MUTIRÃO PELA VIDA:
NOVO JEITO DE LER A BÍBLIA

JESUS DE NAZARÉ: BOA NOTÍCIA DE DEUS PARA OS POBRES


Os Evangelhos, em geral, são conhecidos por todos nós. Temos ouvido tantas vezes. Ocuparam e ocupam um lugar preferencial nas comunidades. Não nos criam nenhuma surpresa!


Recuperar a capacidade de admiração


Os Evangelhos são considerados textos simples e populares. No entanto, no seu estudo se descobre uma complexidade muito maior do que a de qualquer outro escrito do Novo Testamento. Por exemplo, se abrimos o livro do Apocalipse descobrimos logo o autor e os destinatários: João às sete igrejas... (Ap 1,4.11). Algo semelhante acontece com as cartas de Paulo. Conhecemos seu autor e seus destinatários. Esses escritos se dirigem a comunidades concretas, mas os Evangelhos: a quem se dirigem? Os evangelhos nada afirmam, de maneira direta, nem sobre os seus autores, nem sobre os seus destinatários, nem sobre as circunstâncias que os motivaram. Parecem, à primeira vista, uma carta sem destinatário e sem assinatura, e isso deve ter o seu motivo.


Acontecia no país de Jesus


Era uma vez um país, longe, muito longe daqui. Todos celebravam as festas. Um dia chegaram cavaleiros, muitos, aos milhares, pareciam nuvens de gafanhotos, e conquistaram aquela terra. A partir daquele dia, as crianças deixaram de brincar na rua. Ficaram quetinhas em casa. Esqueceram-se de empinar arraia. De repente, não aprontavam mais nem pintavam o sete. A alegria da família ficou menor. Também às comunidades chegou uma tristeza que cresceu tanto que as pessoas começaram a curvar-se. Tudo começou com os jovens e adultos. E essa espécie de doença pegou. Todo o mundo caminhava olhando pro chão. Ninguém enxergava ninguém. Ninguém tinha a coragem de levantar a cabeça. Alguém achava que até devia existir uma lei para que todos se comportassem desse jeito. Respiravam com dificuldade, mas mesmo assim continuaram olhando para o chão. Esqueceram-se de sorrir: para que sorrir, se ninguém podia ver o rosto do outro? Esqueceram as histórias que os antepassados contavam nas praças. A festa sumiu da cabeça dos jovens.


Mas num pequeno povoado havia um garotinho que crescia por dentro, que contemplava as situações de sofrimento. Sentia também ele a dor na sua casa. Os impostos atingiam a todos. Pedreiro, que nem ele, pagava direitinho as taxas. E entre encomenda e biscate refletia com seus botões: "As coisas não podem continuar dessa maneira. Assim não dá. Não temos nem ar para respirar. Deus vai dar um basta em tudo isso!". E aquele pedreiro - carpinteiro que ia de aldeia em aldeia começou a dizer: "Agora chega! O tempo se cumpriu. O reino de Deus está acontecendo: Levantem a cabeça, respirem e cantem, está perto a vossa libertação" (Lc 19,28). E todo o mundo sentiu no corpo aquele vendaval de vida e liberdade. Começaram a convidar o vizinho a "levantar a cabeça", e a cantar na praça e na comunidade: Levante a cabeça, irmão! Levante a cabeça, irmã! A virada do Reino chegou! Acredite no Evangelho! (Mc 1,14-15).


E a praça voltou a ser do povo e ganhou nome novo: "Praça das crianças!" Outros a chamavam "Praça da Alegria" e outros chamavam de: "Sonho de Liberdade!". Assim acontecia uma vez em Nazaré, na Galiléia, no país de Jesus. Aquela Boa Notícia se espalhou além do Brasil! E por toda região se escuta uma música e se canta ate hoje um refrão: "Levante a cabeça, comece a pensar, coloque cada coisa no seu devido lugar!"


