídolos de morte. A inculturação vai além do simbólico e implica na relação original dos povos com o mundo e com Deus.3.4. Superar dogmatismos.
Se no âmbito pastoral, na medida em que vai havendo uma maior aproximação entre fé cristã e a recuperação dos elementos fundantes das culturas afro-americanas e caribenhas, percebe-se um avanço, o mesmo não ocorre quando a apreciação da inculturação é feita a partir de dogmas e cânones preconcebidos. O instrumental melhor para apreciar e deixar-se desafiar na perspectiva da inculturação não é, certamente, através de uma visão dogmática disciplinar e juridicista, mas através do carisma e da teologia do Espírito.
A inculturação da teologia vai exigir que se privilegie a fé cristã em relação às religiões cristãs. A fé cristã é abrangente, embora radical, no que diz respeito ao Deus da vida como princípio ético fundamental. As religiões são por natureza mais complexas e necessitam de constantes avaliações para expressarem coerentemente aquilo que é indicado pela fé. Portanto, para avançar na questão da inculturação da teologia, particularmente referida às experiências das comunidades negras, é fundamental superar uma visão dogmática, ou pelo menos entender o dogma de maneira libertadora ao invés de restritiva.4. Alguns pontos para a agenda da teologia afro-americana.
Embora as teologias (afro-americana, índia, feminista) tenham suas temáticas específicas, por razões óbvias, é fundamental que haja um diálogo, mais que isto, uma implicação com a teologia convencional utilizada pelo magistério das igrejas, elaborada pelos teólogos clássicos, e ensinada nos institutos de teologia. Bem entendida, esta relação poderá ser reciprocamente proveitosa.
Na ótica da inculturação da teologia, a experiência emergente nas comunidades negras questiona a formalidade e o alcance das áreas teológicas desde a reflexão bíblica até a pastoral.
4.1. Inculturação e Bíblia
A maneira como os biblistas latino-americanos têm utilizado a Bíblia tem sido de grande significado e interesse para a comunidade negra. Sobretudo pelo fato de poder reconhecer-se, ao menos em parte, nesta original hermenêutica bíblica. Entretanto, percebe-se que não é o suficiente. É preciso assumir os mitos cosmogônicos próprios dos povos afro-americanos, seus provérbios, suas histórias orais e perceber desde aí a original manifestação de Deus. É preciso descobrir a Bíblia do povo negro, com suas propostas humanitárias, com os relatos dos sofrimentos e resistências em situação de diáspora e de cativeiro.4.2. Inculturação e Revelação
Por certo que a revelação para a fé cristã está plenificada no Cristo. Entretanto é necessário continuar desvelando as multiformes manifestações de Deus como caminhos e etapas originais, onde cada povo e cultura buscam o sentido último de todas as coisas. Deus mulher, Deus índio, Deus negro. Este Deus multifacetário caracteriza-se como Deus da vida.4.3. Inculturação e Ética
Ocorre não só refletir a moral enquanto atos isolados, mas sobretudo avaliar os processos à luz do princípio ético. Sem cair em privacionismos, é fundamental que as práticas sejam analisadas em seus contextos e sob o facho de luz da utopia humanizante.4.4. Inculturação e Sistemática
A maneira como os tratados teológicos estão organizados e propostos, não é aleatória; traz embutida uma intencionalidade. Inclusive os pressupostos desta sistematização, no que diz respeito ao instrumental filosófico, por exemplo, já direcionam para determinados objetivos. Na perspectiva da inculturação da teologia, implica numa transformação profunda da linguagem e do método teológico.4.5. Inculturação e Eclesiologia
Na área da eclesiologia as exigências da inculturação da teologia são particularmente desafiadoras. É preciso, por exemplo, ir além das notas da igreja católica e recuperar a dimensão universal da catolicidade. Atitude semelhante deve ocorrer nas demais igrejas cristãs. Igualmente é preciso firmar cada vez mais a circularidade própria de uma igreja ministerial, de comunhão e de participação. Entender "ecclesia" não como dimensão formal e estranha às organizações emergentes, mas a partir das relações de serviços vigentes nas culturas.
Participantes da Oficina 3Marcos Rodrigues Da Silva (Coord.)
Afonso MĒ Ligório Soares
Antônio Aparecido da Silva
Blanca Irma Clarke
Eleazar López Hernández
Jacquelyn Grant
Luiz Fernando de Oliveira
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