1. Histórico
Em novembro de 1995, a empresa baiana Litoral Sul Maricultura Ltda. (Norberto Odebrecht), cumprindo sua missão de comprovar a possibilidade de criação de camarões em gaiolas, concedeu à FUNDIPESCA, durante o período de 5 anos, o Projeto Criação de Camarões em Gaiolas, com toda a infraestrutura operacional.
Norberto Odebrecht havia trabalhado no projeto 7 anos, sendo que, nos dois últimos anos, conseguiu o apoio do famoso instituto francês, INFREMER, especialista em criação de camarões marinhos no mundo inteiro. A finalidade do INFREMER foi pesquisar a possibilidade de criar camarões em gaiolas e estudar sua viabilidade econômica.
Durante sua administração, a FUNDIPESCA se compromete a implantar este projeto em parceria com os pescadores ribeirinhos da bacia do Rio Serinhaem, em Ituberá - Bahia.
2. Apresentação
Produzir camarão marinho em viveiros flutuantes é como criá-lo em seu "habitat" natural, ao contrário do sistema tradicional, que necessita da escavação de tanques para alojar os crustáceos. Nas gaiolas, os camarões convivem com todas as condições naturais existentes.
A principal diferença entre a criação em gaiolas, em regime de parceria, e o sistema em terra é que o primeiro gera oportunidades para a população que vive em casas simples à beira dos rios e manguezais, num universo bem particular, caracterizado pela canoa como único meio de locomoção. Ao requisitar mão-de-obra intensiva, o modelo de criatório em gaiolas ocupa parte do tempo destinado ao trabalho produtivo dos pescadores e seus familiares, contribuindo para melhorar as suas condições materiais e também morais. Ajuda, ainda, a fixar o homem na própria região, desestimulando a sua saída em busca de centros urbanos mais adiantados, freiando o êxodo rural. Já o modelo tradicional de cultivo de camarão requer, ao invés de mão-de-obra, o aporte maciço de capital.
O formato retangular da estrutura é de 2,70x6,00m, e as gaiolas/rede medem 2,00x2,50m (hoje), ficando o módulo, de duas gaiolas 2,00x5,00m de rede. As suas laterais e o fundo são constituídos por redes especiais, para promover a permanente renovação da água, e sustentados por materiais facilmente encontrados na região, como tubos de PVC e caibros de madeira. A altura total chega a um metro, sendo que metade fica fora d’água para servir de rede de proteção aos saltos dos camarões.
O cultivo tem início com a introdução de camarões minúsculos, as post-larvas, nos viveiros berçários, num trabalho que sempre começa de manhã cedo ou no final da tarde. Para cada conjunto de gaiolas (engorda) há um viveiro/berçário (pré-engorda), que recebe, em média, 10.000 post-larvas, produzidas em laboratório.
Passados 60 dias, as post-larvas alcançam um desenvolvimento satisfatório, atingindo a fase de camarões juvenis. Estes são levados dos berçários, onde se desenvolveram, para os viveiros de engorda propriamente ditos. A transferência, como se denomina essa etapa de produção, também deve ser feita no início ou no fim do dia e requer a presença de mais de uma pessoa para auxiliar o pescador, geralmente alguém da sua própria família.
As gaiolas são dispostas, geralmente, em conjuntos com dez módulos flutuantes, sendo que cada pescador toma conta de 4 conjuntos de engorda e 1 conjunto de pré-engorda (6 módulos), formando um grupo familiar, num total de 46 módulos flutuantes.
Nos viveiros de engorda, os camarões são alimentados, duas vezes ao dia, de ração composta basicamente por farinha de peixe e farelo de soja. As algas que se fixam nas redes, formando verdadeiras florestas, atraem moluscos e pequenos crustáceos, que ajudam na dieta alimentar dos camarões. Em volta das gaiolas, existe uma enorme variedade de peixes, atraídos pelos peixes menores, que são pescados e fornecidos aos camarões, diminuindo o consumo de ração. Ao final desse estágio, os camarões ultrapassam 15 centímetros e pesam o equivalente a 15 gramas cada.
A despesca, fase culminante do sistema de criação, é feita 120 dias depois das post-larvas terem sido introduzidas no viveiro de engorda. Da canoa onde se encontra, o pescador remove a rede de cada viveiro, coleta os camarões e os coloca em caixas contendo água doce e gelo. Depois é só conduzi-los para a estação de apoio do projeto, na Barra do Serinhaém, para armazenagem.
Já foram testadas cinco espécies de camarão. Os tipos Penaeus pennicilatus, originário da Ásia, e o Penaeus vannamei, encontrado na orla sul-americana voltada para o Oceano Pacífico, se adaptaram bem às condições de criação. Mais cultivado na América Latina, o P. vannamei obtém excelente nível de crescimento e chega a alcançar 18 centímetros na época da despesca. A criação desta espécie de camarão tem seu maior problema na mortalidade em berçários e obtenção de post-larvas, já que a reprodução do P. vannamei exige alta tecnologia e atualmente existe apenas uma empresa reproduzindo-o na Bahia. O P. pennicilatus não cresce tanto quanto o P. vannamei mas é de fácil obtenção de post-larvas, já que a reprodução desta espécie é de fácil manejo, sendo a Bahia Pesca a empresa que reproduz e difunde esta espécie. As experiências com o Penaeus stylirostris, que tem a sua origem e principal ocorrência no litoral ocidental da América do Sul, demostraram que há um alto índice de mortalidade. Duas espécies nativas, existentes na costa brasileira - o Penaeus schmitti, conhecido como camarão branco, e o Penaeus aztecus -, não apresentaram, no primeiro momento, taxas de crescimento significativas.
