O risco de pensar sempre no atacado é evidente, sobretudo quando a proposta é tão ousada quanto revelar "o rosto da Igreja" no final de mais um ano.

Quo vadis, a matéria de capa desta edição, sobre o momento atual da Igreja católica, fala de "perplexidade", "incertezas", "compasso de espera" e coisas semelhantes. Não é privilégio da Igreja: a sociedade e o mundo passam por um momento de indefinição, e é preciso estar atento a isso quando o objetivo é encontrar o rumo, acertar o caminho.

A tentativa de identificar as grandes forças que atuam e moldam um momento particular da história envolve, porém, um risco. É que a vida - também a vida cristã - não acontece no atacado, e sim no concreto, no varejo. São milhões e milhões de pequenas histórias, atos, compromissos. São lutas grandes e lutas pequenas. São esperanças e sonhos muitos, também lágrimas e dores.

Embalada no sonho de Natal - a criança que nasce frágil, num canto desconhecido, na pobreza, Deus se fazendo gente como nós -, SEM FRONTEIRAS deseja prestar um tributo a todos os pequenos, esquecidos, excluídos. Gente que vai levando a vida do jeito que pode, sofrendo muito, às vezes, e sonhando com dias melhores, alegria e salvação, sempre.

E é pensando desse modo que a nossa equipe vibra e se alegra, em Prêmio para a dignidade de um povo, sobre o Nobel da Paz 96: um povo pequeno, esquecido, mas cheio de garra e disposto a não negociar a vida, a liberdade, a dignidade - o povo do Timor Leste -, vira símbolo mundial de paz, na pessoa do bispo Ximenes Belo e do militante político Ramos-Horta.

O leitor descobrirá esse mesmo desejo, e essa mesma atenção para com os últimos, na matéria sobre as crianças do campo no Brasil: Do berço para o batente.

Também na matéria sobre o Chile, o novo modelo dos pontífices maiores do sistema neoliberal: Uma mercadoria chamada vida, sobre a saúde e a previdência.

Ou, ainda, em Carta ao Papai Noel, na conversa franca com esse símbolo controvertido do Natal, que joga para escanteio o Menino, a utopia maior, a salvação que o mundo espera.

Que o Natal e o Ano Novo sejam de fato muito felizes. São os votos de toda a equipe aos nossos leitores e leitoras, seus familiares, amigos. Votos, também, para o Brasil e o mundo.

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    31 de janeiro de 1997


  • Ano 1996