Meninos e meninas trabalhadores rurais participaram, em Brasília, no mês de outubro, do seu segundo encontro nacional. Brincaram à vontade. Também contaram da vida difícil que levam e sonharam juntos com um Brasil diferente.
Malu Maranhão
Malu Maranhão é assessora de comunicação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Nacional.
3 milhões
de crianças trabalham no campo, hoje, no Brasil, segundo estimativas. Representam 25% da mão-de-obra empregada no setor agropecuário e extrativista.
Parte delas trabalha em terra própria, no sistema de agricultura familiar, o que não representa nenhuma garantia de que todas possam ir à escola e tenham tempo para ser crianças.
Muitíssimo pior é a situação dos trabalhadores-mirins assalariados, mão-de-obra barata e explorada além do limite do suportável. Trabalham em canaviais, no sisal, em carvoarias, seringais, quebrando coco babaçu... A maioria não freqüenta a escola e cumpre jornadas de trabalho exaustivas até para os adultos, em atividades que comprometem a saúde e deixam seqüelas.
Uma prova disso foram os resultados dos exames médicos realizados no primeiro dia do encontro: 80% das crianças apresentaram problemas de saúde. Cerca de 40% delas têm peso e altura muito abaixo da média para a idade. Sofrem de conjuntivite, parasitose intestinal, anemia e desvio da coluna vertebral. Dezoito necessitam de óculos.
As máquinas rudimentares produziram 1.600 mutilados na região sisaleira baiana, em 1991. O contato com o suco ácido do agave (planta de onde se extrai o sisal) provoca feridas nos braços e pernas. Um grande número de crianças ficaram cegas por perfurações provocadas pelas folhas pontiagudas da planta. Outras têm asma devido à névoa tóxica, permanente nas batedeiras de sisal, e da qual se protegem apenas com um pano no rosto.
No Nordeste, crianças e adolescentes representam 30% da força de trabalho do setor canavieiro, numa das atividades consideradas pelos médicos uma das mais penosas e perigosas da agricultura. São 70 mil nos canaviais de Pernambuco, entre 7 e 17 anos, e 50 mil em Alagoas, entre 6 e 13 anos. Cumprem, em média, jornadas de doze horas de trabalho, ganham de 2 a 6 reais por semana e chegam a cortar 2,4 toneladas de cana diariamente.
Dos pequenos canavieiros de todo o Brasil (eram 57 mil em São Paulo, em 1990), cerca de 41% não recebem remuneração, 59% não estudam e, dos que chegam a freqüentar a escola, 24% abandonam antes de terminar o antigo primário.
Veja também:
Para maiores informações, ou para receber os textos completos, faça contato com:
Colaboração da:
Biblioteca Comboniana Afro-brasileira. E-mail: comboni@ongba.org.br |