Jesus: Evangelho de Deus


O Evangelho, antes de ser um livro, é uma pessoa. Refere-se à pessoa de Jesus Cristo: Jesus = Evangelho = Boa Notícia para os pobres. Jesus revela o segredo do coração de Deus. A palavra e gestos de Jesus foram contados por homens e mulheres que ouviram suas palavras e contemplaram seus gestos, que o acompanharam pelas estradas da vida e do Reino, que comeram com Ele. Assim, a vida e a prática libertadoras de Jesus não foram esquecidas. As pessoas que o seguiram pelos caminhos da Galiléia, "desde o batismo de João"(At 1,21-22) até Jerusalém foram memória viva nas comunidades. E de Jesus Ressuscitado receberam a Força para serem suas Testemunhas: "Jesus venceu e vence a morte e a dor e agora vive! Ressuscitou! Aleluia!" (At 1,8; 10,34-43) O Rosto dele podemos descobri-lo na vida dos pequenos e excluídos (Mt 25,31-46), e nos Evangelhos que são memória e espelho dessa Boa Notícia. O Sonho de Jesus não acabou. Ele continua vivo e presente nas comunidades e na missão!


Jesus: vendaval de vida e liberdade


Alguém disse que a novidade radical de Jesus não é simplesmente evangelizar, mas sim "evangelizar os pobres". Isso foi uma reviravolta sem igual! Os Evangelhos são essa memória. São como espelho da vida e mistério de Jesus. Temos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. São como quatro espelhos, colocados em diferentes posições diante da pessoa e da prática e do segredo da vida de Jesus de Nazaré. Eles nos transmitem o Rosto de Jesus. Ao mesmo tempo, olhando para esses espelhos descobrimos, como no fundo do espelho, pessoas e comunidades que acreditaram Nele.


O Evangelhos nos oferecem o rosto, quer dizer, a identidade, prática, atitudes, gestos, sentimentos e opções de Jesus. Ao mesmo tempo oferecem o rosto dos discípulos e discípulas, o rosto das Comunidades. A correnteza dessa vida não se pode engaiolar. Assim também a riqueza da pessoa e do mistério de Jesus, não se deixa "encaixar" nem colocar nos eixos, dentro de esquemas estreitos. Jesus rompe todos os esquemas e moldes. O vinho novo do Reino racha os barris velhos. O pano novo rasga a roupa velha (Mc 2,21-22). O pessoal sabia muito bem de onde ele vinha. Conhecia sua família, que vinha da periferia, da Galiléia das nações (Mt 4,12-16), terra desprezada, por sua mistura de raças, línguas, culturas e religiões... E não acreditaram Nele. Era desconcertante o seu estilo de vida. A sua pregação era aquela de alguém que tem autoridade, sem citar autoridades (Mc 1,22). Ele que era Luz no meio da noite para o povo que tinha olhos e coração abertos para reconhecer a visita de Deus. Muitos se chocaram contra Jesus, a pedra angular, e a rejeitaram (At 4,11) achando, como Natanael, que de Nazaré não podia vir coisa boa (Jo 1,46).


O pessoal vai dizer de Jesus que come e bebe e que até exagera nessas coisas. O que sabemos, porém, é que Jesus conta histórias para acordar e é amigo de pecadores e come com eles porque tal é o modo de se comportar de Deus! Porque é o sinal de que o Reino de Deus chegou!


O pessoal vê apenas o dedo que aponta para algum lugar e fica nisso. Não descobre a direção na qual o dedo de Jesus aponta: o Reino de Deus! Esse estilo de Jesus provoca, questiona e interpela. Jesus dialoga, escuta e proclama uma novidade de vida que não cabe em velhos esquemas, racha os odres, estraçalha o pano criando um rasgo maior. Por isso quem acolhe esse Vento novo renasce (Jo 3,5-8) e tem a força e a audácia do Espírito, que faz novas todas as coisas. Quem acolhe essa Boa Notícia do Reino acaba se parecendo com o vento, que ninguém sabe de onde vem e para onde vai. Acaba entrando numa aventura onde "não há mais caminho trilhado" e onde está despontando um mundo novo. Que não tem fila para seguir atrás, mas onde somos convidados, a ser "o primeiro da fila", a ser "a primeira a arregaçar as mangas". Estamos diante de um caminho inédito por onde se chega à Vida e à Luz. O Caminho ou a Estrada de Jesus que pode ter outro nome - repetido uma, duas e até três vezes - o Caminho da Cruz (Mc 8,27-10,52).

Justino Martínez Pérez


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