Os camarões criados em gaiolas flutuantes em seu próprio meio natural, com renovação constante de água e, conseqüentemente, em altas densidades, atingem produtividade elevada, como pode ser observado no quadro a seguir. Além disso, o excelente aspecto visual dos camarões ali criados contrasta com aqueles produzidos pelo método tradicional, que, ao serem capturados, levam consigo resíduos de lama tóxica acumulada no fundo dos viveiros construídos em terra.
Resultados Comparativos
INDICADOR | BAHIA-BRASIL | AMÉRICA-LATINA (SEMI-INTENSIVO | ÁSIA (INTENSIVO) | |
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CRIAÇÃO DE CAMARÃO MARINHO EM GAIOLAS FLUTUANTES (INTENSIVO) | SISTEMA TRADICIONAL EM TERRA (SEMI-INTENSIVO) | |||
PRODUTIVIDADE (kg/ha/ano) | 22.500 | 1.500 | 2.000 | 20.000 |
O rendimento do camarão marinho nas gaiolas tem aumentado desde que foram iniciadas as pesquisas, em 1992. Atualmente, a produtividade média se situa na faixa de 22,5 toneladas por hectare/ano. Esse desempenho é quinze vezes superior à média do sistema tradicional, que é de 1,5 toneladas por hectare/ano.
A intensificação das densidades de criação, acoplada a uma multiplicação dos ciclos anuais, permite realizar, em certas zonas intertropicais do sudeste da Ásia ou América Latina, produções de camarões que podem ser superiores a 20 toneladas por hectare de viveiros e por ano. Parece, todavia, de maneira constante, que este tipo de aqüicultura não pode ser perseguido indefinidamente num mesmo local: os rendimentos de produção baixam, podendo atingir valores nulos. É assim que milhares de hectares de viveiros de criação não estão mais em processo de exploração, porque a produtividade e, por conseguinte, a rentabilidade aí tornou-se nula. Parece que esta baixa produtividade se deve a uma deterioração da qualidade do meio ambiente: meio ambiente constituído pelos viveiros de criação, mas também ambiente constituído pelo próprio sítio aqüícola ( baía, estuário, lagoa...). Esta deterioração da qualidade do meio ambiente se concretiza mais freqüentemente por um acúmulo de matéria orgânica (fezes, granulados não consumidos) sobre o fundo dos viveiros, ou na água do sítio aqüícola. No entanto, para a aqüicultura em viveiros de terra em meio tropical, os aportes de matéria orgânica não constituem a única fonte de deterioração do meio ambiente. Na verdade, na maior parte do tempo, os viveiros são escavados após erradicação de grandes áreas de manguezal. Isto tem por conseqüência suprimir o filtro natural, entre continente e meio marinho.
As criações em gaiola flutuantes apresentam pois múltiplas vantagens no plano ambiental, em comparação com aquilo que se pode observar para os viveiros de terra.
3. Execução
3.1. Estrutura de Produção
Módulo de Produção
Cada módulo é constituído por uma estrutura flutuante, formada por 2 tubos de 6m de comprimento com 100mm de diâmetro em PVC, obturados em suas extremidades, 3 espaçadores de madeira (300cm x 6cm x 4cm), que servem para a conecção de vergalhões de ferro com 1m de comprimento e diâmetro de 5/8", servindo para a fixação das gaiolas (redes), mantendo-as em forma de paralelepípedo retangular.
Gaiola
Cada gaiola é composta de uma rede (fio de poliéster coberto de PVC), com malha de 0,5mm para pré-engorda e 5mm para a engorda, formando um paralelepípedo retangular de 2,5 de comprimento por 2,0m de largura e 1,0m de altura. As bordas superiores e inferiores são reforçadas com cabos de polipropileno com 4mm de diâmetro, que também servem para a sua fixação aos vergalhões da estrutura flutuante.
Conjunto Familiar
Grupo de pré-engorda
A 2 módulos |
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B 2 módulos |
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Grupo de Engorda
A1 10 módulos |
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A2 10 módulos |
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B1 10 módulos |
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B2 10 módulos |
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Situação em campo
Engorda
Pré-engorda
Dimensão do Projeto
O Projeto pretende atingir 50 famílias, totalizando 2.300 módulos.
Espécies
Utilizará 2 (duas) espécies de camarão (Penaeus penicillatus e P. vannamei), para que se possa rátificar a hipóte do P. vannamei como sendo a espécie que possui viabilidade econômica, observando a regularidade do fornecimento de post-larvas, crescimento em período frio (sazonalidade) e sensibilidade às doenças de cultivo.
Densidade
Pré-engorda - Será utilizada uma densidade de 5.000 post-larvas por gaiolas, totalizando 10.000 por módulo, sendo esperada uma mortalidade de 50%.
Engorda - Será utilizada uma densidade de 750 juvenis por gaiolas (150 animais/m2), totalizando 1.500 por módulo.
Alimentação
Será fornecida aos camarões de pré-engorda: ração tipo-A, crescimento, com proteína bruta (min.) - 37%, e aos camarões de engorda: ração tipo-C, engorda, com proteína bruta - 33%.
3.2. Beneficiamento
A atividade de beneficiamento consiste em:
3.3. Comercialização
Cada módulo produz aproximadamente 22,5 kg de camarão, ou seja 2,25 kg/m2.
Fonte: Relatório IFREMER 02/1995
Para maiores informações envie E-mail para: funpesca@zumbi.ongba.org.br